18/06/2019

Polêmica de plantio de soja fora do calendário em MT vai pegar fogo

Polêmica de plantio de soja fora do calendário em MT vai pegar fogo

Discussão começou há seis meses, quando produtores foram incentivados a semear fora do calendário.

“Vai pegar fogo.” É o que diz Antonio Galvan, presidente da Aprosoja (Associação dos Produtores de Soja e Milho de Mato Grosso) – Foto -, sobre as discussões referentes ao plantio de soja em período fora do calendário legal.

A discussão começou há seis meses, quando a Aprosoja incentivou os produtores a semear soja fora do calendário estipulado para o estado.

O calendário de Mato Grosso, principal produtor do país, indica que não se deve plantar soja após 31 de dezembro.
 

O plantio permite a permanência do fungo da ferrugem em plantas vivas por mais tempo e, consequentemente, devido às pulverizações, há uma seleção ainda maior dos fungos. Essa seleção faz com que o fungo inicie a safra seguinte mais resistente.

É uma guerra longa que ainda promete muitas batalhas pela frente. Parte dos produtores se posiciona em lado oposto ao dos pesquisadores e dos cientistas.

Foi criada uma instrução normativa que define o período de plantio, mas, para Galvan, pesquisadores e órgãos públicos não estão avaliando se ela está atendendo aos preceitos de criação.

Para Claudia Godoy, pesquisadora da Embrapa Soja, “essa é uma discussão que não acaba”. Enquanto os pesquisadores estão preocupados com o avanço da ferrugem da soja e com a perda de eficiência dos fungicidas, os produtores querem produzir sementes.

Godoy afirma que o produtor precisa entender que o plantio de soja após 31 de dezembro prolonga o período de soja viva no campo, alimenta os fungos, aumenta a necessidade de pulverizações e seleciona ainda mais os fungos, tornando-os resistentes.

“O plantio fora do período indicado se constitui em uma área pequena, mas compromete os 36 milhões de hectares destinados à soja”, diz ela.

O problema é que o fungo vem ficando resistente aos produtos utilizados e não há fungicida novo em vista. Se, por algum motivo —chuva ou descuido—, o produtor errar na aplicação do fungicida, ele não conseguirá mais recuperar a lavoura. Não existe fungicida curativo, segundo Godoy.

Se os produtores acompanharem o presidente da Aprosoja, as discussões vão ser longas. “O vazio sanitário, que começa em 15 de junho, respeitamos, mas a ‘calendarização’ (proibição do plantio após 31 de dezembro) não. Plantaremos até o início de fevereiro.”

O Indea (Instituto de Defesa Agropecuária do Estado de Mato Grosso), órgão que fiscaliza o setor, localizou 96 áreas irregulares no estado neste ano. Thiago Augusto Tunes, responsável pelo programa de soja no estado, diz que o instituto multou os produtores.

Galvan foi um deles, mas a semente está no armazém. Para ele, o não plantio da soja até a primeira quinzena de fevereiro só favorece um grupo de grandes empresários do estado. “Não é um grupo de meia dúzia com diploma que vai ensinar produtor com mais de 30 anos na região” (Folha de S.Paulo, 18/6/19)