Oferta de leite cai e preço sobe, mas produtor está cauteloso
Legenda: Bezerro se alimenta com leite orgânico no Centro Paranaense de Referência em Agroecologia, em Pinhais (PR)
Pesquisa do Cepea aponta aumento real de 25% nos preços e queda de 10% na oferta da matéria-prima neste ano.
Os preços médios do leite de janeiro a maio estão 25% acima dos de igual período de 2018. Esse aumento é real, já descontada a inflação do período.
A oferta de leite, ao contrário, teve queda de 10% de janeiro a maio deste ano. Bom para o produtor que está com elevação nos preços da matéria-prima e correção pequena nos custos de produção. A margem é boa.
Apesar disso, ele está muito cauteloso, segundo Natália Grigol, pesquisadora do Cepea (Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada).
O setor viveu dois anos de momentos ruins. Como agora, os preços de 2017 também subiram, mas, na sequência, despencaram e deixaram os produtores sem capital para investimentos.
A redução de oferta de leite é resultado dessa situação dos anos anteriores. Além da falta de investimentos, a pecuária de leite foi afetada também por fatores climáticos, o que ajudou a complicar a oferta.
Se para os produtores o quadro atual parece remunerador, o mesmo não ocorre com os laticínios, principalmente com os pequenos.
Há uma disputa pela matéria-prima, obrigando a indústria a pagar mais pelo leite, mas na ponta o consumidor não suporta novos reajustes de preços, devido à queda de renda.
Essa concorrência acirrada deve aumentar a concentração industrial no setor, segundo Grigol. “Produtor e indústria têm de trabalhar juntos olhando o longo prazo”.
Para ela, são necessárias transparência e redução de incertezas no setor. O trabalho conjunto definirá até onde o produtor poderá aumentar a oferta de matéria-prima e o quanto de qualidade o produto deverá ter.
Neste mês, o preço líquido do litro de leite recebido pelo pecuarista foi de R$ 1,5175, considerando a média Brasil, que engloba sete estados (RS, SC, PR, SP, MG, GO e BA) pesquisados pelo Cepea. O aumento foi de 1,17%, em relação a abril, e de 15,6% em comparação a maio de 2018.
Para Grigol, esse é um momento em que o pecuarista deve se manter bem informado e aproveitar as melhores margens para se planejar com cautela.
Os preços do leite, que em geral sobem até agosto, poderão estacionar já nos próximos meses, devido a esse quadro de estagnação econômica e de fraco consumo (Folha de S.Paulo, 30/5/19)