Pandemia afeta oferta de insumos para a agricultura
Imagem: REUTERS Adriano Machado
O ritmo acelerado do setor agrícola deverá sofrer efeitos da redução de defensivos, segundo Sindiveg.
Produtor agrícola e indústria de agroquímicos podem caminhar em direções opostas neste ano. A área plantada vai crescer, elevando consequentemente a demanda por insumos, mas as indústrias encontram dificuldades no fornecimento internacional de matéria-prima.
Essa restrição não era esperada, e ocorre devido a dificuldades que algumas indústrias da China e da Índia têm para manter a produção regular, após o surgimento da Covid-19.
Pelo menos 98% dos ingredientes ativos utilizados pela indústria nacional são importados. China e Índia têm grande importância no fornecimento desses insumos.
Com isso, os custos também aumentaram, segundo Júlio Borges Garcia, presidente do Sindiveg (Sindicato Nacional da Indústria de Produtos para a Defesa Vegetal).
Com a demanda internacional aquecida, a matéria-prima esteve com aumento de 15% a 20% no mercado externo no primeiro trimestre deste ano, em relação ao mesmo período anterior. Além desses custos, o setor tem a pressão do frete e da desvalorização do real.
Os agroquímicos, que já estão com valorização dos preços, poderão ter reajustes ainda maiores quando a indústria nacional trabalhar com os novos produtos importados.
“O tempo entre a negociação com o produtor e o recebimento da fatura é longo e impõe desafios e riscos para a indústria. O produto que comercializamos em janeiro deverá ser entregue de julho a dezembro, dependendo da cultura”, afirma.
Garcia acredita, no entanto, que o maior desafio para o produtor não é pagar mais caro, mas conviver com uma eventual redução na oferta de insumos. O custo de deixar de produzir ou de ter uma lavoura prejudicada por pragas e doenças seria ainda maior, afirma.
O presidente do Sindiveg diz que a pandemia e a instabilidade econômica nacional geraram prejuízos de 20% anual nos dois últimos anos para as indústrias.
Os contratos de fornecimento de insumos para os produtores foram feitos com preços estipulados antes do acirramento da falta de matéria-prima internacional e da desvalorização mais acentuada do real.
Os contratos de fornecimento foram honrados, mas os novos serão feitos em patamares que têm como base os novos custos e rumos do mercado internacional.
A indústria é uma grande fornecedora de crédito para o setor agropecuário, repassando US$ 10 bilhões por ano. Esses contratos têm um prazo médio de pagamento de 241 dias, segundo Garcia.
Os reajustes de preços dos agroquímicos já estão ocorrendo, mas o produtor deverá sentir maior impacto a partir do segundo semestre. Da saída da matéria-prima do local de importação, e após passar pela industrialização interna, à chegada do produto final às mãos dos produtores são, em média, 120 dias.
Sobre a liberação recorde de 493 agrotóxicos em 2020, conforme dados do Ministério da Agricultura, deve-se levar em consideração que apenas cinco deles eram novos, diz Garcia.
O critério de avaliação desses produtos é muito arcaico, segundo o presidente do Sindiveg. Por isso, o sindicato está formulando um novo sistema de avaliação, levando em consideração questões ambientais, exposição humana e produção agrícola.
A área tratada com defensivos agrícolas subiu para 563 milhões de hectares no primeiro trimestre deste ano, 7% a mais do que em igual período do ano passado.
O sindicato chega a esse número computando todas as aplicações feitas na mesma área. Já o consumo de defensivos subiu 5%, somando 349 mil toneladas nos três primeiros meses do ano.
O valor de mercado dos produtos aplicados no primeiro trimestre recuou 13%, em relação a 2020, somando US$ 3,8 bilhões. Em reais, no entanto, devido à desvalorização do real, subiu 9%, atingindo R$ 20,3 bilhões.
No caso de fertilizantes, uma fonte do setor diz que a oferta interna era grande. Por isso, não deverá faltar produto no mercado interno. Os preços, porém, graças à elevação de custos provocados pelo petróleo, frete e dólar virão em novos patamares (Folha de S.Paulo, 6/5/21)