O pecado e a corrupção – Por Tarcisio Angelo Mascarim
Quando olho para 15 anos atrás, quando do início da generalização das corrupções no Brasil com a finalidade de se perpetuar no poder, com compras de votos e outros mecanismos, usando principalmente as empresas públicas, como a Petrobras e a Eletrobras, e não vemos até hoje alguém se arrepender, pelo contrário, só vemos corruptos e corruptores alegando inocência perante a lei, sinto a necessidade de abordar o assunto que dá título a este artigo: o pecado e a corrupção.
Por isso, tomo a liberdade de transmitir aos leitores a definição de corrupção, conforme apresentado no Google, bem como as palavras do Papa Francisco em suas meditações matutinas na Santa Missa, no dia 3 de abril de 2017, com o título “A corrupção é pior que o pecado”, para tentar ajudar aos praticantes das corrupções a se arrependerem, para a sua salvação.
Corrupção é o efeito ou ato de corromper alguém ou algo, com a finalidade de obter vantagens em relação aos outros por meios considerados ilegais ou ilícitos. Etimologicamente, o termo “corrupção” surgiu a partir do latim corruptus, que significa o “ato de quebrar aos pedaços”, ou seja, decompor e deteriorar algo. A ação de corromper pode ser entendida também como o resultado de subornar, dando dinheiro ou presentes para alguém em troca de benefícios especiais de interesse próprio. A corrupção na política como a do Brasil pode estar presente em todos os poderes do governo, como o Legislativo, Judiciário e Executivo. No entanto, a corrupção não existe apenas na política, mas também nas relações sociais humanas, como o trabalho, por exemplo. Para que se configure a corrupção, são precisos no mínimo dois atores: o corruptor e o corrompido, além do sujeito conivente e o sujeito irresponsável, em alguns casos.
No Brasil está tramitando um projeto de lei que passa a considerar a corrupção um crime hediondo, conforme previsto no decreto federal que regulamente a Lei 12.846/13.
Um dos casos mais conhecidos de corrupção no Brasil foi o chamado “mensalão”, que foi denunciado em 2005 pelo então deputado Roberto Jefferson como um esquema de pagamentos que eram feitos mensalmente a deputados para favorecer interesses político-partidários. Outro caso que teve destaque internacional envolve a acusação de corrupção da Petrobras, empresa estatal de extração de petróleo brasileira.
Agora apresento as “meditações matutinas” do Papa Francisco: Na encruzilhada profundamente humana entre “inocência e pecado, corrupção e lei”, Jesus pede que olhemos para os outros sempre com misericórdia, sem nos arvorarmos em juízes do seu coração. “A palavra de Deus que hoje a Igreja oferece à nossa meditação parece ser sobre duas mulheres colhidas em adultério: um adultério era fingido, fictício; o outro verdadeiro”. A referência é à vicissitude de Susana, narrada no livro de Daniel (13,1-9.15-17.19-30.33-62), e à da mulher surpreendida em adultério, descrita por João no seu Evangelho (8, 1-11). Através destas duas mulheres, “a mensagem é profunda” porque, nas duas leituras, “se encontram quatro pessoas, quatro situações diferentes”. E é precisamente “isto que a Igreja quer que hoje pensemos e vejamos: encontram-se a inocência e o pecado, a corrupção e a lei”. Com efeito, insistiu o Papa, da liturgia sobressai “um encontro entre estas quatro realidades: inocência, pecado, corrupção e lei”.
Na sua meditação, o Papa começou pela “inocência desta mulher, Susana, acusada falsamente por dois juízes idosos: ela é obrigada a escolher: ou fidelidade a Deus e à lei, ou salvar a vida”. Talvez “Susana tivesse outros pecados, pois somos todos pecadores”. Com efeito, “a única mulher que não pecou é Nossa Senhora; todos os outros, todos nós, pecamos”. Mas “Susana era uma mulher com pecados veniais, não era uma adúltera, era fiel ao marido”; e esta é “a inocência” apresentada pela liturgia. Depois, eis “o pecado: a outra mulher – João narra no Evangelho – foi surpreendida em pecado, realmente tinha pecado, era uma adúltera, fora infiel ao marido”. No final chega “a corrupção”: a “dos juízes de ambos os casos, quer com Susana quer com adúltera”, porque “nos dois casos os juízes eram corruptos”. E enfim há “a lei, plenitude da lei: Jesus”.
Portanto, na liturgia “encontram-se” estas quatro realidades: “inocência, pecado, corrupção e lei”, ou seja, a “lei na sua plenitude”. Sem dúvida, não é o único caso evangélico de “juízes corruptos”: com efeito, no cap. 18 de Lucas “Jesus fala de outro, que não temia a Deus, não se interessava por ninguém”. De resto, “no mundo sempre houve juízes corruptos” e também “hoje, em todas as partes do mundo”. A questão, disse, é “porque nasce a corrupção na pessoa”.
