21/07/2020

País exporta mais óleo de soja com seca na Argentina e queda no biodiesel

https://www.suino.com.br/wp-content/uploads/2019/07/%C3%B3leo-de-soja.jpg

A Cattalini Terminais Marítimos, que movimenta quase 70% das exportações de óleo de soja do Brasil por meio de suas instalações no porto de Paranaguá (PR), prevê aumentar em mais de 25% os embarques do produto este ano, após a seca no rio Paraná afetar a capacidade da Argentina.

O impacto negativo da Covid-19 na demanda brasileira de diesel também reduziu a necessidade de biodiesel, aumentando o excedente exportável de óleo de soja, principal matéria-prima do biocombustível misturado em 12% no produto fóssil do Brasil, disse o gerente comercial sênior da Cattalini, Lucas Cezar Guzen, em entrevista à Reuters.

“Vários astros se alinharam para que tivéssemos esse volume exportado”, afirmou ele, ressaltando que os resultados da companhia indicam embarques de óleo de soja superiores aos projetados pela própria Associação Brasileira das Indústrias de Óleos Vegetais (Abiove) para o país.

Por meio das instalações da Cattalini, as principais tradings multinacionais e cooperativas brasileiras de produtores deverão exportar 850 mil toneladas de óleo de soja em 2020, versus 672 mil em 2019, previu o gerente comercial.

“Vai exportar mais que o ano passado, hoje a Cattalini já tem performado 630 mil toneladas de janeiro a junho. E tenho uma projeção para o mês de julho de 70 mil toneladas (de óleo de soja)”, completou ele.

Uma vez que a empresa exporta a maior parte do óleo de soja do Brasil, ele estima que o país feche 2020 com exportações de 1,25 milhão de toneladas de óleo de soja, cerca de 20% acima de 2019. A Abiove, em sua última estimativa para o ano atual, elevou em 200 mil toneladas o volume a ser embarcado pelo país, para 1 milhão de toneladas.

Entre os principais destinos do óleo de soja do Brasil estão Índia e China.

Guzen explicou que, com a redução histórica do nível do rio Paraná este ano, os navios que partem da Argentina, maior exportador global de óleo e farelo de soja, têm de zarpar com menor volume carregado, para não encalhar. E muitas vezes completam o carregamento no Brasil.

“Por conta da redução do calado do rio Paraná, os navios passaram a fazer ‘top off’ de 6 mil toneladas de óleo no Brasil, isso trouxe uma demanda extra (para o país)...”, disse ele, em referência ao volume complementar que muitas embarcações têm carregado no Brasil, completando a carga que não pôde ser finalizada na região portuária argentina de Rosário.

A diferença do que não pôde ser carregado na Argentina passou a ser absorvida pelo Brasil, frisou.

O executivo da Cattalini citou ainda uma menor demanda por biodiesel no país, que liberou mais óleo de soja para exportação.

“Além disso, tem a lei da oferta e demanda, como o mercado interno brasileiro, grande consumidor de óleo de soja, retraiu, com o consumo de biodiesel retraindo, o preço do produto brasileiro em dado momento se torno mais positivo, isso motivou o forte volume de exportação que tivemos nos últimos meses”, ressaltou.

Além do óleo de soja, os grãos do Brasil também foram beneficiados pelo baixo nível do rio Paraná, o que levou alguns compradores a trocarem as origens das aquisições este ano, disse um comerciante brasileiro à Reuters, ao final de maio.

OUTROS PRODUTOS

A Cattalini possui a maior capacidade privada para granéis líquidos da América Latina em um só local, no porto de Paranaguá, para movimentar também derivados de petróleo e metanol, disse o gerente.

Com quase 40 anos de existência, a companhia inaugurou em maio capacidade adicional de 93 mil m³ para armazenagem de granéis líquidos, elevando o total para 610 mil m³ (133 tanques), o que deve ajudar a companhia a aumentar os volumes movimentados no terminal paranaense em mais de 15% este ano, considerando todos os produtos.

Esse resultado será obtido muito mais pelo crescimento na exportação de óleo de soja e importações de metanol, uma vez que os descarregamentos de derivados de petróleo, primordialmente diesel, tendem a ficar praticamente estáveis em cerca de 2 milhões de toneladas, disse o executivo.

“Não vejo grande recuperação do mercado, mas também não vejo o mercado degringolando, vai ser um mercado ‘flat’ (estável), comentou ele, ressaltando que a capacidade adicional de armazenagem foi oportuna para que a Petrobras pudesse manter a produção de GLP (gás de cozinha) nos piores momentos de queda de demanda de combustíveis.

“A refinaria não consegue produzir apenas um produto, ela continuou produzindo a gasolina, chegou um ponto que ela não tinha onde estocar, buscou regiões alternativas e utilizou alguns terminais da costa brasileira”, revelou.

Com relação ao metanol, a expectativa é de que a importação pelo terminal da Cattalini supere 1 milhão de toneladas em 2020 —a empresa responde por 75% de todo o produto importado pelo Brasil (Reuters, 20/7/20)