Não podemos aceitar que Macron dispare ataques descabidos à Amazônia
Legenda: O presidente Jair Bolsonaro, durante cerimônia do Dia do Soldado, em Brasília
Presidente questiona interesse de europeus: 'O que eles querem lá há tanto tempo?'
O presidente Jair Bolsonaro (PSL) questionou nesta segunda-feira (26) qual a motivação dos europeus em querer ajudar a região amazônica.
Embora venha argumentando que outros países queiram interferir na soberania do Brasil, o presidente celebrou a ajuda oferecida por aliados como Israel e EUA.
"Macron promete ajuda de países ricos à Amazônia. Será que alguém ajuda alguém, a não ser uma pessoa pobre, né, sem retorno? O que que está de olho na Amazônia? O que que eles querem lá há tanto tempo?", questionou o presidente, ao deixar o Palácio da Alvorada.
Ao chegar ao Palácio do Planalto, Bolsonaro voltou a criticar o presidente francês, desta vez pelo Twitter.
"Não podemos aceitar que um presidente, Macron, dispare ataques descabidos e gratuitos à Amazônia nem que disfarce suas intenções atrás da ideia de uma 'aliança' dos países do G-7 para 'salvar' a Amazônia, como se fôssemos uma colônia ou uma terra de ninguém", escreveu nas redes sociais.
- Em conversa com o Presidente Iván Duque, da Colômbia, falamos da necessidade de termos um plano conjunto, entre a maioria dos países que integram a Amazônia, na garantia de nossa soberania e riquezas naturais.
- Não podemos aceitar que um presidente, Macron, dispare ataques descabidos e gratuitos à Amazônia, nem que disfarce suas intenções atrás da ideia de uma "aliança" dos países do G-7 para "salvar" a Amazônia, como se fôssemos uma colônia ou uma terra de ninguém.
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A publicação foi feita na sequência de um outro tuíte, no qual ele disse ter conversado com o presidente da Colômbia, Iván Duque, sobre uma atuação conjunta entre os países que integram a região amazônica.
"Em conversa com o presidente Iván Duque, da Colômbia, falamos da necessidade de termos um plano conjunto entre a maioria dos países que integram a Amazônia na garantia de nossa soberania e riquezas naturais", publicou.
De forma genérica, disse que outros chefes de Estado demonstraram solidariedade à crise enfrentada pelo Brasil. "Afinal, respeito à soberania de qualquer país é o mínimo que se pode esperar num mundo civilizado."
Mais cedo, o presidente francês disse esperar que os brasileiros "tenham logo um presidente que se comporte à altura do cargo" e que "é triste” ver ministros brasileiros insultarem líderes estrangeiros.
A cúpula do G7 —que reúne parte dos países mais ricos do mundo— chegou nesta segunda a um acordo para ajudar a combater as queimadas na floresta Amazônica.
Os líderes do grupo —formado por Alemanha, Canadá, Estados Unidos, França, Itália, Japão e Reino Unido— concordaram em liberar 20 milhões de euros (cerca de R$ 91 milhões) para a Amazônia.
A maior parte do montante será usada para enviar aviões de combate a incêndios.
O G7 foi realizado em Biarritz, na França, e teve as queimadas como um dos pontos centrais de discussão.
Bolsonaro deixou o Alvorada com um exemplar do jornal O Globo nas mãos e questionou o título da reportagem que falava na ajuda dos europeus à Amazônia.
O presidente brasileiro conversou entre sexta (23) e domingo (26) com Donald Trump e o primeiro-ministro de Israel, Binyamin Netanyahu.
Israel deve enviar um avião, tropas e tecnologia para ajudar o Brasil a combater os incêndios. A ajuda americana, oferecida na sexta, ainda não foi detalhada. Na porta do Alvorada, o presidente brasileiro não quis responder sobre a ajuda de Israel.
"Nem sobre a dona Olinda, que é minha mãe, eu vou falar aqui. Tá certo?", respondeu Bolsonaro ao dizer para jornalistas que não responderia perguntas nesta segunda-feira.
