No sobe e desce dos preços do agro, inflação se acomoda em patamar alto
AGRONEGOCIO ALIMENTOS Imagem Blog Matopiba Agro
Enquanto parte dos produtos, como soja e boi gordo têm alívio, café, açúcar e trigo entram na lista de pressões.
O rodízio de altas e baixas dos produtos agropecuários no campo mantém, na média, os preços dos alimentos elevados e impede uma pressão menor desses itens na taxa de inflação.
Os produtos de maiores pressões há um ano, como boi gordo, soja, milho e arroz, estão com variações pequenas, ou até em queda, como é o caso dos dois cereais. Outros, porém, como café, açúcar e trigo, entraram na lista de pressões.
Nesse balanço de sobe e desce, a inflação vem se acomodando em patamares mais elevados nos meses recentes.
O mercado externo continua sendo o grande alimentador dos preços internos. Mesmo com a valorização do real em relação ao dólar, o que tornaria as exportações menos atrativas, os preços externos mantêm um fluxo de receitas bastante acelerado para o Brasil.
Conforme dados da Folha do início deste mês, confirmados pelo Ministério da Agricultura na quinta-feira (14), a alta de preços no mercado externo permitiu ao país obter receitas acumuladas de US$ 131 bilhões (R$ 612,3 bilhões) com o agronegócio nos últimos 12 meses, um recorde para o período.
Embora o país tenha exportado um volume menor de alguns produtos, a alta dos preços externos compensa essa redução. No mês passado, as vendas externas de soja em grão caíram 3,5%, em comparação às de igual período do ano passado. As receitas, no entanto, subiram 28%.
O preço da soja é sustentado também pelo do óleo de soja. Em março, o volume exportado de óleo subiu 83%, puxado pela elevação de 53% nos valores externos. A redução na oferta de óleo de girassol pela Ucrânia deu força aos demais óleos vegetais no mercado externo.
A arroba de boi gordo perdeu a pressão constante que vinha tendo no mercado interno, mantendo, no entanto, preço em patamar elevado. A atratividade do mercado externo fez o volume exportado subir 29% no primeiro trimestre, em relação a igual período de 2021. O preço médio da tonelada foi de US$ 5.769 (R$ 26,9 mil) em março, 29% a mais do que em 2021, de acordo com o Ministério da Agricultura.
Em patamar elevado no mercado interno, a carne bovina reflete o bom momento das exportações brasileiras. Pela primeira vez, o Brasil vem sendo o principal fornecedor de carne bovina para os Estados Unidos, desbancando Austrália, Canadá e Nova Zelândia nesse mercado.
Com a boa aceitação do produto brasileiro no país, o setor vai pedir aos americanos uma ampliação da cota extra, da qual participa o Brasil, ao lado de vários outros países, ou até solicitar uma cota específica e de maior volume para os brasileiros.
Se o mercado externo impulsiona os preços das carnes bovina e de frango, não faz o mesmo com o da suína. O valor médio internacional dessa proteína caiu 13%, devido às compras menores da China. Com isso, as receitas brasileiras com o produto recuaram 28%, influenciando os preços internos.
A pressão externa nas negociações com trigo, café e açúcar auxilia a manutenção dos valores internos. Ásia, África e Oriente Médio descobriram o cereal brasileiro, enquanto a produção menor de café mantém os preços atuais da bebida 83% superiores aos de há um ano.
O IGP-10 (Índice Geral de Preços), divulgado nesta segunda-feira (18) pela FGV, indica uma desaceleração nos preços dos produtos agropecuários no atacado. Neste mês, a alta é de 0,9%, uma taxa inferior aos 3,62% de março, mas ainda em patamar elevado.
A inflação desses itens já soma 9,9% no atacado apenas neste ano. Entre as principais altas do mês, está a dos fertilizantes, que ficaram 12,4% mais caros no atacado. Essa aceleração de custos para o produtor vai refletir nos preços os alimentos.
Enquanto o mercado externo estiver disposto a pagar os novos preços dos produtos agropecuários, o interno vai ter de acompanhar esses valores, devido à importância do Brasil no fornecimento mundial de alimentos (Folha de S.Paulo, 19/4/22)