Pandemia eleva consumo de arroz e preços são recordes
Legenda: Colheita de arroz, na cidade de Dona Francisca (RS) - Cláudio Vaz/Folhapress
Vendas aumentam 28% de março a junho e saca sobe 73% no campo em um ano.
O arroz está com o maior patamar de preços reais até então registrados no país. O valor pago ao produtor foi a R$ 74,6 por saca nesta quinta-feira (13) no Rio Grande do Sul, maior produtor nacional. Esses valores superam em 73% os de há um ano.
Essa escalada já vinha sendo anunciada há alguns anos. Os custos de produção do arroz se elevaram no campo, e os produtores reduziram a área com o cereal, que deu lugar à soja, mais lucrativa.
Em oito dos últimos dez anos, o agricultor não conseguiu cobrir os custos nessa cultura. As receitas não compensaram os gastos. Neste ano, foi semeado 1,67 milhão de hectares. Na safra 2004/5, eram 3,92 milhões.
Essa oferta menor de arroz ocorreu exatamente em um momento de um choque de demanda por produtos básicos. O isolamento social elevou o consumo de arroz e das farinhas de mandioca e de trigo no domicílio.
Outro fator de aumento da demanda por esses produtos foi o pagamento do auxílio emergencial. Ele gerou poder de compra em domicílios de baixa renda.
E isso ocorreu em um momento de oferta equilibrada, segundo Lucilio Alves, pesquisador responsável pelas equipes de grãos, fibras e amidos do Cepea (Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada).
As vendas de arroz de março a julho aumentaram 28% no Rio Grande do Sul neste ano, em relação a igual período de 2019. Os preços do produto subiram 16% no varejo, segundo o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). Só em abril a alta foi de 4%.
A grande pergunta é como o mercado vai se comportar daqui para a frente, afirma o pesquisador do Cepea. A oferta e demanda do produto deverão continuar apertadas até o final do ano.
Os preços atuais poderão incentivar os produtores a elevar a área semeada. Esse aumento, no entanto, não será grande, segundo o pesquisador.
Uma outra questão é como ficará a demanda no próximo ano. Uma possível volta à normalidade provocará maior consumo de alimentos fora do lar, com possível redução da demanda por arroz.
Alves afirma que os seguidos anos de perda de renda no setor de arroz fizeram o produtor menos eficiente sair da atividade. Produtividade e novas variedades mantiveram o volume produzido.
Em 2005, os 3,8 milhões de hectares rendiam 11,7 milhões de toneladas de arroz. Atualmente, o 1,67 milhão resultou em 11,2 milhões.
Apesar do aumento de produtividade, o pesquisador não acredita em um retorno de expansão da área de arroz porque a grande moeda do campo hoje é a soja. Ela tem liquidez e garantia de venda (Folha de S.Paulo, 14/8/20)