10/04/2019

O Brasil e a revolução digital

O Brasil e a revolução digital

No País, mais de dois terços da população (71%) usam smartphones e, na média, os brasileiros estão conectados nove horas por dia, uma das mais altas taxas do mundo.

O Brasil tem números muito positivos em relação ao acesso e ao uso do mundo digital, aponta o estudo Brazil Digital Report, feito pela consultoria Mckinsey em parceria com o Brazil at Silicon Valley, evento organizado por estudantes brasileiros da Universidade de Stanford (EUA). Em 2008, 34% da população tinha acesso à internet. O porcentual quase dobrou em dez anos (67%). A média mundial é de 53%.

No País, mais de dois terços da população (71%) usam smartphones e, na média, os brasileiros estão conectados nove horas por dia, uma das mais altas taxas do mundo. A média nos EUA é de pouco mais de seis horas por dia. O Brasil também está entre os três países que mais usam plataformas de mídia social, como Facebook, Instagram, YouTube e WhatsApp.

Os dados revelam, assim, que a tecnologia não é uma barreira para o brasileiro, que se apresenta preparado para a revolução digital. No entanto, esse potencial, que poderia se transformar em um forte diferencial competitivo do País, é ainda pouco aproveitado em razão de alguns entraves, como a falta de infraestrutura adequada, investimentos ainda pequenos no setor de tecnologia e baixa produtividade do País, diz o estudo da Mckinsey.

São realidades contrastantes. O brasileiro está muito conectado à rede, mas a velocidade média da internet brasileira (13 Mpbs) é bem mais baixa do que a média global (31 Mbps). O mundo digital tem muitas disparidades no País. O acesso à internet e a capacidade de uso variam muito entre regiões, classes sociais e faixas etárias. Por exemplo, 95% do uso da internet concentra-se nas cidades. Nos últimos três meses, 71% dos brasileiros que vivem em cidades acessaram a internet. No campo, o porcentual foi de 44%.

Os números do comércio eletrônico no Brasil cresceram nos últimos anos. Em 2013, 31,3 milhões compraram pela internet. Em 2017, foram 55,1 milhões de compradores. No entanto, o e-commerce representa ainda apenas 5,1% do mercado nacional. A título de comparação, esse porcentual na China é de 20%; na Inglaterra, de 16%; nos Estados Unidos, de 12%; e na Alemanha, de 9%. “Há um problema de logística. A última milha no País, por questões de infraestrutura ou mesmo de segurança, é complicada, o que encarece a operação”, explica Nicola Calicchio, um dos responsáveis pelo estudo.

Já as grandes empresas de tecnologia têm no Brasil um grande público de consumidores e usuários. A Netflix, por exemplo, tem 7,5 milhões de assinantes, mais do que a principal empresa de TV a cabo nacional. São Paulo é a cidade com mais usuários do aplicativo de trânsito Waze no mundo (3,8 milhões de usuários).

Outro obstáculo para o desenvolvimento de uma economia digital é a burocracia. O Brasil está entre os menos favoráveis à abertura de negócios, na posição 109 do ranking do Banco Mundial. “Isso é muito nocivo para uma área em que falhar faz parte do negócio e é preciso virar a página rapidamente”, diz Calicchio.

O relatório destaca que, no Brasil, é especialmente difícil fechar uma empresa. Por questões burocráticas, o custo de encerrar um negócio pode ser até 44% mais alto do que o de abrir uma empresa, o que agrega ainda mais peso ao fracasso, desestimulando o empreendedorismo e a inovação. Vale lembrar que é alta a taxa de mortalidade das empresas no Brasil. Dois terços dos negócios não duram cinco anos. As causas são variadas: 16% fecham as portas por falta de clientes; 16%, por falta de capital; e 12%, por falta de conhecimento técnico, entre outros fatores.

Apesar desse cenário difícil, veem-se resultados positivos. Em três anos, o número de fintechs – startups de tecnologia que atuam no setor financeiro – cresceu de 50 para 400. Sete milhões de brasileiros já abriram contas em bancos digitais.

“O Brasil oferece muitas oportunidades e, ao mesmo tempo, tem muitos desafios – que são oportunidades de inovação – para impulsionar a produtividade, o crescimento econômico e os avanços sociais”, diz o relatório. Não há tempo a perder (O Estado de S.Paulo, 10/4/19)