Petroleira Total avalia aquisições de projetos de energia limpa no Brasil
A petroleira Total está empolgada com o potencial do Brasil para investimentos em energia limpa, principalmente após uma parceria com a Petrobras, o que pode tornar o país um dos alvos preferenciais de seu braço de geração renovável Total Eren.
A companhia inclusive avalia novas aquisições no Brasil após a compra recente de projetos solares, revelou à Reuters o chefe da Total Eren no país, Pierre Emmanuel Moussafir.
Em meio a um crescente interesse das gigantes de petróleo e gás por tecnologias de energia renovável, a Total e a estatal Petrobras anunciaram no início do mês um memorando de entendimento pelo qual avaliarão em conjunto oportunidades de negócio em geração eólica onshore e energia solar no país.
“O Brasil representa um país muito estratégico para nós, especialmente no contexto da parceria que estamos criando junto à Petrobras e nossa acionista estratégica, a Total”, disse Moussafir.
A empresa possui um total de cerca de 1 gigawatt em empreendimentos de geração renovável em construção e operação ao redor do mundo, dos quais 140 megawatts são projetos solares já concluídos ou com obras em andamento no Brasil.
Segundo Moussafir, a Total Eren não trabalha com metas regionais, mas tem um objetivo de alcançar 3 gigawatts em capacidade global até 2022.
“No Brasil, em particular, nossas ambições são elevadas: há um mercado de eletricidade bem estável e maduro, assim como a possibilidade de se alcançar um volume maior”, afirmou o executivo, em respostas por e-mail.
“Nossa principal força é ter agilidade e flexibilidade suficientes para nos movermos rapidamente quando vemos que uma região pode se beneficiar do desenvolvimento de sua capacidade em renováveis”, adicionou.
No Brasil, a companhia trabalha no momento na construção de um projeto fotovoltaico de 25 megawatts na Bahia e três usinas em um total de 90 megawatts em São Paulo.
Quando concluídos, os empreendimentos vão se somar a uma usina de 25 megawatts já em operação, também na Bahia.
Todos os empreendimentos foram adquiridos pela Total Eren junto a desenvolvedores que já haviam conseguido contratos de longo prazo para a venda da produção após leilões realizados pelo governo federal para novos projetos de geração.
“No Brasil, nossa estratégia é dupla: nós estamos trabalhando para executar adequadamente e no prazo nosso portfólio atual. Em paralelo, estamos considerando novas aquisições, incluindo para apoiar desenvolvedores em sua participação nos futuros leilões”, afirmou Moussafir.
Ele não deu detalhes, mas disse que o interesse da empresa é em projetos de energia eólica e solar.
Pelas regras da parceria fechada junto à Petrobras, a estatal brasileira terá direito de preferência para se associar à Total Eren em eventuais novos negócios com usinas eólicas ou solares no país.
Segundo Moussafir, o fato de os primeiros negócios da Total Eren no Brasil terem focado a energia solar foi apenas uma coincidência, uma vez que o segmento começava a crescer no país justamente no momento da estreia local da empresa.
Além do Brasil, a Total Eren tem desenvolvido projetos também em outros países da América do Sul, com destaque para a Argentina, onde o portfólio soma 150 megawatts em empreendimentos eólicos e 30 megawatts solares.
A empresa de energia renovável passou a ter a Total como acionista estratégico no final de 2017, quando a petroleira francesa adquiriu uma participação indireta de 23 por cento no negócio.
OBRAS E FINANCIAMENTO
As projeções da Total Eren são de que seu próximo projeto solar na Bahia comece a operar em novembro de 2018, enquanto as usinas em implementação em São Paulo deverão iniciar a produção em junho do ano que vem.
Com a concentração de esforços no desenvolvimento desses projetos, a empresa provavelmente não irá participar da próxima licitação do governo brasileiro para viabilizar novas usinas de geração, agendada para 31 de agosto, segundo Moussafir.
Ele adicionou, no entanto, que a participação ou não ainda está em estudo dentro do grupo.
Enquanto isso, a companhia tem buscado estruturar o financiamento dos empreendimentos atualmente em construção no país.
A usina BJL 4, na Bahia, deverá buscar um empréstimo junto ao Banco do Nordeste do Brasil (BNB), além de recursos junto a bancos comerciais, que ainda não foram selecionados.
As usinas em São Paulo, por sua vez, deverão ser financiadas junto a bancos locais e internacionais. A empresa provavelmente não negociará empréstimos do BNB nem do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) para o empreendimento, uma vez que ele foi projetado para utilizar módulos importados.
No primeiro projeto no país, a usina BJL 11, também na Bahia, a Total Eren financiou as obras por meio de um empréstimo do BNB, além de crédito adicional junto ao Itaú BBA e ao BNP Paribas (Reuters, 20/7/18)