Por que a John Deere investe todos os dias US$ 13,7 milhões no agro global
LOGO John Deere (Imagem- Gaertringen - Pixabay).jpg
Por Vera Ondei
Apostando na corrida tecnológica de precisão, a gigante norte-americana de máquinas agrícolas abre caminhos que podem levar a mais sustentabilidade nas operações de campo.
Nas imediações de Des Moines, a capital do estado de Iowa, no meio-oeste dos EUA, uma fazenda de testes de máquinas agrícolas e um centro de tecnologia e inovação que integram o ISG (Intelligent Solutions Group), são uma espécie de bunker da John Deere, marca que faturou no ano passado US$ 52,6 bilhões (R$ 257,25 bilhões na cotação atual), volume 19% acima de 2021.
As permissões para entrar na fazenda de testes são monitoradas a lupa e fotos de máquinas prontas para o mercado, ou em vias de, somente são possíveis com permissão e monitoramento, sendo proibidas para equipamentos em desenvolvimento. No centro de tecnologia, as regras de confidencialidade são ainda mais draconianas para que informações estratégicas e de valor não vazem.
“Hoje, temos cerca de 500 mil máquinas conectadas em todo o mundo. Nossa ambição é conectar mais de 1,5 milhão de máquinas até 2026”, diz Heather Richards Van Nest, diretora de sistemas de produção e agricultura de precisão na John Deere para a região três da companhia, área que compreende do México para baixo no mapa do mundo. “Trata-se de conectar todos os clientes, independentemente do sistema de produção agrícola em que se encontrem, sejam grãos, algodão, cana, culturas de alto valor como frutas cítricas ou café, laticínios e pecuária”. Na corrida pela agropecuária digital e robótica, a John Deere não está sozinha, disputando espaço com gigantes do setor como Case, Fendt, Massey Ferguson, New Holland e Valtra. E briga para estar à frente.
No centro de tecnologia da John Deere, localizado em Urbandale e onde trabalham 800 pessoas, é quase impossível entrar no prédio sem notar um arado logo na porta de entrada contrastando com a modernidade da estrutura. Outras peças que caberiam muito bem em um museu estão espalhadas por várias unidades. Neste caso, o arado data de 1874. Os objetos são representações do quanto a empresa investe globalmente, por dia: US$ 13,7 milhões (R$ 67 milhões) em P&D (pesquisa e desenvolvimento). No total, são US$ 5 bilhões por ano (R$ 24,4 bilhões).
São, também, uma sinalização de que a empresa familiar mantém a disposição para crescer, assim como ocorria na época de fundador. A John Deere nasceu em 1837 e, reza a lenda, que o primeiro arado feito pelo ferreiro John Deere, saiu de uma lâmina de serra quebrada, polida e afiada.
Na Forbes Global 2000 List 2023: The Top 200, publicada em junho, a Deere&Company – que reúne além da agricultura, equipamentos para construção e silvicultura –, está listada na posição 107, com um valor de mercado de mercado da ordem de US$ 112,92 bilhões, lucro de US$ 8,19 bilhões e ativos na casa de US$ 91,62 bilhões. No ranking, ela está à frente de marcas como as japonesas Honda e Mitsui e de suas famosas conterrâneas Visa, Ford, Airbus, Fedex e IBM.
Van Nest destaca que o estado da arte da pesquisa, e que deve ganhar escala nos próximos anos, está no que ela chama de quarta fase da onda de adoção de tecnologias, a etapa “sensoriar e agir” com soluções autônomas, aplicações de precisão e automação de plantio e de colheita. Na escala, já foram cumpridas as etapas que envolveram a adoção de softwares avançados, centros de operações e as tecnologias de fundamento, que são os hardwares.
“Vamos conectar todas as máquinas novas, as mais antigas e até as de outras cores”, se referindo às outras marcas de máquinas agrícolas. “Mas não é somente isso. Não são somente os tratores conectados, toda a logística, como os caminhões de apoio e transporte estarão também conectados.” Entre as apostas da companhia estão a colheita e a pulverização de precisão, além do avanço dos tratores autônomos nas operações de campo.
Futuro que está na precisão
Empresas como a John Deere são protagonistas de uma mudança em curso na produção de alimentos baseada em machine learning (ou aprendizado de máquina), IA (inteligência artificial), Iot (internet das coisas) e muita ciência agronômica para melhorar o desempenho da atual agricultura de precisão. Essa mudança, no caso do controle de ervas daninhas nas lavouras, está pronta para escalar mercado por meio de máquinas pulverizadoras em que a aplicação do herbicida é feita somente na planta invasora, deixando o pé de milho, soja ou outra cultura, livre do produto químico.
As ervas daninhas competem por água, luz e nutrientes com a cultura, reduzindo o desenvolvimento de plantas, produtividade além de servir de porta de entrada para pragas e doenças, dificultando a implantação e manejo da cultura. No mundo, do total utilizado de agro químicos (ou agrotóxicos), 95% são herbicidas, pesticidas e fungicidas, sendo que os herbicidas respondem por quase metade. Chamada de see & spray, a tecnologia da John Deere embarca sensores para a tomada de decisão na hora certa para atingir seu alvo, dando à operação um status de sustentabilidade infinitamente superior ao que ocorre hoje (Forbes, 31/8/23)