13/11/2023

O complexo de vira-lata na busca por energia renovável

O complexo de vira-lata na busca por energia renovável

Adriano Pires Foto Divulgacao CBIE.jpg

Por Adriano Pires

As políticas públicas no Brasil precisam ser realizadas apontando para uma transição energética tupiniquim.

No último domingo (5), o Estadão publicou uma longa matéria que chamou a atenção. A Prefeitura de São Paulo anunciou a compra de ônibus elétricos em substituição ao diesel, com financiamento do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). À primeira vista, a notícia é muito boa e deveria merecer muitos elogios, dado que o objetivo seria melhorar o ar que o cidadão da cidade de São Paulo respira. Mas por que a notícia chamou a atenção? Pelo fato de o Brasil ter soluções nacionais que protegem o meio ambiente e que poderiam gerar mais empregos no País em vez de beneficiar a China. Aliás, sob o mesmo argumento de preocupação com a emissão de gás carbônico (CO2), geramos mais empregos na China do que no Brasil com a geração distribuída solar, dado que os painéis vêm quase na sua totalidade da China. O mesmo ocorre na geração eólica, em que o aço das pás é chinês, e não o aço verde produzido no Brasil.

O Brasil é, sem dúvidas, o país com maior diversidade de fontes primárias de energia, principalmente, de energias limpas e renováveis. Na matriz elétrica, 87% são fontes renováveis, e na matriz de transporte, 47%. Diante disso, o grande desafio é usar de forma correta, olhando para os atributos de cada fonte, no momento de decidir a escolha de combustíveis.

Quando a Prefeitura da cidade de São Paulo decide pela compra de ônibus elétricos, esquece que existem outras opções mais baratas com tecnologia e equipamentos nacionais. Temos o gás natural que poderia ser misturado ao biometano (gás verde) como substituto ao diesel. Esse combustível, além de reduzir as emissões, tem tecnologia nacional.

O nosso potencial de produção nos permite falar que temos um pré-sal caipira e uma grande oferta de gás natural localizada no pré-sal e na Amazônia. Além do mais, ao contrário dos ônibus elétricos, não precisaríamos fazer investimentos, que não são pequenos, em infraestrutura de abastecimento. No caso da cidade de São Paulo, a principal distribuidora de gás do Brasil, a Comgás, possui rede e infraestrutura adequada para abastecer os ônibus.

Dentro da diversidade energética que o País possui, a Prefeitura da cidade de São Paulo poderia ainda optar como combustível para os ônibus o etanol e o biodiesel, que geram muitos empregos com tecnologia 100% nacional. O Brasil é referência mundial na produção de biocombustíveis.

Quase a totalidade dos painéis solares usados no Brasil são produzidos na China.  Foto Tiago Queiroz   Estadão

Enfim, o investimento em ônibus elétricos está sendo feito com a explicação correta de melhoria das emissões. Porém, a escolha do combustível para atingir essa meta me parece errada. As políticas públicas no Brasil precisam ser realizadas apontando para uma transição energética tupiniquim, descolando-se de políticas feitas em outros países, como o processo de eletrificação das frotas. Temos de ter coragem de abandonar o complexo de vira-lata, que ao longo de anos vem impedindo que o Brasil aproveite em benefício de toda a sociedade as nossas vantagens comparativas (Estadão, 11/11/23)