O imperativo da energia limpa – Editorial Folha de S.Paulo
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Reduzir emissão de carbono é único meio de evitar desastre planetário; Folha inicia campanha por transição energética.
Difícil imaginar setor importante da atividade econômica que cresça com o dinamismo das energias limpas. Assiste-se a um frenesi de investimentos, ainda insuficientes, porém, para destravar uma transição energética capaz de conter o aquecimento global.
Só no ano passado se agregou o equivalente a 36 Itaipus de capacidade de geração de eletricidade por fontes de baixo carbono. A Agência Internacional de Energia prevê que o salto de aportes deva triplicar a geração potencial por fontes limpas até 2030.
Espera-se que energias solar e eólica venham a ser responsáveis por 95% da expansão. As modalidades limpas ultrapassarão o carvão mineral na geração, alcançando 42% da matriz elétrica global.
Eis aí boa notícia para o Brasil, que por seu clima oferece grande potencial de expansão dessas fontes. Espera-se que o país mais que duplique, até 2028, tudo que se instalou delas nos últimos cinco anos.
A matriz elétrica brasileira é uma das mais limpas do planeta, com 80% ou mais de renováveis. O panorama muda quando se considera a energia total, incluindo o setor de transportes, o que reduz essa parcela para 45% —ainda assim notável, diante dos quase 82% de combustíveis fósseis na matriz mundial.
Somente 23% das emissões nacionais de gases do efeito estufa provêm do consumo de energia. Dois terços se originam de desmatamento e agropecuária.
O cenário mundial, do ponto de vista da mudança do clima, é alarmante. Com o predomínio dos fósseis na produção de energia, apesar de todo o investimento, a trajetória atual não se mostra compatível com as metas do Acordo de Paris.
A transformação necessária, gigantesca, gera resistências em setores políticos e empresariais, perspectiva que pode anuviar-se com a ascensão de líderes negacionistas. Mecanismos de mercado, valiosos, serão insuficientes. São imprescindíveis a ação corajosa de governos e o apoio decidido da sociedade.
Esta Folha, que não vê alternativa à energia limpa para evitar um desastre planetário, dá início a uma campanha por sua expansão no país, que envolverá seminários, novas colunas e cobertura intensiva (Folha, 19/2/24)