10/04/2023

Para economia combalida, o milagre do negócio verde

Para economia combalida, o milagre do negócio verde

José Renato Nalini. Foto Daniel Teixeira Estadão

 

Por José Renato Nalini

Os sinais para a economia brasileira não são os melhores. O cenário internacional não ajuda. O Brasil perdeu a oportunidade de desenvolver um setor industrial competitivo. Desistiu de educar as novas gerações para as verdadeiras necessidades e continuou a multiplicar os cursos universitários que produzem carreiras desvinculadas do avanço científico, do melhor uso das tecnologias e do empreendedorismo.

Nossa República é antiga e superada em sua cultura que idolatra o Estado e não se preocupa com o seu crescimento vegetativo que lembra metástase. Excesso de Ministérios, que se replica nas Secretarias Estaduais e Municipais. Os Vices, os Chefes de Gabinete, os comissionados, as viaturas, os tapetes vermelhos, as pompas e circunstâncias. Tudo isso num país em que 33 milhões passam fome, 120 milhões padecem de insegurança alimentar, sem falar nos desprovidos de saneamento básico, de moradia, de saúde e de trabalho. Tudo fruto de evidente e pecaminoso descompromisso com a educação.

Por isso é hora de a sociedade ter juízo. Não aguardar soluções governamentais. Governos cuidam de sua retroalimentação e da perpetuidade nos cargos remunerados pelo povo sofrido e, paradoxalmente, resignado. É a cidadania que tem de fazer valer o patrimônio que o Brasil ainda detém na biodiversidade e na descarbonização.

Quem diria que empresa cujo objeto é restaurar florestas poderia levantar cerca de quatrocentos milhões de reais junto a investidores, com a perspectiva de retorno bilionário, mediante o plantio de árvores nativas na Mata Atlântica e na Amazônia?

Pois existe a Re.Green, que já conseguiu essa quantia e promete entregar um milhão de hectares restaurados em duas décadas. Isso é apenas 10% da meta oficial brasileira de reflorestar doze milhões de hectares até 2030.

Sorte de Piracicaba que instalou um viveiro de mudas e trabalha incessantemente para fornecer matéria-prima. A Bioflora prevê entregar, este ano, quase três milhões de mudas para a Re.Green. O objetivo da empresa é gerar créditos de carbono de qualidade, a serem vendidos por um preço competitivo no mercado. Por enquanto, o crédito de carbono brasileiro é vendido a preço muito baixo. Falta confiança na seriedade com que o país que foi promissora potência verde se converteu, em quatro anos, em "Pária Ambiental". É a sociedade que deve afiançar a promessa de que a coisa é séria, pois confiada à iniciativa privada, e não a governos que não saem do palanque e que só pensam na matriz de pestilência chamada reeleição.

Quando empresários sérios se propõem a suprir a omissão de um Estado ególatra e exauriente dos escassos recursos do sobrecarregado contribuinte, realimenta-se a chama da esperança quase extenuada dos homens de boa vontade. Pois a Re.Green vai concretizar um projeto sério: restaurar em escala, os ecossistemas originais com potencial de maior impacto no meio ambiente. Há biomas prioritários para a salvação climática do planeta. Mediante uso da inteligência artificial e algoritmos, podem ser localizadas áreas que aumentam em até oito vezes a custo-efetividade do processo de produzir créditos.

Em artigo na Nature, um dos fundadores da Re.Green, Bernardo Strassburg, afirmou que sua missão "é entregar uma restauração premium. Esse premium equivale ao padrão cinco estrelas da Sociedade Internacional para a Restauração Ecológica, o que só é atingido quando se restauram, além da composição de espécies e da estrutura das florestas, os processos ecossistêmicos para que ela tenha capacidade de se renovar e resistir a incêndios e secas".

Esse exemplo deve motivar outros empresários e, por milagre, alguns governadores e prefeitos. Pois a saída para o Brasil só pode ser o investimento maciço em negócios verdes. Mais jovens capazes de coletar sementes, esparsas pelo vento e desperdiçadas, que se animem no trabalho em viveiros de mudas, que se encantem com o plantio, que sejam cuidadores das espécies ameaçadas. Esse o mercado que pode abrigar a mocidade hoje perplexa, depois de fazer Faculdades que prometem subsistência digna, mas que não encontram mais espaço num mercado saturado de profissionais que nada fazem para salvar o Planeta.

Quem despertar para tal cenário de inimagináveis oportunidades, terá um retorno que a mesmice e a convencionalidade já perderam há muito (José Renato Nalini é diretor-geral da Uniregistral, docente da pós-graduação da Uninove e secretário-geral da Academia Paulista de Letras; O Estado de S.Paulo, 7/4/23)