Os juros reais mais altos dos últimos 15 anos – Por Bernardo Guimarães
BOLSA E REAL Imagem Reprodução Blog BBC Brasil
Mudança nos juros longos agora depende de surpresas na área fiscal; política macroeconômica responsável teria evitado essas taxas altas.
As taxas de juros estão muito altas e aumentaram muito recentemente. Um título de dez anos do Tesouro Nacional atrelado ao IPCA paga juros de cerca de 7,5% além da inflação do período. Quão altas são essas taxas na comparação histórica?
O gráfico mostra as taxas de juros reais por dez anos dadas pelos títulos atrelados ao IPCA desde 2005. Em geral, não há títulos vencendo exatamente em dez anos, então é preciso calcular, a partir dos preços dos títulos existentes, a taxa anual nos anos futuros dada por esses títulos. Assim, obtemos os juros que seriam pagos por um título de dez anos.
O quadro mostra que as taxas de juros reais dos títulos públicos são as maiores dos últimos 15 anos. Nesse período, só tivemos juros reais acima de 7% ao ano no segundo governo de Dilma Rousseff. Naquela época, porém, vivíamos uma profunda recessão (o PIB caiu 7% em dois anos), e o Banco Central havia perdido credibilidade (a inflação chegara a 10% em 2015).
O que precisamos fazer para conseguir juros baixos?
O cenário externo afeta nossas taxas de juros. Juros internacionais caíram muito em 2011, de modo que em 2012 títulos americanos indexados à inflação pagavam taxas de juros reais negativas. Hoje, títulos de dez anos pagam quase 2% ao ano.
Essa é, porém, uma parte pequena da explicação pelos nossos juros altos. No último ano, não houve mudança significativa nos juros reais nos Estados Unidos, enquanto aqui o rendimento de títulos públicos atrelados ao IPCA aumentou cerca de dois pontos percentuais por ano.
No gráfico, dois episódios de juros reais baixos saltam aos olhos.
Em 2011, tivemos uma mudança na condução de política monetária que levou a juros baixos a curto prazo. Isso explica parte da queda dos juros em 2011 e 2012 (o cenário externo também colaborou). Contudo, os juros baixos geraram inflação alta, e o BC perdeu credibilidade. Não foi um caso de sucesso.
Em 2018, tivemos outra queda grande na taxa real de juros, mas o caminho foi diferente. Ao assumir a Presidência ao final de 2016, Michel Temer mudou o comando do Banco Central e do BNDES. O BC adotou uma política austera, de juros altos, e o BNDES cortou o crédito subsidiado. Em 2018, os juros reais começaram a cair —mesmo com os juros americanos no nível mais alto desde 2011. A trajetória de queda continuaria em 2019, aí sim com ajuda da redução dos juros nos Estados Unidos. Chegamos a ter taxas de juros reais de 3% ao ano.
A recente disparada nas taxas de juros se deu pela percepção de que o acerto das contas públicas não virá. A preocupação com os rumos da dívida pública aumenta o risco de financiamento inflacionário e afasta investimentos. Essas expectativas afetam as decisões de investidores e empresas, o que piora ainda mais a situação.
A inflação passou da meta, e o novo presidente do BC não pode pôr em risco sua credibilidade, então, prepare o seu coração, mais aumentos na taxa Selic virão.
Mudança nas expectativas e nos juros longos agora depende de surpresas na área fiscal. Política macroeconômica responsável deu certo no passado e teria evitado esses juros altos. Recuperar a fé na economia vai dar trabalho (Folha, 15/1/25)