MST invade fazendas da Suzano na 1ª onda de ações no novo governo Lula
Por José Maria Tomazela
Integrantes do Movimento dos Sem Terra invadiram quatro fazendas no sul da Bahia, das quais três pertencem à fabricante de papel e celulose e servem ao cultivo de eucalipto; proprietários citam danos e apresentam ações de reintegração de posse.
Cerca de 1,7 mil integrantes do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) invadiram três fazendas de cultivo de eucalipto da empresa Suzano Papel e Celulose, nos municípios de Teixeira de Freitas, Mucuri e Caravelas, no sul da Bahia. Uma quarta área, a Fazenda Limoeiro, de outro proprietário, foi ocupada no município de Jacobina. A empresa e o proprietário entraram com ações de reintegração de posse.
A entrada dos invasores começou na segunda-feira e prosseguiu até a tarde desta terça, 28, segundo a Polícia Militar da Bahia. Os sem-terra, na maioria mulheres, chegaram em vários comboios que saíram de assentamentos da região e de outros locais do Estado. A Suzano informou que suas propriedades foram danificadas durante as invasões.
Foto Coletivo de Comunicação do MST na Bahia
Essas foram as primeiras ocupações em massa do MST desde o início do governo Lula. As invasões mobilizaram sobretudo mulheres em alusão ao 8 de março, Dia Internacional da Mulher. “Apesar de termos expectativas com o governo Lula em relação à reforma agrária, o MST acendeu o alerta amarelo diante da demora do governo federal em nomear a presidência do Incra (Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária)”, disse Eliane Oliveira, da direção nacional do MST na Bahia.
Fazendas produtivas
As invasões contrariam o discurso do hoje presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Durante a campanha eleitoral, ele disse que o MST não ocupava propriedades produtivas, como são as áreas da Suzano. Segundo Eliane Oliveira, as terras da empresa são “latifúndios de monocultura de eucalipto”. “O território baiano sofre com a destruição sistemática dos recursos naturais, como envenenamento do solo e dos rios. As famílias foram expulsas de suas terras e vivem na vulnerabilidade social das periferias das cidades, nas encostas e nas margens de estradas”, disse.
Em sua página oficial, o MST avisa que as ações vão continuar, sob o lema “O agronegócio lucra com a fome e a violência. Por terra e democracia, mulheres em resistência”, e afirma que pretende negociar com os governos federal e estaduais a retomada da reforma agrária, além de um projeto para a agricultura familiar camponesa. “Vamos retomar a luta pela terra com as ocupações de terras, marchas, formação com as mulheres, ações de solidariedade, com doações de alimentos e doações de sangue”, afirmou Margarida Silva, da coordenação nacional do MST.
Destruição
A Suzano já foi alvo do MST em outras ocasiões. Em 2015, durante o governo Dilma (PT), cerca de mil mulheres invadiram a FutureGene, empresa de pesquisa de genética vegetal do grupo. No ocasião, os militantes destruíram milhares de mudas de eucalipto geneticamente modificado. Em 2007, no segundo governo de Lula, o MST invadiu uma fazenda e destruiu o eucalipto da empresa em Itapetininga, também no interior paulista.
Militantes do MST destroem mudas de eucalipto transgênico na unidade da Suzano em Itapetininga. Foto MST 05-03-2015
A Suzano confirmou que três áreas produtivas de sua propriedade na Bahia foram invadidas e danificadas ilegalmente pelo MST. “Tais atos violam o direito à propriedade privada e estão sujeitos à adoção de medidas judiciais para reintegrar a posse dessas áreas”, disse a empresa, em nota.
”A companhia reitera que cumpre integralmente as legislações ambientais e trabalhistas aplicáveis às áreas em que mantém atividades, tendo como premissas em suas operações o desenvolvimento sustentável e a geração de valor e renda, reforçando assim seu compromisso com as comunidades locais e com o meio ambiente”, afirmou. Segundo a Suzano, apenas no sul da Bahia, a empresa gera aproximadamente 7.000 mil empregos diretos, mais de 20.000 postos de trabalho indiretos e beneficia cerca de 37.000 pessoas pelo efeito renda, conforme metodologia adotada pela Fundação Getulio Vargas (FGV) e pela Indústria Brasileira de Árvores (IBÁ).
“Além disso, por meio de seus projetos sociais, programas e iniciativas na região, a empresa alcançou mais de 52.000 participantes diretos e indiretos, em 82 comunidades e mais cinco sedes municipais.” A companhia “reconhece a relevância da sua presença nas áreas onde atua e reforça seu compromisso por manter um diálogo aberto, transparente, de maneira amigável e equilibrada. Também reafirma a confiança nas leis e no estado brasileiro, na busca pela defesa e preservação dos direitos de quem produz, trabalha e, com isso, gera e compartilha valor com toda a sociedade”, concluiu a nota.
A reportagem entrou em contato com o governo federal e com o Ministério do Desenvolvimento Agrário e Agricultura Familiar (MDA), mas ainda aguarda resposta (Estadão.com, 1/3/23)