O futuro incerto de Tereza Cristina no comando da Agricultura
Legenda: A ministra da Agricultura, Tereza Cristina (DEM-MS) - Adriano Machado/Reuters
No centro do fogo cruzado entre o Planalto e o seu partido, o DEM, ministra sofre pressão também dentro do seu próprio ministério.
Enquanto a pandemia do novo coronavírus avança pelo país, um novo conflito toma a cena política e coloca em xeque a condução do Ministério da Agricultura, pasta de relevância essencial neste momento de crise. Aumentou o clima já tenso entre o Planalto e o partido Democratas, que registrou uma baixa dentro do primeiro escalão do Executivo, com a saída de Luiz Henrique Mandetta do comando da Saúde.
Companheira de partido de Mandetta, a ministra da Agricultura, Tereza Cristina, tem se mostrado disposta a continuar no governo — pelo menos por enquanto. Desde que o ministro da Educação, Abraham Weintraub, fez troça com o principal parceiro comercial do país, a China, coube à ministra apagar o fogo e negociar pela manutenção de boas relações com os chineses.
Na inércia da atuação do ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, para costurar a continuação das relações diplomáticas e comerciais entre os dois países, ela engendrou reuniões com representantes do agronegócio chinês para colocar panos quentes nos diálogos. A ministra ficou irritada, mas tem a confiança do presidente para, nos bastidores, continuar os trabalhos.
Como antecipou a coluna Radar, o secretário de Assuntos Fundiários da pasta, Nabhan Garcia, anda costurando para derrubá-la do comando da Agricultura do país. Garcia foi uma indicação da área ideológica do governo e flerta com o cargo de ministro desde a assunção de Tereza — ele se apresenta como “vice-ministro”, cargo inexistente que aparece no cartão pessoal do secretário.
Legenda: Luiz Antônio Nabhan Garcia Tânia Rêgo/Agência Brasil
No Congresso Nacional, a permanência da ministra no governo ainda é considerada uma incógnita. Parlamentares do DEM avaliam que as relações entre o Palácio do Planalto e o partido ganharam novos contornos nos últimos dias com o aumento do tom das críticas de Bolsonaro à atuação do presidente da Câmara, correligionário do DEM, Rodrigo Maia, e a resposta à altura dada pelo deputado em entrevista às Páginas Amarelas de VEJA.
A ministra, porém, não foi indicação direta do partido — como foi o caso de Mandetta, com a costura do ministro da Cidadania, Onyx Lorenzoni. Ela tem o apoio da Frente Parlamentar do Agronegócio — coisa que, sabe Bolsonaro, Garcia não tem.
A avaliação sobre a permanência de Tereza Cristina passa pela avaliação de que a ministra é mais importante para Bolsonaro do que para o partido. Em condição de anonimato, parlamentares admitem que a atuação de Tereza é mais relevante para o presidente do que para o DEM, principalmente para conduzir os diálogos com parceiros comerciais e garantir o abastecimento em meio à devastadora crise causada pela pandemia do coronavírus (Covid-19).
Nos bastidores, ela defendia o trabalho de Mandetta e, apesar de as duas famílias serem próximas — os avós de ambos os ministros, de Campo Grande, eram amigos —, ela não faz parte da mesma vertente política dentro do partido. Porém, suas relações com a estrutura partidária garantem a permanência da ministra no DEM.
Da mesma forma que os trabalhos técnicos da ministra no comando da Agricultura, por ora, estão mantidos. “Se você me perguntar daqui duas semanas, já não sei”, afirma um alto executivo do Ministério da Agricultura (Veja.com, 17/4/20)
Alvo do 'gabinete do ódio',ministra recorre a Bolsonaro para barrar ataques
Legenda: Ministra da Agricultura, Tereza Cristina Foto: Adriano Machado/ Reuters
Tereza Cristina virou alvo de críticas na internet após as crises criadas por setores governistas com a China e a partir da demissão de Mandetta, seu correligionário do DEM.
Uma das estrelas do governo, a ministra da Agricultura, Tereza Cristina, vai pedir ao presidente Jair Bolsonaro, na segunda-feira, 20, durante despacho no Palácio do Planalto, que ele interceda junto às tropas bolsonaristas para suspender a escalada de ataques a ela pela internet após as crises artificiais criadas por setores governistas com a China e principalmente a partir da demissão de Luiz Henrique Mandetta do Ministério da Saúde.
Bolsonaro demitiu Mandetta na tarde de quinta-feira e naquela mesma noite já atirava contra seu novo inimigo número um, o presidente da Câmara, Rodrigo Maia. Tereza Cristina é do DEM, como Maia, Mandetta, o presidente do Senado, Davi Alcolumbre, e o governador de Goiás, Ronaldo Caiado, que acaba de romper com o Planalto.
Ela é também do Mato Grosso do Sul, como Mandetta, e líder ruralista, como Caiado. Sua assessoria identifica articulações e um aumento considerável de ataques contra ela na internet, com o dedo do chamado “gabinete do ódio”, o grupo do Planalto que dispara impropérios e fakenews contra adversários reais ou imaginários do presidente.