Na realidade, a corrupção é pior que o pecado, porque posso pecar, “escorrego, sou infiel a Deus, mas depois procuro não pecar mais ou resolver a questão com o Senhor, ou pelo menos sei que não é correto”. Ao contrário, “a corrupção é quando o pecado entra lentamente na tua consciência e não deixa espaço nem sequer para o ar, e tudo se torna pecado: isto é corrupção”.
Por sua vez, os corruptos “creem que agem bem assim, julgam-se impuníveis”, frisou Francisco. Além disso, “no caso de Susana”, os dois anciãos “até confessam a sua corrupção” e “dizem a verdade: foram corrompidos pelos vícios da luxúria”. E assim dizem a Susana: “Eis que as portas do jardim estão fechadas, ninguém nos vê e nós ardemos de paixão por ti; consente e concede-te a nós. Caso contrário, acusar-te-emos; diremos que um jovem estava contigo e por isso pediste às tuas servas para sair”. Em síntese, dizem: “ou fazes isto ou daremos falso testemunho”.
“Não é o primeiro caso que na Bíblia aparecem falsos testemunhos”, afirmou o Papa. “Pensemos em Nabot, quando a rainha Jezabel dá todo aquele falso testemunho; pensemos em Jesus, que é condenado à morte com falso testemunho; pensemos em Santo Estêvão”.
Mas, advertiu o Pontífice, citando o trecho evangélico de João, “são corruptos também os doutores da lei que levam esta mulher – escribas, alguns fariseus – e dizem a Jesus: ‘Mestre, esta mulher foi colhida em adultério. Na lei, Moisés mandou-nos lapidar mulheres como esta. Que dizes Tu?’”. Se contra Susana “era um falso testemunho, este é verdadeiro”. E se Susana “era inocente, esta era pecadora”. E “também eles são juízes”. Com Susana, os anciãos “perderam a cabeça, deixando que a luxúria se apoderasse deles”. Estes, ao contrário, “perderam a cabeça fazendo crescer em si uma interpretação da lei tão rígida que não deixava espaço ao Espírito Santo: corrupção de legalidade, de legalismo, contra a graça”.
“Além disso há a quarta pessoa, Jesus: a plenitude da lei”, explicou Francisco. E “ele encontra-se como mestre da lei diante dos mestres da lei: ‘Que dizes Tu?’, perguntam-lhe”. Aos “falsos juízes que acusavam Susana” Jesus responde “pela boca de Daniel: ‘Estirpe de Canaã e não de Judá, a beleza seduziu-te, a paixão perverteu o teu coração! Assim fazíeis com as mulheres de Israel e elas, amedrontadas, uniam-se a vós’”. E “ao outro diz: ‘Ó homem envelhecido no mal! Eis que se revelam os pecados por ti cometidos no passado, quando emitias sentenças injustas, oprimindo os inocentes e absolvendo os malvados’”.
“Eis a corrupção destes juízes”, prosseguiu, referindo-se ao trecho do Antigo Testamento. Ao contrário, “aos outros juízes Jesus diz poucas palavras: ‘Quem de vós estiver sem pecado, seja o primeiro a atirar uma pedra contra ela’”. Depois, assim se dirige à pecadora: “Nem eu te condeno. Vai e não voltes a pecar”. E “esta – explicou o Papa – é a plenitude da lei; não a dos escribas e fariseus que tinham corrompido a sua mente fazendo muitas leis, sem deixar espaço à misericórdia: Jesus é a plenitude da lei e julga com misericórdia”.
Assim o Senhor “liberta uma mulher inocente através do profeta do povo”. E “aos juízes corruptos diz – ouvimos palavras duras da boca do profeta – ‘envelhecidos nos vícios’”. Depois “aos juízes corrompidos por uma atitude malvada diante da lei, diz: ‘Quem de vós estiver sem pecado, seja o primeiro a atirar uma pedra contra ela’”. Portanto “Jesus, o totalmente inocente, à inocente pode dizer ‘mãe’, porque a sua mãe é a única inocente”.
Concluindo, o Papa convidou a pensar “naquele caminho, na maldade com que os nossos vícios julgam as pessoas”, porque “também nós, no coração, julgamos os outros”. E é oportuno interrogar-nos se “somos corruptos ou ainda não”. Então, é bom parar e olhar para “Jesus, que julga sempre com misericórdia: ‘Nem eu te condeno. Vai e não voltes a pecar’”.
Depois destas lições colocadas, espero que este artigo seja lido pelos praticantes da corrupção; que eles deem uma volta para trás, arrependam-se do que fizeram até agora e sigam o caminho de Jesus, que é a plenitude da lei e julga com misericórdia (Tarcisio Angelo Mascarim é sócio e administrador da Mascarim & Mascarim Sociedade de Advogados. Leia mais artigos no www.tarcisiomascarim.com.br)