14/07/2022

Novas tecnologias chegam ao campo, mas ainda há um caminho a percorrer

Novas tecnologias chegam ao campo, mas ainda há um caminho a percorrer
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Para gerente da Frísia, cooperativas têm um papel importante na ajuda da escolha e no treinamento dos produtores.

Muita coisa nova está chegando quando se trata de tecnologias voltadas para o campo. O importante é mostrar essas opções e dar possibilidades de escolhas ao produtor.

Nem tudo, no entanto, será futuro, e muita coisa poderá virar espuma e não trazer resultados práticos para o campo.

A avaliação é de Auke Dijkstra, gerente de estratégia e inovação da Frísia, cooperativa agroindustrial paranaense da região de Campos Gerais.

Para ele, porém, é preciso auxiliar o agricultor a identificar essas inovações e o ajudar na escolha das tecnologias que realmente elevem a produtividade e gerem mais qualidade aos alimentos.

Daí a importância, para ele, de um local de encontro de produtores e promotores, como a Digital Agro, uma feira anual que é realizada pela quinta vez. Neste ano, o evento está sendo realizado em Curitiba, e termina nesta quinta-feira (14).

A feira é organizada pela Frísia, e Dijkstra destaca a importância da cooperativa nessa liderança, uma vez que boa parte dessas inovações precisa de repasse de treinamento para os produtores.

Nem todos os produtores estão abertos a mudanças, principalmente porque nem tudo gera resultados imediatos, afirma o gerente da Frísia. Não há, porém, idade para a aceitação das tecnologias, embora os jovens sempre tenham mais afinidades com elas porque já convivem com o digital no dia a dia.

Olhando para as tecnologias apresentadas nas feiras de anos anteriores, e que foram implementadas no campo, Dijkstra destaca a plataforma de gestão, hoje adotada por boa parte dos produtores.

A adoção da biotecnologia também avança na região, com empresas colocando no mercado produtos para lavouras e melhoramento genético.

Segundo ele, a pulverização com drones, que parecia uma realidade distante há alguns anos, já está presente nas atividades agrícolas. O gerente destaca, ainda, uma iniciação das fábricas de bioinsumos na região.

No setor de leite, houve avanços na tecnologia de manejo, gestão da qualidade, controle de doenças, aferição de temperaturas do animal por meio de coleiras e sensores nas patas. Estes ajudam a identificar o período do cio das vacas. Tudo isso auxilia na identificação e na antecipação de problemas, diz ele.

O papel da cooperativa é identificar tudo o que há de melhor à disposição do produtor e sensibilizá-lo para a importância dessas inovações. A adoção de novas tecnologias será uma defesa do modelo de negócios do próprio produtor, afirma Dijkstra.

Nesta 5ª edição, a feira tem como destaque um programa de inovação aberta. Startups são incentivadas a buscar soluções para o frigorífico Alegra, pertencente às cooperativas Frísia, Castrolanda e Capal. Outras buscam novas opções de investimentos para os produtores, inclusive fora das propriedades.

As novas tecnologias permitem que o setor agrícola se prepare cada vez mais para a produção de um alimento com mais qualidade e que mostre os caminhos da produção. Afinal, essa é uma exigência do consumidor, afirma Dijkstra.

Para Otavio Celidonio, diretor-executivo do AgriHub, criado em 2016 para buscar inovações e tecnologias para o campo, é um grande desafio promover essas mudanças entre os produtores. Em 2020, o AgriHub passou a ser um instituto.

O produtor ainda tem um longo caminho a percorrer, mas a tecnologia já começa a chegar ao campo, principalmente nas grandes empresas, que estão mais bem estruturadas.

É preciso fazer o produtor enxergar a importância das mudanças de cultura e dos modelos de gestão. Muitos não estão preparados ainda para captar o valor trazido por essas inovações.

A assimilação das novas tecnologias, porém, deverá ser acelerada mais rapidamente a partir de agora. Elas são uma ferramenta de sucessão.

Diante das dificuldades de assimilação, os pais têm buscado mais a participação dos filhos nos negócios, afirma Celidonio.

Ouro por espelho 

O Brasil precisa parar de trocar ouro por espelho. É o recado de Alexandre Nepomuceno, chefe geral da Embrapa Soja, sobre a necessidade da adoção de novas tecnologias para a agregação de valor aos produtos brasileiros.

A distância entre a ciência e a prática está encurtando, e este é o momento dos investimentos, afirma o chefe da Embrapa Soja. É hora de o setor olhar mais para a genética, a base da agropecuária brasileira.

Legislações assertivas sobre edição gênica e RNAi nos diversos países antecipam e encurtam o período de chegada dessas tecnologias a um número maior de empresas e a mais culturas no campo.

Não há, porém, tecnologia sem incentivos, afirmou Nepomuceno na Digital Agro, realizada pela Frísia, em Curitiba. O agro é Tech, o agro é Pop, mas não pode ser ingênuo, diz ele (Folha de S.Paulo, 14/7/22)