20/01/2020

Na Índia, objetivo é transformar etanol em commodity global

Na Índia, objetivo é transformar etanol em commodity global

Legenda: O adido agrícola brasileiro na Índia, Dalci Pagolin

 Indianos querem direcionar parte da produção de cana e aumentar porcentagem de álcool na gasolina.

Ao fim de 13 meses de governo Bolsonaro, só a equipe internacional da ministra da Agricultura, Tereza Cristina, terá visitado 32 países nos 5 continentes. No período, foram abertos 26 novos mercados para produtos brasileiros – de arroz para o México a lácteos para a China

Segundo país mais populoso do mundo – e com data marcada para ser o primeiro –, a Índia quer aumentar para 10% a quantidade de etanol em sua gasolina até 2022. Hoje, a mistura não chega a 7% e o país de 1,3 bilhão de habitantes quer aproveitar o conhecimento brasileiro para cumprir a missão. 

O governo indiano subsidia parte da produção de açúcar, a maior do mundo na última safra, principalmente de pequenos agricultores que dependem do produto para sobreviver. Os incentivos ligados ao transporte variam de cerca de mil rupias (US$ 14,6) por tonelada a 3 mil rupias (US$ 42,2) por tonelada. O governo também paga diretamente aos produtores de cana-de-açúcar 138 rupias (US$ 1,9) por tonelada.   

Isso acaba distorcendo preços internacionais. Portanto, direcionar parte da cana para produzir etanol poderia reduzir esse volume e a oferta global de açúcar, aumentando os preços e atendendo a interesses brasileiros e indianos. 

“Para o Brasil, os benefícios de um aumento da quantidade de etanol seriam regular os preços internacionais do açúcar e uma maior procura pelo biocombustível”, diz Amaury Pekelman, presidente da União Nacional da Bioenergia (Udop). “Além disso, o etanol é um aliado na mitigação da emissão dos gases de efeito estufa na atmosfera, o que melhoraria a qualidade do ar das metrópoles indianas.” 

“Queremos transformar o etanol em uma commodity mundial e despertar o interesse em parceiros importantes que vejam esse produto como uma alternativa viável”, afirma o diplomata Flávio Bettarello, secretário adjunto de Comércio e Relações Internacionais do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento.

Dalci Pagolin, adido agrícola na Índia, concorda que há benefícios aos dois parceiros. “Hoje o mercado de etanol está muito concentrado em EUA e Brasil, seria muito importante que fosse para outros países.” 

O Brasil é o segundo maior produtor de etanol do mundo, atrás apenas dos Estados Unidos. O produto brasileiro, à base de cana, é mais eficiente e ecológico do que o americano, feito de milho. O uso do etanol como combustível em larga escala, no entanto, ainda ocorre basicamente nesses dois países, o que limita sua transformação em uma commodity comercializada internacionalmente (O Estado de S.Paulo, 19/1/20)

 

Cooperação para o etanol será tema de visita presidencial à Índia

Representantes da União da Indústria de Cana-de-Açúcar e de empresas do setor sucroenergético vão compor a missão brasileira à Índia entre os dias 23 e 27 de janeiro, em Nova Déli. O Presidente Jair Bolsonaro será o convidado de honra do primeiro-ministro Narendra Modi para as celebrações do Dia da República. Além disso, a visita oficial contará com uma agenda para a ampliação das relações entre os dois países.

O intuito do setor sucroenergético é fortalecer a cooperação técnica e a troca de experiências sobre etanol. “Nossa motivação é criar condições para a formação de um mercado global de etanol, para que no futuro possamos ter um aumento da comercialização e a ‘comoditização’ do produto. Isso só será possível se houver clareza sobre os benefícios dos biocombustíveis e nisso o Brasil é exemplo”, explica o diretor executivo da UNICA, Eduardo Leão de Sousa, que integra a missão como parte do projeto setorial com a Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (Apex-Brasil).

 O trabalho se dará em duas esferas: a institucional, com o compartilhamento da experiência de implantação de políticas públicas Brasil ao longo de mais de 40 anos de uso do etanol como combustível, em larga escala; e a técnica, por meio do estreitamento da cooperação com a cadeia produtiva do setor indiano, desde a indústria de bens de capital até a indústria automobilística.

