02/05/2024

O perigo para a pecuária que poderá vir dos Estados Unidos

O perigo para a pecuária que poderá vir dos Estados Unidos

Fazenda em Rockford, em Illinois, nos EUA - Jim Vondruska - 9.abr.2024 Reuters

 

Após avanço em granja de aves, influenza se espalha por rebanho de gado leiteiro.

O mundo começa a conviver com mais uma doença animal, e, desta vez, ela vem dos Estados Unidos. O país tem grande potencial de recursos econômicos para adaptar seu sistema de vigilância sanitária, mas não consegue se livrar da influenza aviária.

Em 2022, o vírus H5N1 reapareceu na produção de aves. Neste ano, passou para vacas leiteiras. Além dos graves efeitos econômicos no sistema produtivo, a preocupação aumenta com relação à saúde humana.

Na avicultura, os americanos já foram obrigados a eliminar 91 milhões de aves infectadas pela influenza aviária desde o início de 2022, quando reapareceu a doença no país.

A doença se espalhou rapidamente. Já são 1.128 focos em 519 municípios de 48 estados. Quando a presença do vírus parecia diminuir, 11 novas ocorrências surgiram nos últimos 30 dias.

A partir de março, os americanos têm uma nova preocupação, devido à extensão da gripe aviária para vacas leiteiras. Neste caso, o governo ainda tem mais perguntas do que respostas.

Ainda sem ter uma conclusão sobre como a influenza apareceu entre bovinos e como ocorre a transmissão, os órgãos de vigilância sanitária americanos veem a doença espalhar por vários rebanhos.

Após a primeira detecção no Texas, no final de março, o vírus já está presente em animais de nove estados. As principais suspeitas nessa infecção vêm de aves silvestres.

As preocupações econômicas são grandes, uma vez que o setor movimenta boa parte da economia da agropecuária do país. Os Estados Unidos são os maiores produtores mundiais de carne de frango e têm o quarto maior rebanho de bovinos do mundo.

No ano passado, as exportações de carne bovina e seus derivados movimentaram 1,29 milhão de toneladas, com receitas de US$ 10 bilhões. No setor de aves, as exportações foram de 3,89 milhões de toneladas, com rendimento de US$ 5,5 bilhões.

Apenas em produtos lácteos, os americanos exportaram 2,63 milhões de toneladas, no valor de US$ 8 bilhões. As exportações de animais vivos renderam US$ 1,12 bilhão no ano passado. As doenças influenciam as exportações americanas, principalmente as dos produtos provindos das regiões afetadas.

Após o surgimento da influenza aviária em vacas leiterias, a Colômbia foi o primeiro país a colocar barreiras nas importações dos Estados Unidos. Em 2023, os colombianos gastaram US$ 64 milhões nos Estados Unidos com compras de carne bovina e de lácteos.

Além de eventuais perdas econômicas, como queda no emprego, renda no campo, produção e exportação, há uma grande preocupação com a saúde humana. Pesquisa de órgão de administração de alimentos do governo indicou que uma em cada cinco amostras de leite comercial testadas no país continha partículas do vírus H5N1.

 

A comunidade científica diz que pouco se sabe sobre a extensão do vírus e a pesquisa mostra que ele está espalhado mais do que se imaginava. Não recomendam o consumo de produto lácteo cru, não só nos Estados Unidos, mas em todos os demais países.

A pasteurização pode inativar o vírus, mas ainda são necessários testes adicionais para confirmar que não haja vírus infeccioso no leite, afirmam pesquisadores.

A presença do vírus em vacas leiteiras fez o Serviço de Inspeção Sanitária Animal e Vegetal dos Estados Unidos adotar novas medidas de controle no setor, que incluem cuidados na movimentação de animais entre estados, testes obrigatórios e maior rastreabilidade.

Pesquisadores avaliam que o vírus existe há mais de 20 anos, mas que agora se espalha rapidamente por aves silvestres, passa por mamíferos, como ursos e raposas, e chega a vacas leiteiras e a humanos, como o caso ocorrido no Texas.

São necessários esforços adicionais de vigilância e de investigação, afirmam, para diminuir a possibilidade de um risco pandêmico. Quando um vírus se adapta a um mamífero _o que ocorreu com as vacas leiteiras, tem potencial maior para infectar humanos, o que traria um grande risco para a saúde pública.

As vias de infecção e de transmissão deste vírus altamente patogênico em gado leiteiro ainda são pouco identificadas. Agora os cuidados maiores devem ser com a biossegurança dos animais, principalmente porque as vacas ficam expostas ao ar livre, em locais frequentados por aves transmissoras.

Legisladores americanos querem restaurar uma lei de preparação para pandemias e riscos, vigente durante a Covid, mas que caducou no ano passado.

O serviço de inspeção sanitária animal e vegetal do Usda (Departamento de Agricultura dos Estados Unidos), em uma avaliação da influenza aviária em gado leiteiro na quarta-feira (24), constatou que ainda há muitas perguntas sobre o assunto, mas que também já há evidências que possam ser confirmadas.

O vírus foi transmitido por aves migratórias, mas o transporte, contato com o leite e utilização das máquinas também são meios de transmissão.

O Usda diz que está acompanhando a evolução, a eficácia e o custo do desenvolvimento das vacinas contra o vírus (Folha, 1/5/24)