Polêmica de plantio de soja fora do calendário em MT vai pegar fogo
Discussão começou há seis meses, quando produtores foram incentivados a semear fora do calendário.
“Vai pegar fogo.” É o que diz Antonio Galvan, presidente da Aprosoja (Associação dos Produtores de Soja e Milho de Mato Grosso) – Foto -, sobre as discussões referentes ao plantio de soja em período fora do calendário legal.
A discussão começou há seis meses, quando a Aprosoja incentivou os produtores a semear soja fora do calendário estipulado para o estado.
O calendário de Mato Grosso, principal produtor do país, indica que não se deve plantar soja após 31 de dezembro.
O plantio permite a permanência do fungo da ferrugem em plantas vivas por mais tempo e, consequentemente, devido às pulverizações, há uma seleção ainda maior dos fungos. Essa seleção faz com que o fungo inicie a safra seguinte mais resistente.
É uma guerra longa que ainda promete muitas batalhas pela frente. Parte dos produtores se posiciona em lado oposto ao dos pesquisadores e dos cientistas.
Foi criada uma instrução normativa que define o período de plantio, mas, para Galvan, pesquisadores e órgãos públicos não estão avaliando se ela está atendendo aos preceitos de criação.
Para Claudia Godoy, pesquisadora da Embrapa Soja, “essa é uma discussão que não acaba”. Enquanto os pesquisadores estão preocupados com o avanço da ferrugem da soja e com a perda de eficiência dos fungicidas, os produtores querem produzir sementes.
Godoy afirma que o produtor precisa entender que o plantio de soja após 31 de dezembro prolonga o período de soja viva no campo, alimenta os fungos, aumenta a necessidade de pulverizações e seleciona ainda mais os fungos, tornando-os resistentes.
“O plantio fora do período indicado se constitui em uma área pequena, mas compromete os 36 milhões de hectares destinados à soja”, diz ela.
O problema é que o fungo vem ficando resistente aos produtos utilizados e não há fungicida novo em vista. Se, por algum motivo —chuva ou descuido—, o produtor errar na aplicação do fungicida, ele não conseguirá mais recuperar a lavoura. Não existe fungicida curativo, segundo Godoy.
Se os produtores acompanharem o presidente da Aprosoja, as discussões vão ser longas. “O vazio sanitário, que começa em 15 de junho, respeitamos, mas a ‘calendarização’ (proibição do plantio após 31 de dezembro) não. Plantaremos até o início de fevereiro.”
O Indea (Instituto de Defesa Agropecuária do Estado de Mato Grosso), órgão que fiscaliza o setor, localizou 96 áreas irregulares no estado neste ano. Thiago Augusto Tunes, responsável pelo programa de soja no estado, diz que o instituto multou os produtores.
Galvan foi um deles, mas a semente está no armazém. Para ele, o não plantio da soja até a primeira quinzena de fevereiro só favorece um grupo de grandes empresários do estado. “Não é um grupo de meia dúzia com diploma que vai ensinar produtor com mais de 30 anos na região” (Folha de S.Paulo, 18/6/19)