09/12/2019

Pecuária em alta atrai criadores

Pecuária em alta atrai criadores

Legenda: José Lopez Fernandez Netto, médico que voltou à agropecuária com gados da raça pardo-suíço

 

Criadores que haviam desistido do segmento retomam negócios e apostam em lucro maior.

O novo cenário da pecuária, com aumento das exportações e dos preços – e também uma busca cada vez maior por carne de melhor qualidade -, trouxe de volta para o agronegócio o médico José Lopez Fernandez Netto, de Itapeva, interior de São Paulo. Ele foi atrás do gado pardo-suíço que havia vendido em 2013 para um criador do Paraná e recomprou 23 animais, entre touros e vacas.

O plantel, escolhido a dedo, vai produzir material genético para interessados em melhorar o padrão do seu gado. Netto explica que a raça tem dupla aptidão, servindo para produção de leite e de carne. No cruzamento com vacas nelore, os filhotes melhorados ganham mais peso em menos tempo.

Ex-presidente da associação paulista de criadores, Fernandez Netto foi um dos pioneiros em importação de pardo-suíço do México, país que adaptou a raça europeia aos trópicos. O pecuarista trouxe os primeiros lotes há 25 anos e se tornou um dos principais fornecedores de sêmen e embrião para o mercado de São Paulo.

“Há uma década, começamos a ver o declínio da pecuária paulista, por conta da queda na rentabilidade e o alto preço das terras. Os criadores migraram em direção ao norte. Em 2013, liquidei o plantel e arrendei as terras da fazenda para agricultura”, lembra.

Agora, ele vê a pecuária sendo retomada em outro patamar, o que o animou a recuperar as instalações da sua Agropecuária São Lourenço para produzir sêmen e embriões. Netto conta que outro criador da região, que também havia parado, comprou um rebanho inteiro e está de volta. Outra fazenda agrícola da região iniciou a criação de gado Santa Gertrudes.

“O consumidor está mais exigente, buscando carne de qualidade”, diz. “A tendência é de a carne bovina virar insumo alimentar de alto padrão. O consumidor corre o risco de pagar pela carne de boi o preço de bacalhau.”

O pecuarista Higino Hernandes Neto, da Fazenda 3 Muchachas, em Rio Verde de Mato Grosso (MS), aponta a influência da estiagem deste ano nos preços da carne bovina. “A distribuição de chuvas foi muito ruim o ano inteiro e o gado ficou sem seu principal alimento, a pastagem. O rebanho passou fome e muitos criadores venderam as vacas, reduzindo a oferta de bezerros para engorda”, diz.

Segundo ele, o boi precisou ficar 30 dias a mais no pasto para ganhar peso de abate. “Até a situação se normalizar, o que pode levar de dois a três anos, projetamos um cenário de preços mais altos para a carne bovina.” O pecuarista aponta outro fator para a alta na carne bovina. “Nos últimos anos, os preços estavam baixos e muitos criadores que faziam confinamento, eu entre eles, pararam em razão dos prejuízos.”

A tendência, diz, é de retomada na criação intensiva. “Mas é preciso cautela, pois o milho, principal insumo do gado confinado, está muito caro. Por isso, estou preferindo vender os bezerros pequenos para outro criador engordar. Vendo na desmama animais de 60 quilos em média, a R$ 8 o quilo” (O Estado de S.Paulo, 8/12/19)