23/04/2020

Na contramão, trigo mantém preços elevados

Na contramão, trigo mantém preços elevados

Legenda:Plantação de trigo no norte do Paraná; produto mantém valores nominais recordes no país - Mauro Zafalon - Folhapress

 

Mesmo com produção interna maior, custos virão das importações devido ao dólar elevado.

Os preços dos produtos agrícolas, em sua maioria, estão em queda. Eles sofrem os efeitos do recuo da demanda gerado pelo coronavírus. Uma das exceções é o trigo, que mantém valores nominais recordes no país.

Carlos Hugo Godinho, analista de trigo do Deral (Departamento de Economia Rural) da Secretaria de Agricultura do Paraná, diz que o preço do trigo sofre efeitos externos e internos.

Do lado externo, a pressão pode ser de baixa. Após alguns países limitarem as exportações, como a Rússia, o preço do cereal teve um repique de alta. O avanço do coronavírus pelo mundo e a forma como está afetando os vários mercados, porém, podem derrubar os preços.

Ele cita o exemplo dos Estados Unidos e a forte redução no consumo de milho, devido à queda no consumo de etanol no país.

Indicações do próprio Usda (Departamento de Agricultura dos EUA) mostram que nesta safra, que termina em 31 de agosto, a retração no uso do cereal será de um volume próximo de 10 milhões de toneladas no mercado americano. Normalmente, 40% da safra de milho dos Estados Unidos vai para a produção de etanol.

A China também influenciará no comportamento internacional do trigo, na avaliação de Godinho. A queda de renda deverá reduzir o consumo de proteínas. Na produção destas, além do milho e do farelo, também é utilizado o trigo na alimentação dos animais. Rebanhos menores e oferta maior de milho afetarão os preços externos do cereal.

Internamente, a situação é diferente. A saca de trigo está próxima de R$ 58, um recorde nominal. E os preços devem se manter aquecidos, apesar de o Paraná, principal produtor nacional, elevar a produção neste ano.

Os paranaenses, que já iniciaram o plantio, vão semear trigo em 1,08 milhão de hectares, 5% mais do que no ano passado.

 

Neste ano, a safra poderá subir para 3,5 milhões de toneladas, acima dos 2,14 milhões de 2019. Se essa previsão se confirmar, será o primeiro aumento de produção após três anos de queda.

A dependência brasileira do trigo importado, contudo, é grande. O dólar acima de R$ 5 vai encarecer o custo das importações, segurando os preços internos, afirma Godinho (Folha de S.Paulo, 23/4/20)