14/09/2020

O valor da tecnologia blockchain

Por Daniela Pereira do Nascimento

Legenda: Se houvesse uma tecnologia bem superior ao blockchain, as pessoas já estariam falando dela (Imagem: Freepik/fullvector)

Em uma publicação no blog oficial do projeto Ethereum, o cofundador Vitalik Buterin explica para que serve o blockchain, por que precisamos dele, que tipos de serviços podem ser operados nele e por que tais serviços devem ser executados no blockchain em vez de em servidores comuns.

De início, ele afirma que não haverá um “killer app” para a tecnologia blockchain. “Killer app” é o termo dado quando uma nova tecnologia se tornará indispensável e superior a qualquer outro competidor, aniquilando-o.

Ele explica que, se houvesse uma tecnologia bem superior ao blockchain, as pessoas já estariam falando dela:

Parece uma velha piada de economia sobre um econômico que encontrou uma cédula de vinte dólares no chão e chegou à conclusão de que deve ser falsa, senão já a teriam pegado. 

Porém, nesse caso, a situação é um pouco diferente: ao contrário da cédula, onde custos de pesquisa são baixos, então pegá-la do chão faz sentido se houver apenas uma chance de 0,01% de ela ser real, aqui os custos de pesquisa são altos e diversas pessoas com bilhões de dólares de incentivo já estão pesquisando. 

Até agora, não houve uma aplicação sequer que alguém tenha apresentado que irá dominar tudo o que vemos no horizonte.

Legenda: Qualquer um disposto a criar um novo serviço pode compartilhar seu desenvolvimento com qualquer pessoa, sem uma grande corporação por trás decidindo o que será ou não feito (Imagem: Pixabay/Megan_Rexazin)

Ele faz um paralelo ao finado mercado ilegal, Silk Road, que facilitava o comércio ilegal e apenas tinha a chance de se tornar relevante para um nicho de pessoas: “o grupo de pessoas que se importa o suficiente com transparência corporativa e governamental para doar dinheiro a uma organização controversa em apoio não é muito grande comparada a toda a população do mundo”.

Ele explica que blockchains não são dispensáveis, e sim convenientes, pois são uma ferramenta bem melhor e podem beneficiar centenas de milhões de usuários por conta de sua natureza de “código aberto”, ou seja, qualquer um disposto a criar um novo serviço pode compartilhar seu desenvolvimento com qualquer pessoa, sem uma grande corporação por trás decidindo o que será ou não feito.

Em seguida, Buterin relembra o que é blockchain:

Um blockchain é um computador mágico que qualquer um pode fazer o upload de programas e deixá-los para que se autoexecutem, enquanto o estado atual e os anteriores de cada programa estejam sempre visivelmente disponíveis, que possuem uma garantia de segurança criptoeconomicamente forte que programas executados no chain continuarão sendo executados exatamente da forma que o blockchain especificar.

Ele reitera que essa definição não usa termos convencionais, como “registro”, “dinheiro” ou “transações” que apresentem um caso de uso em particular nem menciona qualquer algoritmo de consenso específico.

Legenda: Blockchain é “o computador do mundo”, pois seu estado é compartilhado entre todos e que um grande grupo de pessoas, em que qualquer pessoa pode participar, está envolvido na manutenção (Imagem: Freepik/pikisuperstar)

Tal definição enfatiza bastante que blockchains não apresentam um conjunto de regras específico ao mundo, e sim “liberdade para a criação de um novo mecanismo com um novo conjunto de regras extremamente rápido e o impulsionando. São os LEGO Mindstorms [voltado para a educação tecnológica] para criar instituições econômicas e sociais”.

Em seguida, Buterin lista dez motivos do porquê blockchains serem úteis, como armazenar dados que não podem ser excluídos, aplicações com alta taxa de processamento, com diversas possibilidades de interação com diversas aplicações e obter vantagem dos dados obtidos.

Todas essas coisas são indiretamente valiosas a bilhões de pessoas ao redor do mundo, principalmente em regiões onde economia, finanças e estruturas sociais altamente desenvolvidas não funcionam de forma alguma (apesar de a tecnologia sempre precisar ser combinada a reformas políticas para solucionar muitos problemas) e blockchains são bons ao fornecer essas propriedades. 

[…] Gavin Wood começou a descrever essa plataforma computacional ideal como “o computador do mundo” — um computador cujo estado é compartilhado entre todos e que um grande grupo de pessoas, em que qualquer pessoa pode participar, está envolvido na manutenção.

Buterin também explica que os ganhos fornecidos pela tecnologia blockchain são o que chamamos de serviço de “infraestrutura de camada-base”, que dependem de dependência, altos efeitos de rede e altos custos de migração.

Exemplos desse tipo de serviço incluem sistemas de pagamentos via internet, identidade, sistemas de nome de domínio, armazenamento em nuvem e mercados de previsão.

Legenda: Agora é hora de observar bem mais o mundo real e analisar como as tecnologias criadas realmente podem beneficiar o mundo (Imagem: Pixabay/Megan_Rexazin)

Ele explica que, daqui a alguns anos, será muito difícil que pessoas migrem de um sistema para outro e, assim, esses serviços devem ser desenvolvidos de forma correta e seu processo de governança não envolva partes centralizadas.

Identidade e corte de custos também são assegurados pelo blockchain, pois uma entidade individual não terá total poder no sistema, já que ele é composto de diversas partes que garantem a segurança da rede a um preço baixíssimo por transação.

Além disso, existe uma grande esperança por um futuro que possa ser, a um grau significativo, mais descentralizado. Porém, os dias de dinheiro fácil acabaram. 

Agora é hora de observar bem mais o mundo real e analisar como as tecnologias criadas realmente podem beneficiar o mundo.

Buterin finaliza, afirmando que:

[…] blockchains são apenas uma tecnologia e, assim, o grande progresso só poderá ser atingido pelo trabalho junto com outro conjunto de tecnologias descentralizadas (e favoráveis à descentralização): sistemas de reputação, tabelas distribuídas de hashes, plataformas hipermídia de ponto a ponto, protocolos distribuídos de mensagem, mercados de previsão, provas de conhecimento zero e provavelmente muitas outras que ainda não foram descobertas (Money Times, 12/9/20)