Opinião: Cerceamento à Huawei obstrui o progresso
Legenda: Os presidentes Donald Trump e Xi Jinping, durante reunião do G20 em Osaka, em junho de 2019 - Kevin Lamarque/Reuters
Por Yang Wanming
Os Estados Unidos têm se valido de todo tipo de manuseios políticos para cercear empresas chinesas
Políticos americanos vêm lançando acusações infundadas de que equipamentos de 5G da Huawei apresentam riscos de segurança. Sob esse pretexto, restringiram o fornecimento de chips à empresa por fabricantes globais e coagiram outros países a desistir da tecnologia 5G chinesa.
Os Estados Unidos, que sempre se afirmam defensores da livre concorrência e da economia de mercado, têm se valido de todo tipo de manuseios políticos para cercear empresas chinesas, obstruindo a normalidade das parcerias internacionais de negócios. Essa prática constitui uma séria violação das regras comerciais da economia de mercado.
A Huawei nunca produziu e jamais produzirá equipamentos que ameaçam a segurança da informação em qualquer país. Comprometida com o fornecimento de produtos e soluções de qualidade, tem um excelente histórico de confiabilidade em todos os negócios que desenvolve em mais de 170 países e territórios, atendendo a mais de um terço da população do planeta.
Foi a primeira a se declarar disposta a assinar um acordo sem backdoor e a única a aceitar testes e supervisão por terceiros. Tudo isso mostra sua plena confiança na qualidade de seus produtos, e sua disposição de realizar cooperação internacional aberta.
Avaliações das autoridades de inteligência e segurança cibernética do Reino Unido e da Alemanha concluíram que não há motivo para banir os equipamentos da Huawei por questões de segurança.
Por outro lado, a China tem leis que protegem a segurança e a privacidade dos dados de seus cidadãos e vetam o uso inadequado de dados a que as empresas possam ter acesso.
Não é justo nem ético que políticos americanos repitam acusações feitas de má-fé, sem nenhuma prova e com o objetivo de confundir o público.
A intenção de Washington nunca é a de proteger a segurança de outros países. Muitos ainda devem se lembrar do escândalo em que os EUA se envolveram ao monitorar e grampear autoridades brasileiras e de vários países e organizações internacionais, violando a privacidade e a segurança nacional de terceiros.
Alguns comentaristas apontam que a utilização dos equipamentos de 5G da Huawei pode invalidar o controle que os EUA têm sobre as redes globais de telecomunicações, desativando em parte seus sistemas de vigilância e monitoramento. Talvez seja essa a verdadeira preocupação que alguns
políticos americanos chamam de segurança cibernética.
Ao transformar assuntos comerciais ou técnicos em questões políticas e ideológicas, Washington tenta usar meios não-convencionais em benefício próprio, conter o progresso científico e tecnológico da China e ganhar mais margem para manter tanto a supremacia no mercado de alta tecnologia como o monopólio na cadeia da indústria mundial.
Em longo prazo, a Huawei não será a maior vítima da intimidação tecnológica dos EUA, uma vez que nenhuma restrição ou proibição imposta por certos países pode impedir o desenvolvimento tecnológico da China e o crescimento das empresas chinesas.
Quem acabará marginalizado na economia digital será o país que forçar a escolha por alternativas mais dispendiosas e fizer os consumidores pagarem caro por uma experiência de internet medíocre.
A China não intervirá na escolha de fornecedor do 5G em nenhum país. No entanto, somos contra o uso de meios administrativos para interferir ou impedir a participação legítima de empresas chinesas na cooperação internacional ou na concorrência de mercado, por motivos políticos e sob o pretexto de segurança.
O que está em jogo não é só a preocupação de uma empresa ou de um setor, mas um importante critério adotado pela China e pela comunidade internacional para avaliar se um país é capaz de criar um ambiente de negócios e regras de mercado dentro dos parâmetros de abertura, equidade e não discriminação.
O 5G é uma tecnologia que molda o futuro. E nenhuma decisão sobre o futuro deve se basear em considerações limitadas por fatores ideológicos ou geopolíticos. É preciso que tal decisão se paute em objetividade e julgamento sensato, assim como na determinação de defender os interesses nacionais a longo prazo (Yang Wanming é embaixador da China no Brasil; Folha de S.Paulo, 9/8/20)