O PT menospreza os riscos de 2026 – Por Elio Gaspari
LULA - Ueslei Marcelino - 13.nov.2023 Reuters.jpg
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva recebe cidadãos repatriados da Faixa de Gaza, em Brasília -
Às vezes, é um candidato que perde, não o outro que ganha.
Nas eleições presidenciais, é comum que um candidato saia vitorioso muito mais pela fraqueza do adversário do que pelo vigor de sua proposta. Em 2022 e em 2018, as vitórias de Lula e de Bolsonaro deveram-se mais à vulnerabilidade do derrotado. Em 2022 houve mais votos contra Bolsonaro do que a favor de Lula. Em 2018, com Bolsonaro havia acontecido o contrário. Ele prevaleceu, ajudado muito mais por um sentimento antipetista do que por suas ideias, que eram poucas e confusas.
O primeiro ano de mandato de Lula está para terminar, com um desempenho que cultiva a agenda negativa. A situação da economia e as amarras políticas dificultam-lhe a agenda positiva, mas uma certa autoconfiança típica de quem está no poder mostra-se como fonte alimentadora do voto contra.
Dois episódios recentes:
Primeiro, a classificação dos crimes de guerra de Israel em Gaza como atos "terroristas". Para um presidente que assumiu com áulicos sonhando em levá-lo ao Prêmio Nobel da Paz, da Venezuela à Ucrânia, Lula atravessou continentes para escorregar em cascas de bananas. Na guerra de Israel contra o Hamas, uma frase palanqueira desperdiçou o prestígio adquirido pela diplomacia brasileira no Conselho de Segurança da ONU.
Num segundo caso, o governo transformou uma limonada em limão com o episódio dos acessos de Madame Tio Patinhas aos escalões do Ministério da Justiça.
Indo-se aos fatos: em março passado a senhora, mulher de um chefe do Comando Vermelho, visitou hierarcas e, na manhã de segunda-feira (13), ela foi exposta. À tarde, o Ministério da Justiça mudou o seu protocolo de acesso a autoridades.
Houve um erro e foi corrigido. Seria o prenúncio de uma agenda positiva. Desde então, contudo, marchou-se heroicamente em busca de uma agenda negativa. Quem reclama é fascista, a madame tinha o direito de apresentar seus pleitos humanitários, inclusive com passagens pagas pela Viúva.
A segurança pública tornou-se um assunto relevante na agenda nacional e as mazelas da Bahia tisnam o desempenho dos governos petistas do estado. Até agora o Planalto respondeu com planos ambiciosos e notoriamente fracassados. Talvez possam dar certo, mas chamar de fascista quem critica a ida de Madame Tio Patinhas aos gabinetes do Ministério da Justiça serve apenas para levar água ao monjolo da agenda negativa que já serviu de semente para o bolsonarismo.
Eremildo, o idiota, acha que juízes deveriam ter 12 meses de férias
O presidente do CNJ (Conselho Nacional de Justiça), Luís Roberto Barroso, durante sessão - Reprodução G.Dettmar Ag. CNJ
Ele entendeu que magistrados federais são os únicos que padecem de sobrecarga de trabalho.
Eremildo é um idiota e acha que os juízes deveriam ter 12 meses de férias.
O cretino entendeu que os magistrados federais são os únicos brasileiros que padecem de uma sobrecarga de trabalho. Nada mais justo que lhes fosse concedido pelo Conselho Nacional de Justiça o benefício de 1 dia de folga para cada 3 trabalhados. Imaginando-se um juiz federal que desempenha uma função adicional durante 90 dias, ele teria direito aos dois meses de férias regulamentares, mais um terceiro mês de descanso.
Eremildo encantou-se com um dispositivo do mimo: os dias de folga podem ser trocados por dinheiro.
Até aí seria um caso de pagamento de horas adicionais eventualmente trabalhadas. Contudo, os magistrados terão direito a remuneração mesmo durante os dois meses de férias regulamentares.
Ocorreu mais uma vez a Eremildo que os magistrados passem a reivindicar o pagamento de seus serviços pela pauta de Polichinelo.
Contratado para receber R$ 1.000 por dia, ou R$ 5.000 por semana e R$ 20 mil por mês, ele queria receber R$ 1.000 por dia, R$ 5.000 ao fim das semanas e R$ 30 mil no final dos meses. Como Polichinelo era um bobo, não havia pensado nas férias (Folha, 19/11/23)