Ele disse ter trabalhado "24 horas por dia" durante o fim de semana discutindo a crise das queimadas e ter conversado com líderes de vários países.
"Pessoas, líderes excepcionais que querem realmente colaborar com o Brasil. Não conversei com aqueles outros [não citou quais], que querem continuar nos tutelando", afirmou.
Brasil e França vivem a mais séria crise diplomática desde a década de 1960, na opinião de diplomatas europeus e brasileiros ouvidos pela Folha.
Os desentendimentos entre os dois líderes se acirraram desde que o brasileiro ameaçou deixar o Acordo de Paris sobre o Clima e o francês reagiu prometendo barrar o acordo comercial entre União Europeia e Mercosul (Folha de S.Paulo, 27/8/19)
Espero que os brasileiros tenham logo um presidente à altura do cargo
Legenda: O presidente francês Emmanuel Macron, durante entrevista coletiva em Biarritz, na França
Presidente francês respondeu a ataques feitos contra ele por Jair Bolsonaro e sua equipe.
O presidente francês, Emmanuel Macron, em um novo episódio da crise diplomática entre Brasil e França devido à questão ambiental na Amazônia, voltou a subir o tom contra Jair Bolsonaro nesta segunda (26), dizendo esperar que “os brasileiros tenham logo um presidente que se comporte à altura” do cargo.
Em entrevista ao lado do presidente chileno, Sebastián Piñera, no âmbito da cúpula do G7 (clube dos países ricos), o chefe de Estado francês afirmou que “é triste” ver ministros brasileiros insultarem líderes estrangeiros.
"É triste, mas é triste primeiro para ele [Bolsonaro] e para os brasileiros", afirmou o francês.
No último fim de semana, o titular da Educação, Abraham Weintraub, escreveu que Macron "é apenas um calhorda oportunista buscando apoio do lobby agrícola francês".
"Os franceses elegeram esse Macron, porém, nós já elegemos Le Ladrón [referência ao ex-presidente Lula], que hoje está enjauladón... Ferro no cretino do Macron, não nos franceses...", publicou Weintraub, na sequência.
A França é uma nação de extremos. Gerou homens como Descartes ou Pasteur, porém também os voluntários da Waffen SS Charlemagne. País de iluministas e de comunistas. O Macron não está a altura deste embate. É apenas um calhorda oportunista buscando apoio do lobby agrícola francês.
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Já Bolsonaro zombou da mulher do francês, Brigitte Macron, no Facebook, ao endossar um comentário ofensivo à primeira-dama da França feito por um de seus seguidores.
O usuário Rodrigo Andreaça publicou uma imagem na qual se vê uma fotografia de Bolsonaro e de sua esposa, Michelle Bolsonaro, abaixo de um retrato de Macron junto a sua mulher.
Ao lado das fotos dos casais, há os dizeres: “Entende agora por que Macron persegue Bolsonaro?”. O perfil do mandatário brasileiro respondeu a Andreaça: “Não humilha, cara. Kkkkkkk”, dando a entender que as recentes críticas do francês seriam motivadas por inveja de Michelle.
“Penso que as mulheres brasileiras sentem vergonha ao ler isso, vindo de seu presidente, além das pessoas que esperam que ele represente bem seu país”, afirmou o líder europeu, classificando as palavras do brasileiro sobre sua esposa como “extremamente desrespeitosas”.
"Como tenho uma grande amizade e respeito pelo povo brasileiro, espero que tenham logo um presidente que se comporte à altura [do cargo]", disse Macron.
Ao lado do francês durante a declaração, o chileno Piñera se manteve em silêncio e não comentou a briga entre Paris e Brasília —ele é considerado um aliado regional de Bolsonaro.
Macron descreveu os últimos lances da crise diplomática com o Brasil como um “grande mal-entendido”.
“Bolsonaro me prometeu, com a mão no peito [na cúpula do G20, em julho, no Japão], fazer tudo pelo reflorestamento e respeitar os engajamentos do Acordo de Paris [sobre a mudança climática] para podermos fechar o pacto comercial [entre União Europeia e Mercosul]. Devo dizer que ele não falou a verdade”, acrescentou.
