Para produtores, reação de preço do algodão não limita queda no plantio
Legenda: Já estava planejada uma queda de 12% a 15% no plantio de algodão, que realmente vai acontecer (Imagem: REUTERS/Elijah Nouvelage)
A recuperação nas cotações do algodão, após pressões causadas por efeitos da pandemia do novo coronavírus, ainda é vista como insuficiente para limitar de forma significativa a queda no plantio de 2020/21 planejada por produtores do Brasil.
Em dois dos principais Estados produtores da cultura no país Mato Grosso e Bahia agricultores mantêm as estimativas de recuar entre 10% e 15% em áreas que serão semeadas nesta temporada, substituindo a pluma por milho segunda safra ou soja.
“O produtor precisa fazer muita conta e quem compete com o algodão (em Mato Grosso) é o milho que está bom de preço”, disse o diretor executivo da Matogrossense dos Produtores de Algodão (Ampa), Décio Tocantins.
Segundo ele, a atual cotação do algodão na bolsa de Nova York, ao redor de 65 centavos de dólar por libra-peso, está “batendo na trave” dos custos de produção.
“Tem que fazer bastante conta (antes de decidir sobre o plantio), porque o preço não está mais nos 76 centavos de dólar que vimos há um ano”, acrescentou.
Durante o pico da pandemia no Brasil, o presidente da Associação Baiana dos Produtores de Algodão (Abapa), Júlio Cézar Busato, chegou a dizer à Reuters que o custo na região era de 60 centavos de dólar e os produtores só conseguiam comercializar o produto a 57 centavos.
Agora, ele reconhece que houve uma melhora nas cotações, aliada à uma recuperação inesperada no consumo internacional da commodity, mas ainda que os produtores quisessem manter as áreas de algodão, não haveria tempo hábil para mudança de planos.
“Já estava planejada uma queda de 12% a 15% no plantio de algodão, que realmente vai acontecer. A migração dos produtores é para a soja e a semeadura da oleaginosa começa em novembro, fertilizantes, sementes e demais insumos já estão negociados. O tempo acabou”, disse Busato nesta quarta-feira.
Competitividade
O analista da consultoria Safras & Mercado Elcio Bento afirmou que a recuperação nos preços do algodão alcançou cerca de 20% em agosto. Foi a maior reação em um único mês vista desde setembro de 2015.
No entanto, as cotações da pluma estão atreladas ao comportamento do câmbio e, apesar da moeda norte-americana ainda ser negociada acima de 5 reais, houve um arrefecimento recente que “encolhe” o espaço para que o algodão busque maiores altas.
“Além da paridade de exportação, o limite de elevação nos preços praticados pelo Brasil é quando ele chega perto do produto americano. Se isso acontece, perdemos competitividade no mercado internacional.”
Nos cálculos da consultoria, o algodão brasileiro chega ao porto de Santos (SP) cotado em torno de 61 centavos de dólar por libra peso, enquanto o americano custa 65 centavos de dólar.
Mais Qualidade
Na Bahia, onde a safra 2019/20 de algodão está cerca de 90% colhida, a produtividade surpreendeu e veio a 312 arrobas por hectare, acima das 300 arrobas estimadas inicialmente, disse Busato.
Em Mato Grosso, a média está estimada pela Ampa entre 280 e 310 arrobas por hectare, mas o diretor da associação conta que há quem consiga atingir 400 arrobas por hectare.
“A produtividade está excepcional e esse é um ponto muito importante. A tendência para o plantio da próxima temporada é que os produtores se concentrem nas áreas mais produtivas”, afirmou Tocantins.
“Vai ter uma redução de área, mas a produção não cairá na mesma proporção porque a produtividade pode ser maior”, estimou.
Em agosto, safra 2019/20 de algodão em pluma do Brasil foi estimada pela Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) em 2,93 milhões de toneladas, ante 2,89 milhões em julho. As condições climáticas, de modo geral, favoreceram o bom desenvolvimento das lavouras (Money Times com Reuters, 2/9/20)