Nem são Sidônio faz milagre no INSS – Por Hélio Schwartsman

SIDONIO - Foto Marcelo Camargo Agência Brasil
Próximos lances dirão se medidas adotadas por novo chefe da comunicação do governo bastarão para conter danos à imagem da gestão.
Não há são Sidônio que faça milagre aqui. A nova eminência parda do governo Lula fez o que tinha de fazer diante do escândalo dos descontos indevidos em aposentadorias e pensões do INSS.
Sidônio Palmeira instruiu a administração a suspender os repasses às entidades, a prometer ressarcir os prejudicados, cuidou para que uma alta autoridade, o presidente do INSS, fosse demitida e tentou emplacar uma narrativa favorável ao governo, destacando que o escândalo veio à tona em investigação da própria gestão e que os descontos suspeitos tiveram início bem antes de Lula tomar posse.
Não sei se bastará. Há detalhes que favorecem leituras menos benignas para o governo, como o fato de que um dos sindicatos que mais se beneficiou com o esquema tem um irmão de Lula como dirigente. Interpretações à parte, há também uma questão substantiva que me parece de fato irrespondível.
Reportagem da TV Globo mostrou que o problema das fraudes em descontos foi levado pessoalmente, por fonte crível, ao ministro da Previdência, Carlos Lupi, em junho de 2023. A presteza com que o governo agiu agora, suspendendo os repasses, indica que a pasta poderia ter adotado a mesma medida tempos atrás, poupando velhinhos de quase dois anos de subtração de benefícios.
Lupi, aliás, já se movimenta como se seu cargo estivesse na berlinda. Lula tem notória dificuldade para demitir ministros, sobretudo aqueles com os quais tem ligação pessoal, mas sua solidariedade só vai até certo ponto.
A pergunta que lanço é se faz sentido que o Estado atue como agente coletor de dinheiro que vai para instituições não públicas. Exceto pelos empréstimos consignados (sem o desconto automático o aposentado não tem acesso ao juro menor), eu acho que não. O presente escândalo é um ótimo argumento a favor dessa tese.
Se queremos ter certeza de que o pagamento é de fato voluntário, não há melhor instrumento do que o bom e velho boleto, que exige a decisão concreta de enviar determinado valor a determinada entidade (Folha, 29/4/25)