Não há bala de prata para resolver queda na aprovação de Lula, diz Padilha
Alexandre Padilha e Lula Foto Fabio Rodrigues-Pozzebom- Agência Brasil
Ministro Padilha – com Lula - diz que pesquisas mostram o que presidente já vinha cobrando do governo.
O ministro Alexandre Padilha (Relações Institucionais) diz que não há truque ou bala de prata para resolver os problemas que levaram à queda na aprovação de Lula (PT) nas pesquisas.
Segundo ele, o próprio presidente já cobrava da sua equipe soluções para temas como a inflação no preço dos alimentos.
"Quem pensa em truques, quem pensa em bala de prata sobre isso, em geral colhe um resultado negativo. Não é a primeira vez que a gente governa o país", disse nesta terça (28) à Folha.
Pesquisa Quaest mostrou que a avaliação negativa do governo superou a positiva pela primeira vez no atual mandato.
Padilha afirma esperar a continuação de uma "parceria" com o Congresso Nacional, após a eleição dos novos presidentes da Câmara e do Senado, e apresentou a reforma do Imposto de Renda como uma das prioridades do ano.
Quais as prioridades do governo no Congresso em 2025 e quando a reforma do Imposto de Renda será encaminhada?
A agenda completa vamos apresentar na segunda semana de fevereiro. Mas ela tem alguns eixos que considero prioritários: uma agenda econômica para um Brasil justo; estímulo ao empreendedorismo e investimento no nosso país; reforça a educação no centro do projeto de desenvolvimento; agenda ambiental; um eixo que dialoga, por exemplo, com os entes federativos, como é a PEC da Segurança; e um eixo de enfrentar crimes no ambiente digital.
A reforma do Imposto de Renda é um dos grandes debates que vamos ter ao longo do ano. O texto ainda é do Ministério da Fazenda, que está fechando tecnicamente. O prazo é para ser aprovado neste ano, para que possa valer no ano que vem.
A pesquisa Quaest apresentou uma queda na aprovação do governo, sobretudo nas bases do presidente. Como pretendem reverter esse cenário?
A pesquisa traz um tema que o próprio presidente já vinha apontando para o governo. Vai acompanhar muito de perto, como o tema do impacto da inflação dos alimentos na vida das pessoas. Se tem alguém que é mais severo do que qualquer pesquisa a seu governo é o próprio presidente. E essa postura dele me dá a garantia e confiança de que o governo vai enfrentar esses temas que foram apontados [pelas pesquisas].
Mas como? Inflação, por exemplo…
Com as medidas… Não tem truque. Quem pensa em truques sobre isso, quem pensa em bala de prata, em geral colhe um resultado negativo. Não é a primeira vez que a gente governa o país. Não é a primeira vez que a gente vê situações de crescimento, por exemplo, do preço de determinados alimentos.
Então a gente tem experiência suficiente para manter a economia no rumo certo, reafirmando as medidas que criam um ambiente econômico positivo. Além disso, o governo faz um conjunto de medidas desde o primeiro dia de governo, de estímulo à produção, recuperação de estoques reguladores, que contribuem para que possa ter um aumento na segurança alimentar e reduzir qualquer impacto sobre isso. E o fundamental, na liderança do ministro [Fernando] Haddad, é ir conduzindo o ambiente econômico para a equalização da situação do câmbio, para, com serenidade, dissipar qualquer oscilação que teve no final do ano e que impacta, sem dúvida alguma, nos alimentos hoje.
Alguns partidos da base não entregaram todos os votos para o governo, mas seguem com ministérios. Por quê?
Há uma fragmentação desses partidos. [Mas] o voto deles foi decisivo para as agendas prioritárias do governo. Nós não teríamos aprovado a reforma tributária, o marco fiscal e o aumento do salário mínimo sem a colaboração importante desses ministros, desses partidos. E quero reafirmar que eles estão em primeiro lugar na fila da defesa do presidente Lula. E da defesa, inclusive, da reeleição.
Qual a visão do sr. sobre a eventual entrada do presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), no governo?
A gente está terminando essa Legislatura, com toda a parceria que foi feita, reconhecendo as diferenças, todo o esforço de negociação para aprovar todas as medidas que aprovamos. E tanto o Lira quanto o presidente [do Senado] Rodrigo Pacheco (PSD-MG) serem cotados para vir para o governo é um sintoma de retomada das relações funcionais. Os dois têm credenciais políticas para assumir outros papéis da República, inclusive no governo.
O nome do sr. também é citado nas conversas sobre reforma ministerial, às vezes na Saúde e às vezes na Defesa.
Sei que [a SRI] é uma missão difícil, muita gente acha que é a mais espinhosa do governo. Estou feliz em ter contribuído para a gente, nesses dois anos, ser o governo que teve a maior taxa de aprovação na história de iniciativas próprias do governo desde a redemocratização. Vou continuar contribuindo com o presidente Lula, onde ele achar que tenho que contribuir. Essa coisa não tem interesse próprio. Não cabe ao jogador dizer sim ou não ao técnico.
Câmara e Senado escolhem no sábado (1º) seus novos presidentes. O que esperar deles? O governo espera uma largada mais fácil na relação com os escolhidos, após problemas iniciais com Lira?
Quero lembrar que votei no Lira, e o líder do governo [no Senado] votou no Pacheco. Portanto, eles também foram eleitos com votos de parlamentares e de ministros do governo. Acho que vamos ter um bom ambiente das relações institucionais. Não tem a ver individualmente com quem está na presidência da Câmara ou do Senado.
Estar com Lula ou seu candidato em 2026 é condição para aumentar espaço para partidos de centro?
A gente tem a expectativa de que qualquer ministro —seja aqueles que estão hoje no governo ou aqueles que eventualmente venham ao longo desses dois anos— tenha um papel de defesa do governo, do presidente Lula e que isso contribua para que os partidos dos quais ele faça parte também sejam defensores do governo.
O presidente Lula é indispensável para conseguir derrotar o bolsonarismo?
Tenho certeza absoluta que o presidente Lula vai chegar em 2026 com saúde e apetite para defender da melhor forma esse governo, e a melhor forma de defender o governo é ser candidato à reeleição. Ele é o melhor para fazer isso.
Há preocupação com a saúde dele?
Esse é um debate que nem existe entre nós. Tem mais gente da oposição falando sobre isso do que no governo. Ouço tentativas de aposentar o presidente desde 1982, certo? E ele sempre superou todas as tentativas e especulações dele e vai superar de novo essa.
RAIO-X | Alexandre Padilha
É ministro da Secretaria de Relações Institucionais. Nascido em São Paulo, é médico infectologista e professor universitário.
Ocupou o mesmo cargo de ministro no segundo governo Lula. Em 2011, assumiu o Ministério da Saúde na gestão Dilma Rousseff (PT) e implementou o programa Mais Médicos.
Chefiou a Secretaria Municipal de Saúde da capital paulista de 2015 a 2016, na administração Fernando Haddad (PT). Foi eleito deputado federal por São Paulo em 2018 e reeleito em 2022 (Folha, 30/1/25)