22/11/2019

O momento é de festa na pecuária, mas também traz preocupação

O momento é de festa na pecuária, mas também traz preocupação

Legenda: Linha de produção do frigorífico Kerchin, próximo à cidade de Tongliao, na Mongólia Interior

 

Pecuarista paga preço elevado por bezerro e uma eventual queda no valor da arroba de boi gordo provocará um baque nas finanças do produtor.

Tudo é festa na pecuária. A afirmação é de César de Castro Alves, consultor de agronegócios do Itaú BBA. O cenário é muito positivo para o setor.
 
Patrocinada pelos chineses, essa festa também traz preocupações. Até quando dura esse fôlego e a necessidade de importações da China?, pergunta o analista.
 
Os pecuaristas estão adquirindo bezerro a R$ 2.000 para a engorda, o que exige uma manutenção dos elevados preços da arroba para uma remuneração do setor lá na frente.
 
Se a China, por algum motivo, pisar no freio nas compras, o mercado interno não terá renda para garantir essa alta da carne.
 
Entre esses motivos que poderiam provocar exportações menores de proteínas do Brasil para a China estão desde a chegada de uma vacina contra a peste suína africana a um acerto comercial entre Estados Unidos e China.
 
Na avaliação de Alves, o produtor precisa olhar para a frente e buscar proteção contra eventual desaceleração dos preços.

Pedro Fernandes, diretor de agronegócio do Itaú BBA, diz que é bom o pecuarista manter escala. O perigo é ele, por exemplo, dobrar o confinamento e os preços da arroba recuarem.

Para o frigorífico é mais fácil porque fecha um turno e se ajusta. Para o pecuarista, a situação é mais complexa. "Afinal, é o mercado externo que está pagando a conta", diz ele.

O momento, no entanto, é de pujança para o setor de proteínas do Brasil, principalmente para a carne bovina.
 
No caso da carne de frango, a China ligou os motores para aumentar a produção. No de carne suína, está buscando o produto na Europa. Com relação à carne bovina, o Brasil está praticamente só no fornecimento dessa proteína para a China.
 
O Itaú BBA fez, nesta quinta-feira (21), uma avaliação do agronegócio para este ano e traçou perspectivas para o próximo.
 
Antonio Barreto, analista de alimentos e de agronegócio do banco, e que também participou do evento, diz que os preços elevados irrigam toda a cadeia, com lucros para produtores e frigoríficos.
 
A rentabilidade é maior, porém, para quem exporta. Além de uma demanda externa mais atraente, os exportadores têm o câmbio a seu favor. "Quem exporta, faz boas margens, apesar dos preços elevados da arroba", diz o analista.
 
A rentabilidade na avicultura no Brasil, porém, pode ser a de maior volatilidade. Os chineses conseguem aumentar a oferta de frangos rapidamente, porque a produção é de ciclo curto, mas não fazem o mesmo com a suinocultura e com bovinocultura, afirma Barreto (Folha de S.Paulo, 22/11/19)