“Dias depois, o presidente demitiu cientistas de seu governo”, lamentou o francês, referindo-se ao afastamento do presidente do Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais), Ricardo Galvão, após a divulgação de estatísticas sobre o desmatamento que desagradaram ao governo.
Legenda: Amazônia no Frankfurter Allgemeine Zeitung
Macron lembrou ainda a saia justa a que foi submetido o chanceler francês, Jean-Yves Le Drian, em recente passagem pelo Brasil. Na ocasião, Bolsonaro desmarcou uma audiência com o visitante e, no horário marcado para a reunião, fez uma transmissão ao vivo na internet enquanto cortava o cabelo.
"Ele teve um compromisso urgente no barbeiro quando estava para receber o ministro das Relações Exteriores [da França]", ironizou Macron.
Curiosamente, na segunda, a resposta do presidente francês à pergunta de um jornalista sobre as rusgas com o governo brasileiro começou com um “sem comentários”.
Mais cedo, em participação num programa televisivo, a ministra da Justiça da França, Nicole Belloubet, havia qualificado como “baixezas” os insultos de políticos brasileiros a Macron e sua mulher.
Comentaristas na mídia francesa também falaram em “vulgaridades no limite da decência”.
Bolsonaro respondeu às críticas na manhã desta segunda.
"Não podemos aceitar que um presidente, Macron, dispare ataques descabidos e gratuitos à Amazônia, nem que disfarce suas intenções atrás da ideia de uma 'aliança' dos países do G7 para 'salvar' a Amazônia, como se fôssemos uma colônia ou uma terra de ninguém", publicou o presidente, em uma rede social.
- Em conversa com o Presidente Iván Duque, da Colômbia, falamos da necessidade de termos um plano conjunto, entre a maioria dos países que integram a Amazônia, na garantia de nossa soberania e riquezas naturais.
- Não podemos aceitar que um presidente, Macron, dispare ataques descabidos e gratuitos à Amazônia, nem que disfarce suas intenções atrás da ideia de uma "aliança" dos países do G-7 para "salvar" a Amazônia, como se fôssemos uma colônia ou uma terra de ninguém.
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Brasil e França vivem a mais séria crise diplomática desde a década de 1960, na opinião de diplomatas europeus e brasileiros ouvidos pela Folha.
Os desentendimentos entre os dois líderes se acirraram desde que o brasileiro ameaçou deixar o Acordo de Paris sobre o Clima e o francês reagiu prometendo barrar o acordo comercial entre União Europeia e Mercosul.
Na quinta-feira (22), Macron disse que as queimadas na Amazônia geraram uma crise internacional e convocou os membros do G7 a discutir soluções para o tema.
Bolsonaro reagiu às críticas. “A sugestão do presidente francês, de que assuntos amazônicos sejam discutidos no G7 sem a participação dos países da região, evoca mentalidade colonialista descabida no século 21”, reagiu Bolsonaro no Twitter.
Também na quinta, Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), deputado federal e filho do presidente, compartilhou um vídeo com o título "Macron é um idiota".
Na sexta-feira (23), Bolsonaro voltou a criticar o presidente francês e o acusou de tentar potencializar o ódio contra o Brasil.
O tuíte de Eduardo, cotado para assumir a embaixada do Brasil em Washington, foi considerado uma grosseria sem precedentes. A troca de farpas foi antecedida por uma campanha do Itamaraty nas redes sociais em que o ministério fazia comparações pouco elogiosas à França.
Diplomatas ouvidos pela Folha na sexta consideram que as tensões são graves o suficiente para reduzir muito as chances de o acordo entre União Europeia e Mercosul ser aprovado no congresso francês.
Segundo diplomatas europeus, o governo não vai lutar por um acordo que é impopular entre vários setores, como agricultores e ambientalistas, e ainda por cima beneficiaria um presidente que os insulta (Folha de S.Paulo, 27/8/19)