Para pesquisador, Brasil é menos vulnerável à gripe aviária em bovinos
Vírus da influenza aviária Dado Ruvic Reuters
Vírus da influenza aviária já atingiu sete rebanhos no Texas e está presente em outros quatro estados dos EUA
Sistema de produção brasileiro é menos concentrado do que nos Estados Unidos.
A ocorrência de gripe aviária em bovinos aumenta nos Estados Unidos, e o país tem um caso de transmissão da doença para humano no Texas.
Os americanos, que já eliminaram 82 milhões de frangos, galinhas e perus desde que a doença reapareceu no país, no início de 2022, veem agora a doença chegar aos mamíferos.
O vírus da influenza aviária já atingiu sete rebanhos no Texas e está presente em outros quatro estados. Um funcionário do setor leiteiro testou positivo para a doença no Texas.
São casos raros, segundo o Usda (Departamento de Agricultura dos Estados Unidos), mas o aparecimento da doença se dá por meio de contato com animais infectados.
Ainda há dúvidas sobre a transmissão do vírus para bovinos. Acredita-se que ela tenha vindo de fezes de aves infectadas, mas há uma preocupação que um animal possa passar a doença para outros. Neste acaso, o sistema de produção dos Estados Unidos é bastante suscetível.
O Brasil pode estar menos vulnerável porque não há grandes concentrações de animais por aqui, afirma o pesquisador Luizinho Caron, da Embrapa Suínos e Aves.
Nos Estados Unidos, há grandes confinamentos em espaços restritos. No Brasil, o gado está mais espalhado pelos pastos.
Outra grande diferença é o número de aves migratórias, principalmente aquáticas, em solo americano, bem superior ao do Brasil.
O clima também é um fator mais atenuante no Brasil. O vírus se espalha a partir do início de outono nos Estados Unidos, ocorrendo o pico em janeiro. Próximo de setembro as ocorrências são menores.
Para o pesquisador, quanto mais fria a região, melhor para a sobrevivência do vírus.
Caron destaca que o Brasil, além de fatores naturais de proteção, como florestas que separam o território brasileiro de outros vizinhos, tem uma vigilância muito forte.
Desde a propagação do primeiro surto da gripe aviária, no início dos anos 2000, o Brasil vem aprimorando seu sistema de vigilância.
Em 2022, a Organização Mundial da Saúde Animal relatou que 67 países informaram a ocorrência da influenza aviária em seus territórios. No ano passado, foram mais 14.
O Brasil é o único país, entre os grandes produtores avícolas, que ainda se mantém isento da gripe aviária em granjas comerciais. América do Norte, Europa e Ásia têm focos constantes nos anos recentes.
O caso da transmissão da doença para um trabalhador no Texas ainda gera dúvidas, segundo o pesquisador da Embrapa. Ela pode ter ocorrido tanto pelo contato com o bovino como pelas próprias condições deixadas pela ave que infectou os animais.
Para Caron, o aparecimento da doença no leite é preocupante, embora a bebida não seja consumida ao natural, mas pasteurizada.
A influenza provoca queda na produção do leite, febre no animal e o leite tem coloração anormal. O bovino, no entanto, tem uma resistência maior à doença do que as outras espécies, afirma o pesquisador.
A ocorrência do vírus em vacas leiteiras preocupa porque o trabalhador tem um contato mais próximo com esses animais. A transmissão pode ocorrer também pela respiração, uma vez que os dejetos acabam virando um pó fino e chegam ao pulmão.
Os sintomas da gripe aviária em humanos podem apresentar olhos avermelhados, tosse, dor de garganta, dor muscular e falta de ar.
Desde 2003, os humanos infectados pelo vírus H5N1 somaram 887 casos. Destes, 462 morreram, mostrando uma letalidade acima de 50% (Folha, 3/4/24)