A Índia tem a meta de adotar a mistura de 10% de etanol na gasolina até 2022 e de 20% até 2030, o que trará reflexos positivos socioeconômicos para o meio ambiente, a saúde da população e na balança comercial – mais de 80% dos derivados de petróleo consumidos no país são importados. Em 2019, os produtores indianos disponibilizaram aproximadamente 2,4 bilhões de litros de etanol combustível no mercado interno, atingindo 5,8% de mistura na gasolina. Para efetivar os 10% de participação seriam necessários 5 bilhões de litros do biocombustível.

“A adoção do E10 na Índia será importante não só para reduzir a emissão de gases causadores do efeito estufa e melhorar a qualidade do ar nas grandes metrópoles indianas, como também para oferecer uma alternativa de diversificação de mercado aos quase 50 milhões de produtores de cana do país, que hoje dependem basicamente da produção de açúcar”, complementa Eduardo.

Integram a comitiva o diretor executivo da UNICA, Eduardo Leão de Sousa, o presidente do Conselho Deliberativo da UNICA, Marcelo Ometto, o diretor para o Brasil da Tereos, Jacyr Costa, o CEO da Raízen, Luís Henrique Guimarães, o VP global de commodities da Cofco, Marcelo Andrade, e o gerente de comunicação e relações institucionais da Copersucar, Bruno Alves Pereira.

Agenda de etanol

Os biocombustíveis, em especial o etanol, serão destaque na agenda. No dia 23/01, o evento “Índia-Brasil – Oportunidades em energia e mineração”, promovido pelo Ministério de Minas e Energia, terá as presenças do embaixador brasileiro na Índia, André Aranha Corrêa do Lago, do Ministro de Minas e Energia, Bento Albuquerque, da Ministra da Agricultura, Tereza Cristina e do Ministro de Petróleo e Gás Natural indiano, Dharmendra Pradhan. O evento terá apresentação sobre etanol e rodadas de negócios com executivos de empresas como Sterlite Power, ONGC, Tata Power, Adani Transmission, Praj Industries e Indian Oil.

No dia 25, será realizado um fórum de CEOs brasileiros e indianos para debater oportunidades de negócios em diferentes áreas. Na sequência, o Presidente e o Primeiro-ministro assinam um memorando de entendimento na área de bioenergia, com foco em biocombustíveis.

No último dia, 27 de janeiro, haverá um seminário empresarial realizado pela Apex-Brasil. A parte da manhã será dedicada às falas de autoridades e na sequência haverá dois painéis, um deles sobre combustível renovável (“Brazilian Bioenergy Policy: How to build a clean energy matrix”).

Promoção do etanol na Índia

Em 2019, a UNICA realizou duas missões técnicas ao país, com encontros com representantes do governo indiano, da indústria automobilística local, bem como com a indústria de petróleo local, em que foram discutidos os benefícios e os desafios da implantação de um programa mais ambicioso de etanol no país.

Ente ano, além da missão presidencial, a UNICA terá um estande no salão do automóvel da Índia (Auto Expo) no início de fevereiro e, no final do mês, levará especialistas brasileiros para um seminário junto com a ISMA (India Sugar Millis Association). Ambas oportunidades servirão para ampliar o conhecimento a respeito dos benefícios do etanol e dos aspectos técnicos de sua adoção (Último Instante, 17/1/20)


Bolsonaro vai à Índia assinará mais de 10 acordos comerciais e tecnológicos  

Segundo o Itamaraty, convênios envolvem segurança cibernética, cooperação na área de bioenergia, facilitação de investimentos e saúde.

O presidente Jair Bolsonaro embarca no fim da próxima semana para Nova Déli, capital da Índia, para encontros com autoridades e a assinatura de "cerca de 12 acordos comerciais e tecnológicos", informou nesta sexta-feira (17) o Ministério das Relações Exteriores.

De acordo com o secretário de Negociações Bilaterais na Ásia, Pacífico e Rússia do Itamaraty, Reinaldo Salgado, os convênios, que ainda estão em fase final de negociação, envolvem segurança cibernética, facilitação de investimentos, cooperação na área de bioenergia e acordos na área de saúde.

Segundo a programação divulgada pelo governo, a viagem pela Índia deve ocorrer entre os dias 25 e 27 de janeiro.

No próximo sábado (25) está prevista uma visita de Estado. O presidente irá visitar o Memorial do Gandhi e vai participar de um almoço oferecido pelo primeiro-ministro, Narendra Modi, e jantar oferecido pelo presidente da Índia, Ram Nath Kovind.

