15/06/2023

Nomeação de Zanin ao STF é um escândalo em dose dupla

Indicado por Lula ao STF, o advogado Cristiano Zanin visita senadores no Congresso. Foto- Wilton Junior

 Cristiano Zanin  Foto- Wilton Junior

 

Por J.R. Guzzo

 

Escolha de Lula é uma imoralidade em estado puro, e Senado finge que tem autonomia para aceitar ou recusar indicação.

 

A nomeação do advogado Cristiano Zanin para a vaga aberta no Supremo Tribunal Federal – pois é exatamente disso que se trata, uma nomeação – é um escândalo em dose dupla. A escolha do nome, em si, já é uma imoralidade em estado puro. Como é possível, num país que se apresenta o tempo todo como “democrático” e “republicano”, o presidente da República colocar o seu próprio advogado pessoal, ninguém menos que ele, na mais alta Corte de Justiça do país – onde vai ficar pelos próximos 27 anos, até 2050? É um insulto. Em qual democracia séria do mundo se aceita uma coisa dessas? O segundo ato do escândalo é a feira livre que está formada em torno da indicação.

 

O nome de Zanin tem de ser aprovado pelo Senado, para satisfazer as formalidades da legislação – uma fantasia oca e hipócrita, porque não existe a possibilidade da rejeição do indicado, mas que é aproveitada pelos senadores para extorquir o governo. Vendem os seus votos de “sim” e como pagamento recebem empregos, verbas e privilégios. Para o presidente Lula não custa nada. É tudo pago com dinheiro do pagador de impostos.

 

Há, é claro, todo um vasto e caro espetáculo de teatro onde os atores fingem que se trata de coisa séria. O Senado finge que tem autonomia para aceitar ou recusar o nome de Zanin, como se sua voz valesse um tostão furado para alguma coisa. O nomeado vai fingir que respeita os senadores. Ambos vão fingir que a “sabatina” é uma sabatina de verdade, com perguntas e respostas voltadas para o interesse público.

 

A mídia vai fingir que está cobrindo um evento de importância capital para a nação – e por aí se vai. Mas o preço, à essa altura, já está acertado e até pago, pelo menos com uma entrada. O resumo desta opera é bem simples: Zanin, além de ser um desastre em si, vai sair muito caro para o brasileiro que está a 1 milhão de quilômetros de distância da decisão, mas vai pagar integralmente por ela (Estadão, 15/6/23)