No primeiro ano de governo, o DEM teve três ministros: Tereza Cristina, Mandetta e Onyx Lorenzoni, depois rebaixado da Casa Civil para o Ministério da Cidadania. Diante da guerra de Bolsonaro com o partido, Onyx ainda não sabe se deve ou não migrar do DEM para o Aliança, o partido que o presidente tenta criar. Tereza Cristina está sendo indiretamente forçada a optar entre o Ministério da Agricultura e o seu partido. Uma “escolha de Sofia” que ela não está disposta a fazer, pois se sente confortável no DEM e tem boa relação com Bolsonaro. Como sempre diz, neste momento seu negócio é a Agricultura, não a política.
A principal diferença entre os casos dos dois ministros é justamente essa: Mandetta batia de frente com o próprio presidente da República por divergências quanto ao isolamento social no combate ao coronavírus, enquanto o problema de Tereza Cristina não é Bolsonaro. Ela é respaldada por ele, mas alvo de hostes bolsonaristas, principalmente das mais ligadas ao seu setor, a Agricultura. A outra diferença é que, conforme tem dito a aliados e amigos, a ministra não tem a menor intenção de ser “fritada” publicamente durante semanas, como foi Mandetta. Se tiver que sair, quer sair logo. Com mandato de deputada, ela atravessa a Esplanada dos Ministérios e volta para a Câmara.
Além da questão político-partidária em torno do DEM, há também a questão ideológica envolvendo a China. Enquanto o deputado Eduardo Bolsonaro e o ministro da Educação, Abraham Weintraub, fazem provocações contra o maior parceiro comercial do Brasil, um culpando a China pela pandemia, outro usando o personagem de quadrinhos Cebolinha para ironizar os chineses, Tereza Cristina trabalha em sentido oposto: restabelecer pontes.
A China é a maior importadora de soja do Brasil. No ano passado, foi responsável por 80% das compras do produto e pela entrada de R$ 20 bilhões no setor. Afinal, como lembram integrantes da Comissão de Agricultura da Câmara, da Parlamentar do Agronegócio e da Frente Parlamentar Brasil-China, em maioria bolsonaristas e aliados da ministra, o país tem 1,4 bilhão de bocas a serem alimentadas. Nunca é hora de brigar com a China, muito menos em tempos de pandemia por covid-19, as economias esfarelando e o mundo de ponta cabeça.
A grande preocupação, não só da ministra, mas de toda a agricultura, é que os Estados Unidos entrem no vácuo e se habilitem como principal exportador para a China, tirando mercado brasileiro. E não é só em relação à soja. O Brasil também abriu brechas na China para exportar carne bovina, de frango e de porco. Se essas brechas se fecharem, o que fazer com a produção?
Até por isso, a ministra participou de uma videoconferência de mais de uma hora com o embaixador americano em Brasília, o recém-chegado Todd Chapman. Ela não passou detalhes a seus interlocutores do Congresso, limitando-se a dizer que a conversa foi “muito boa” e deixou claro que a questão agrícola não é de aliança política com esse ou aquele país, mas sim “de mercado”.
Além da Frente, associações e órgãos ligados à agricultura têm defendido a ministra e criticado os ataques do filho do presidente e do ministro da Educação contra a China. Alguns se prontificaram, inclusive, a fazer moções e manifestos a favor de Tereza Cristina, que desestimula iniciativas do gênero e, nas conversas com integrantes desses grupos, sempre se refere ao “nosso governo”, elogia o presidente Bolsonaro e diz que a relação entre eles é muito boa.
O agronegócio, porém, não é um monobloco. Além dos favoráveis, há também os adversários da ministra, que pressionam por mais recursos e agora usam a crise para tentar arrancar mais privilégios. São esses que, na opinião dos aliados dela, estão se aproveitando do ambiente político e dos atritos do presidente com o DEM para tentar miná-la junto ao Planalto. A palavra está com Bolsonaro (O Estado de S.Paulo, 19/4/20)
Polêmicas com China não são inteligentes, diz líder de frente agropecuária
Legenda: O deputado Alceu Moreira (MDB-RS) Foto: Cleia Viana/Câmara dos Deputados
Para Alceu Moreira, presidente da Frente Parlamentar da Agropecuária, provocações podem causar danos à relação do Brasil com a China.
O presidente da Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA), deputado Alceu Moreira (MDB-RS), disse neste domingo, 19, que as polêmicas recentes com a China não são inteligentes. Para o deputado, as polêmicas geradas podem, sim, provocar danos à relação do Brasil com a China.
Ele teceu os comentários sem citar os nomes do deputado federal e filho do presidente, Eduardo Bolsonaro, e do ministro da Educação, Abraham Weintraub, que recentemente fizeram declarações polêmicas sobre a China e o povo chinês, que receberam respostas duras da Embaixada da China no País.
"Quando a quantidade de ignorantes é grande, as pessoas falam com convicção que os interesses entre os dois países são tão grandes que as críticas à China se tornam pequenas", disse o deputado presidente da FPA.
Para Moreira, as pessoas têm o direito à liberdade de expressão, de falarem o que querem e que o embaixador da China, Yang Wanming responde como achar melhor. No entanto, de acordo com deputado, estas polêmicas são prejudicais. "Não é inteligente", disse Moreira. "Quero dizer que isso não é inteligente. A bobagem não tem o tamanho do sobrenome de quem a produz. Continua sendo bobagem", criticou o deputado (Estadão.com, 19/4/20)