Mundo enfrenta enorme excedente de açúcar
Os estoques de açúcar deverão atingir um recorde e, devido à desaceleração do crescimento da demanda e ao aumento da produção, a commodity registra o pior desempenho de 2018.
Os consumidores estão cada vez mais cautelosos com o impacto do açúcar na saúde, e empresas como a fabricante de frutas enlatadas Del Monte Foods e a distribuidoras de doces Mondelez International estão promovendo produtos com menos açúcar. Embora o consumo global continue aumentando, o ritmo de crescimento diminuiu para uma média de 1,4 por cento nas últimas safras, contra 1,7 por cento na última década, segundo a empresa de pesquisa Green Pool Commodity Specialists.
O fenômeno ocorre em meio ao crescimento da produção, especialmente na Índia, a segunda maior produtora do mundo. Os produtores da Tailândia também estão colhendo safras enormes. Os estoques mundiais deverão atingir o maior patamar da história nesta temporada e continuarão perto do recorde no ano que vem, segundo o Departamento de Agricultura dos EUA. Os futuros do açúcar em Nova York já caíram 25 por cento em 2018. É a maior queda do Bloomberg Commodity Index, que monitora os retornos de 22 componentes.
"A menos que ocorra um problema climático, aparentemente não há qualquer esperança de que os otimistas vejam uma alta sustentada", disse Donald Selkin, estrategista-chefe de mercado da Newbridge Securities em Nova York, que administra cerca de US$ 2 bilhões. "Todos estão tentando eliminar o açúcar e os produtos açucarados. Vemos isso nos supermercados e nas mercearias. A demanda continuará mais baixa que nos últimos anos. O preço está fadado a continuar baixo por um tempo."
Na segunda-feira, o açúcar bruto para entrega em outubro caiu 1 por cento, para 11,4 centavos de dólar a libra, na ICE Futures U.S. em Nova York.
Apostas de fundos
Os investidores se preparam para novos declínios.
No período de uma semana encerrado em 3 de julho, os gerentes de recursos mais que triplicaram suas posições vendidas líquidas, ou a diferença entre apostas no aumento e no declínio do preço, para 54.736 futuros e opções, segundo dados divulgados na segunda-feira pela Comissão de Negociação de Futuros de Commodities dos EUA (CFTC, na sigla em inglês). A mudança ocorreu após aumento de 15 por cento nas posições vendidas, enquanto as apostas compradas caíram quase 7 por cento.
Após uma colheita gigantesca, a Associação de Moinhos de Açúcar da Índia afirmou em 3 de julho que o setor de processamento tenta ampliar as cotas de exportação para um recorde de 6 milhões de toneladas. O grupo estima a produção do país em até 32 milhões de toneladas, um aumento de 58 por cento em relação ao ano anterior. Enquanto isso, no Brasil, devido ao aumento dos estoques de etanol e à queda dos preços do biocombustível, os usineiros podem transformar uma fatia maior da safra de cana em açúcar.
É claro que as colheitas ainda podem fracassar, especialmente se o clima for pior do que o esperado. As condições de seca afetaram os canaviais do Centro-Sul do Brasil, a maior região produtora do mundo. E a possibilidade de que ocorra um padrão climático El Niño ainda neste ano também pode provocar danos às plantações asiáticas (Bloomberg, 10/7/18)
Informa prevê superávit de 7,2 mi t de açúcar na safra global 2018/19
A área de inteligência em agronegócio da Informa projetou nesta terça-feira um superávit de 7,2 milhões de toneladas de açúcar na safra global 2018/19, ante um excedente de 7,3 milhões em 2017/18.
"O aumento inesperadamente forte na produção de açúcar da Tailândia e da Índia nesta temporada elevou o superávit global em 2017/18 significativamente acima das expectativas iniciais", disse a empresa, que inclui os analistas de açúcar da F.O. Licht.
"As projeções atuais apontam para outro grande superávit em 2018/19, o que sugere que os preços (globais) permanecerão sob pressão no futuro próximo."
Os preços do açúcar na União Europeia (UE) também devem permanecer baixos devido a um aumento na produção após a abolição de cotas.
A produção da UE em 2017/18 foi estimada em 19,5 milhões de toneladas, 21 por cento acima dos 16 milhões da temporada anterior (Reuters, 10/7/18)