02/09/2024

Oferta menor e clima fazem preço do café robusta superar o do arábica

Oferta menor e clima fazem preço do café robusta superar o do arábica

Plantação de café robusta em Rondônia - Divulgação-Embrapa

 

Seca e calor reduzem produção nas safras brasileira e vietnamita neste ano.

Em um cenário pouco usual, o preço do café robusta ultrapassa o do arábica, tradicionalmente o produto mais caro entre as duas bebidas. Nesta sexta-feira (30), a saca de café robusta foi negociada em R$ 1.484, R$ 36 acima do valor do arábica, comercializado a R$ 1.448, conforme pesquisa do Cepea (Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada).

''O grande problema do momento é a oferta. Os estoques já estão apertados, em especial os do robusta, a safra brasileira não foi boa e as perspectivas para o Vietnã são péssimas", afirmou Renato Ribeiro, pesquisador de mercado do setor de café do Cepea.

Com uma produção prevista em 30 milhões de sacas de café robusta, os vietnamitas, devido ao calor, poderão ter uma safra reduzida em 10%, para 27 milhões, segundo o pesquisador.

Algumas estimativas de mercado, ainda mais pessimistas, estimam uma retração de até 20%, o que elevariam as perdas para seis milhões de sacas no país asiático.

Isso ocorre em um momento de cenário de oferta justa, o que ajudou o preço do robusta a superar o do arábica, afirma Ribeiro.

O momento atual é semelhante ao de 2016 e 2017, quando o preço do café canéfora (conilon e robusta) também superou o do arábica. "Para piorar, a oferta de arábica também não é abundante. O volume produzido foi limitado, devido ao forte calor que atrapalhou várias culturas no país, inclusive a do café", afirma o pesquisador.

Para Guilherme Morya, analista do Rabobank, o café já vem com pressão nos preços desde o ano passado. Quebra de safra no Vietnã, elevação de custos de frete, devido a questões geopolíticas, e clima afetaram várias áreas de produção.


A florada dos cafezais do Vietnã começaram a apresentar problemas ainda no primeiro semestre, devido ao clima quente, e isso deverá refletir na colheita a partir de novembro.

Uma nova quebra de produção complicaria ainda mais os estoques mundiais, segundo Morya. O ciclo 2024/25 apresentará o quarto déficit desse tipo de café entre oferta e demanda.

Para o analista do Rabobank, os preços atuais ainda não estão computando possíveis efeitos do clima seco das próximas semanas na florada dos cafezais brasileiros.

 

A saca de café conilon, negociada no patamar apurado pelo Cepea nesta sexta-feira, supera em 130% os valores de há um ano. A média de cinco anos dos preços do café robusta é de 90 centavos de dólar por libra-peso. Atualmente está em 180 centavos. O preço do robusta dá sustentação ao do arábica.

Nesse patamar, os preços deste ano beneficiam o produtor, que recebe valores altos e tem custos menores. Segundo o analista do Rabobank, a relação de troca é de 1,79 saca de café de 60 quilos por tonelada de fertilizante (mistura 20-05-20). No ano passado, eram necessárias 2,9 sacas.

Bom para os produtores, mas os consumidores vão pagar mais pelo produto nas prateleiras dos supermercados, afirma o pesquisador do Cepea.

Com o calor nesse período de florada não se sabe como a planta vai reagir, e o quadro preocupa porque o setor vem de uma safra estranha e caminha para uma menor, diz Ribeiro. "Não haverá alívio no curto prazo."

O conilon, que era o produto mais barato na formação do blend da bebida, agora passa a custar mais do que o arábica, o que elevará pressão no bolso do consumidor.

Oferta menor e eventuais problemas com as importações no próximo ano, com a entrada em vigor da lei antidesmatamento da União Europeia, fizeram as empresas da Europa elevarem as compras, aquecendo ainda mais os preços.

Segundo a European Coffee Federation, as empresas europeias iniciaram o ano com estoques de 6,9 milhões de sacas, mas já estão com 8,4 milhões.

Com a participação maior das empresas europeias no Brasil, o país acumula exportações de 28,1 milhões de sacas de café arábica e robusta, 46% a mais do que em igual período do passado. As exportações de conilon aumentaram 314%, somando 5,2 milhões de sacas nos sete primeiros meses deste ano (Folha, 1/9/24)