No domingo 26, Bolsonaro será convidado de honra na cerimônia do Dia da República. Já na segunda-feira (27), haverá um café da manhã com empresários e, em seguida, o presidente participa de um seminário empresarial com três painéis: economia brasileira; energia, bioenergia, petróleo e gás; e inovação.

Até o momento, estão confirmados o ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo; a ministra da Agricultura, Tereza Cristina; ministro de Minas e Energia, Bento Albuquerque, ministro da Ciência e Tecnologia, Marcos Pontes, ministro-chefe do Gabinete de Segurança Institucional, Augusto Heleno, e o ministro da Cidadania, Osmar Terra (G1, 17/1/20)


Agricultores da Índia protestam contra presença de Bolsonaro

Legenda: Manifestantes contra a presença de Bolsonaro como líder convidado pelo governo indiano para a comemoração do Dia da República

Camponeses repudiam participação do presidente brasileiro nas comemorações do Dia da República.

Produtores rurais indianos lançaram, no último final de semana, uma campanha contra a presença do presidente brasileiro, Jair Bolsonaro, nas comemorações do Dia da República da Índia, que devem acontecer no 26 de janeiro.

A ação #GoBackBolsonaro (em português, “vá embora, Bolsonaro”) foi lançada pela Federação de Produtores de Cana-de-Açúcar da Índia e tem apoio da All India Kisan Sabha, maior organização de camponeses do país, fundada em 1936.

A frase em repúdio à presença de Bolsonaro será exibida em faixas e bandeiras negras expostas sobre as áreas de cultivo. O objetivo da campanha é exigir a retirada do convite feito a Bolsonaro pelo governo indiano para participar da comemoração. “Nosso protesto também será uma ação de solidariedade em apoio ao povo brasileiro, que protesta contra seu regime corrupto e repressivo”, afirmou a federação em nota.

Bolsonaro embarca para a Índia na próxima sexta-feira (24), a convite do primeiro-ministro Narendra Modi, de extrema direita. O Dia da República lembra a data em que a Constituição indiana entrou em vigor, em 1950.

Motivações

protesto dos camponeses indianos tem motivações políticas e econômicas.

A primeira parte da nota divulgada pela federação dos produtores de cana afirma que Bolsonaro “adere a uma ideologia de extrema direita” e é “cada vez mais autoritário”.

“Testemunhamos suas políticas destrutivas e exploradoras no Brasil, incluindo a abertura de portas para a espoliação corporativa da floresta amazônica”, segue o texto de lançamento da campanha.

Do ponto de vista econômico, os agricultores indianos afirmam que a postura do governo brasileiro na Organização Mundial do Comércio (OMC) afeta diretamente seus meios de subsistência.

Brasil, Austrália e Guatemala questionaram, na OMC, as medidas protecionistas do governo indiano para beneficiar os produtores de cana-de-açúcar. O argumento é que o subsídio concedido pela Índia excederia o limite permitido internacionalmente. Por outro lado, os camponeses afirmam que a base de cálculo usada por esses países considera os valores de importação e exportação da década de 1980, ignorando a inflação do período.

Para comprovar sua hipótese, os agricultores indianos citam, na nota de lançamento da campanha, que não receberam do governo local sequer os subsídios mínimos previstos na legislação do país – chamados de preços justos e remuneratórios.

“Se a OMC tomar uma decisão contra a Índia, (…) a produção local cairá e seremos empurrados para a importação de açúcar”, afirma a federação. “Na ausência das atuais políticas de apoio, o setor de cana-de-açúcar, que emprega mais de 50 milhões de agricultores e mais de 500 mil trabalhadores nas usinas de açúcar, pode enfrentar um colapso iminente”, alerta.

O açúcar promete ser um dos temas-chave da visita de Bolsonaro à Índia. Na semana passada, o presidente brasileiro se reuniu com representantes da União da Indústria de Cana-de-Açúcar (Unica), que reúne ruralistas do setor. Durante o encontro, afirmou que o Brasil estuda meios de apoiar a Índia no fortalecimento de seu programa de etanol, incluindo formas de aumentar a produção do biocombustível e sua mistura com gasolina, o que poderia reduzir estoques de açúcar no país asiático e alavancar os preços do açúcar no mercado internacional.

O volume de açúcar exportado pelo Brasil registrou, em julho de 2019, seu menor nível em cinco anos – cerca de 28% a menos que no ano passado e 63% a menos que em 2017 (Brasil de Fato, 19/1/20)