21/09/2018

O pessimismo dos brasileiros – Editorial O Estado de S.Paulo

O pessimismo dos brasileiros – Editorial O Estado de S.Paulo

Em 2013, 79% dos brasileiros afirmavam que as novas gerações teriam uma melhor situação do que seus pais; hoje, apenas 42% acreditam em melhora para as crianças de hoje.

Segundo recente pesquisa do Pew Research Center, realizada em 27 países, apenas 9% dos brasileiros avaliaram como positiva a atual situação econômica do País. Para 48% dos entrevistados, a economia nacional está muito ruim e para 42%, ruim. Só a Grécia e a Tunísia receberam avaliações mais negativas do que o Brasil. Apenas 4% dos gregos disseram que a atual situação econômica do seu país é boa. Na Tunísia, o porcentual foi de 8%. Nos Estados Unidos, por exemplo, quase dois terços da população (65%) avaliaram a economia de seu país como positiva.

Quando inquiridos sobre o futuro – se as crianças de hoje terão, quando adultas, melhor situação financeira do que a de seus pais –, os brasileiros mostraram-se pessimistas. Para 53% dos entrevistados, a situação estará pior. Apenas 42% afirmaram que deverá haver melhora e 10% disseram que a situação permanecerá a mesma. Em 2013, 79% dos brasileiros afirmavam que as novas gerações teriam uma melhor situação do que seus pais.

O pessimismo quanto ao futuro não é exclusivo do Brasil. Em 18 dos 27 países pesquisados, a maioria dos entrevistados afirmou que as crianças de hoje terão uma situação financeira pior do que seus pais. Na França, o porcentual foi de 80%; no Japão, 76%; e na Espanha, 72%.

As edições anteriores da pesquisa já haviam detectado esse pessimismo nos países desenvolvidos. A novidade deste ano é a sua presença, muitas vezes predominante, também nos países emergentes.

Pew Research Center também avaliou como a população de cada país vê a situação atual em relação às circunstâncias de 20 anos atrás. Sobre este ponto, apenas 34% dos brasileiros afirmaram que houve melhora. Para 43% dos entrevistados, a situação atual é pior e para 22%, é similar. 

Ainda que haja exceções – na Índia, por exemplo, 65% dos entrevistados afirmaram que hoje a situação econômica é melhor do que há 20 anos –, na maioria dos países constata-se uma nostalgia em relação à economia dos tempos anteriores à crise de 2008. No caso da Índia, há uma razão para o otimismo: desde 1990, o Produto Interno Bruto (PIB) per capita aumentou 266%.

Segundo o Pew Research Center, a avaliação negativa do momento presente é frequentemente acompanhada de uma simpatia por partidos de viés populista. O fenômeno foi observado, por exemplo, na França e na Espanha. Ainda que quase metade da população francesa avalie de forma positiva a economia, apenas um quarto dos partidários da Frente Nacional, de Marine Le Pen, compartilha essa mesma avaliação. Já na Espanha, os apoiadores do partido populista de esquerda Podemos tendem a ter uma visão mais negativa sobre a economia do que o restante dos espanhóis.

Como lembra o estudo, a percepção negativa sobre a economia não significa que a economia esteja de fato piorando. Por exemplo, de 1990 a 2017, o PIB per capita, corrigido pela inflação e calculado a partir da Paridade do Poder de Compra (PPC), melhorou significativamente na maioria das nações, de acordo com os dados do Banco Mundial.

A comparação entre a situação atual e o passado recebe forte influência das opções políticas pessoais, como, por exemplo, se o partido do entrevistado está ou não no poder. Nos Estados Unidos, os republicanos (48%) mostraram-se mais propensos que os democratas (22%) a afirmar que a atual situação é melhor do que a de duas décadas atrás. Na Polônia, 80% dos partidários do PiS, que está hoje no poder, acreditam que a atual situação financeira melhorou nos últimos 20 anos. Já em relação ao restante da população, esse porcentual cai para 64%.

Seria de esperar que o pessimismo do brasileiro em relação à economia levasse o eleitor a aproveitar o próximo pleito para consagrar um governo comprometido com as reformas. Não é, no entanto, o que as pesquisas de opinião têm mostrado. Constata-se significativo apoio a quem, além de não desejar mudar o panorama atual, foi causa do que aí está. Tal desconexão preocupa (O Estado de S.Paulo, 21/9/18)