25/04/2025

Oferta global de café robusta deve se recuperar nesta safra, diz Rabobank

Oferta global de café robusta deve se recuperar nesta safra, diz Rabobank

Café robusta em São Gabriel da Palha, Espírito Santo. Foto Jose Roberto Gomes Reuters

 

A produção mundial de café robusta deve se recuperar neste ano, depois de quebras de safra desde 2023 especialmente no Vietnã e na Indonésia, as duas nações que mais produzem a variedade no mundo.

 

A projeção é do banco holandês Rabobank, que estima para o ciclo 2024/25 uma produção de 28,3 milhões de sacas de 60 quilos no Vietnã e de 11,5 milhões de sacas na Indonésia. Nos dois países, as colheitas já estão em andamento.

Para o banco, a melhora da produção nesses países deve contribuir para que a oferta global cresça 2,4%.

 

“Não há ruídos negativos sobre os resultados de produção de café robusta da Ásia nos próximos meses, com manutenção do volume da safra do Vietnã em 2024/25 no patamar de 28 milhões de sacas, um bom indicativo para o mundo”, afirmou Guilherme Morya, analista do Rabobank, durante o segundo dia do Encontro Nacional de Café (Encafé), organizado pela Associação Brasileira da Indústria de Café (Abic), em Campinas.

 

O especialista do banco lembrou que mesmo a expectativa sendo boa, o volume não alcança o recorde da região, que foi de 30 milhões de sacas na safra de 2021/2022 no Vietnã. Mesmo assim, o andamento dos trabalhos de campo nas duas origens produtoras fez o banco ficar mais otimista com uma retomada da produção asiática e, por consequência, do início da recomposição dos estoques globais.

 

Essa melhora pode atenuar as tensões na formação dos preços nas bolsas internacionais. “A recuperação da oferta global e a neutralidade climática é favorável, com potencial bom à frente para a safra 2025/26”, disse Morya, durante o evento organizado pela Abic.

 

As tradings, por sua vez, estimam uma colheita de café robusta entre 28 milhões e 30 milhões no Vietnã, levemente acima da projeção do Rabobank.

 

Para o Brasil, o banco também projeta um aumento da produção de conilon (variedade irmã do robusta), pois o clima está mais favorável para as lavouras do Espírito Santo e do sul da Bahia. Essa perspectiva para a oferta nacional favorece as projeções de recomposição da oferta global.

 

Queda no arábica

 

Por outro lado, os agentes de mercado preveem uma redução da produção de café arábica no Brasil devido à seca que atingiu as plantas em 2024.

 

O Rabobank estima que a colheita de arábica na safra 2025/26 no Brasil fique por volta de 63 milhões de sacas, enquanto as tradings brasileiras projetam um volume próximo a 65,9 milhões de sacas, segundo Carlos Santana, chefe de divisão do café na Empresa Interagrícola de Santos (EISA).

 

Estoques de passagem no mundo

 

De acordo com Santana, o estoque global de cafés, somando as duas variedades, mapeado para 30 de junho deste ano deve ser de 12 milhões de sacas. Isso representa apenas 60 dias de necessidade do mercado.

 

Para o executivo da EISA, haverá um aperto de oferta de cafés para a indústria global até o primeiro semestre de 2026.

“Mas o potencial será gigantesco na safra de 2026/27, que deverá ser a maior safra do Brasil”, disse Santana.

Café-conilon. Foto Divulgação

 

Demanda global resiliente

 

Do lado da demanda, o analista do Rabobank disse que a demanda será testada em 2025 por causa dos altos preços do grão, mas que acredita que a demanda será mais “resiliente” à guerra tarifária, ainda que o consumo cresça mais lentamente ou de forma mais gradual por causa do contexto geopolítico.

 

Ainda segundo ele, cafeterias americanas estão avaliando estrategicamente comprar café agora e estocar o grão, para se prepararem para os meses de inverno nos EUA, período em que mais se consome café no país.

 

Esse cenário pode ajudar a manter a demanda das torrefadoras entre 0,5% a 3% no ano, intervalo que não era esperado para esse ciclo do café.

 

Volatilidade

 

Para o curto prazo os preços, o analista do Rabobank estima que os preços devem continuar “nervosos” diante de demanda pontuais de fundos de investimentos e de grandes torrefadoras, além dos resultados da colheita Brasil.

 

“Só em julho o café vai começar a entrar de maneira significativa no mercado, podendo acalmar as negociações”, acrescentou (Globo Rural, 24/4/25)