25/11/2021

O futuro do agro sustentável chegou – Editorial O Estado de S.Paulo

O futuro do agro sustentável chegou – Editorial O Estado de S.Paulo

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O Summit Agronegócio mostrou que a agropecuária brasileira pode aumentar a produtividade com ganhos ambientais.

 Ao perene desafio socioeconômico de aumentar a produtividade, as últimas gerações acrescentaram o de preservar o meio ambiente. Em muitos setores – sobretudo o energético – esses desafios colidem, obrigando a um cálculo delicado de custos e benefícios enquanto as tecnologias aptas a solucionar o problema são desenvolvidas. No caso da agropecuária brasileira, a boa notícia é que já é possível neutralizar danos ambientais com ganhos de produtividade. O tema foi o foco do Summit Agronegócio do Estado.

A agropecuária é a conexão crucial dos dois principais compromissos assumidos pelo Brasil na Conferência Climática da ONU (COP) – a redução de 30% das emissões de gás metano até 2030 e o desmatamento zero até 2028. A pecuária responde por 70% das emissões de metano do País. Metade das emissões de CO2 é provocada pelo desmatamento e 95% das áreas desmatadas são destinadas à agropecuária.

Hoje, 57% dos pastos brasileiros apresentam alguma degradação – 26% em um grau severo. A recuperação dessas pastagens é a chave para cumprir as metas climáticas brasileiras e aumentar a produtividade da sua agropecuária. A vantagem é que isso não depende de tecnologias novas ou custosas. As variáveis do problema já foram equacionadas no Plano ABC (Agricultura de Baixa Emissão de Carbono). O desafio é implementá-lo em escala.

A mitigação das emissões agrícolas se dá em três frentes: aperfeiçoamento da dieta dos animais; intensificação da produção; e compensação pelo sequestro de carbono. O sistema de rotação da produção de grãos, carnes e madeira, conhecido como integração lavoura-pecuária-floresta, opera nas três frentes: ao recuperar pastos degradados, ele diminui a pressão por novas áreas de pastagens, sequestra carbono do ar e aumenta a eficiência da alimentação do gado, reduzindo o tempo para o abate.

Contudo, “se não acabar o desmatamento ilegal, todos esses esforços são inúteis”, lembrou o pesquisador da Embrapa Eduardo Delgado Assad. “Cada hectare desmatado precisaria de 240 hectares de pasto recuperado para compensar.” Também aqui o País tem meio caminho andado, contando com a legislação avançada, robusta e rigorosa do Código Florestal. É do interesse da sociedade brasileira, mas muito especialmente do agronegócio, exigir que o Executivo cumpra suas atribuições e execute devidamente a lei. Isso implica não só a fiscalização e a punição rigorosa aos desmates ilegais, mas mecanismos de compensação aos serviços ambientais prestados por produtores comprometidos com a lei.

Os especialistas ouvidos pelo Estado são unânimes em afirmar que o desafio de uma agricultura sustentável pode ser vencido com políticas que fomentem incentivos, financiamento e assistência técnica, sobretudo para os pequenos produtores. Se o País for capaz de apresentar um programa convincente na próxima COP, estará em condições de recolocar-se com plena autoridade na vanguarda da sustentabilidade agrícola, cumprindo a sua dupla vocação de celeiro do mundo e guardião do maior bioma tropical do planeta (O Estado de S.Paulo, 25/11/21)