Pouco eficiente, produtor francês busca frear acordo UE-Mercosul
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Além de ser um dos que mais recebem ajuda pública, país tem produtividade baixa
O produtor francês tem sérios motivos para se preocupar com a assinatura dos termos do acordo do Mercosul com a União Europeia, o que, segundo fontes do governo brasileiro, poderá ocorrer no encontro desta semana entre as duas partes. Para frear a assinatura, os franceses vão ter de tirar muitos coelhos da cartola.
Quando se trata de produtividade e de avanços agrícolas, o país está no fim da linha na relação dos 27 participantes do bloco europeu.
Enquanto alguns países, como Polônia e Lituânia, aumentaram em 30% e 45%, respectivamente, a PTF (Produtividade Total por Fatores), a França praticamente tem pouca evolução nesse indicador em uma década, segundo dados do DG-Agri (Agriculture and Rural Development), que comparara a evolução da produtividade média de 2019 a 2021 com a de 2010.
Boa parte dos países do bloco tem uma evolução de produtividade próxima a 20%, entre eles Bélgica, Dinamarca e Portugal. A França está no 23º posto, com menos de 5% e ao lado dos países que puxam a média do bloco para baixo.
Levando em consideração o valor adicionado líquido, que representa a remuneração dos fatores fixos de produção (trabalho, terra e capital), e o rendimento médio agrícola por unidade de trabalho, a França está longe dos principais parceiros agrícolas do bloco.
Entre os componentes da receita obtida pelos franceses, 14% vêm de suporte público, uma taxa dentro da média da União Europeia, mas acima da de outros países do bloco, como a Dinamarca, onde os subsídios somam 7%. Vários países, como a Holanda, praticam uma agricultura que agrega valores e remunera mais o trabalhador.
O salário médio na União Europeia é de € 14,65 por hora. A França remunera a um valor próximo a essa média, mas abaixo da de outros países, como a Dinamarca, que paga € 27,7 por hora, em média.
Outro fator de custos para os franceses é a participação de terceiros na produção. Enquanto em alguns países a família produtora paga apenas 2% do tempo trabalhado para mão de obra externa, esse percentual chega a 35% na França.
A produtividade, considerando o conceito da PTF (Produtividade Total por Fatores) do Usda (Departamento de Agricultura dos Estados Unidos), evoluiu pouco na União Europeia. Desde 2000, o indicador apresentou uma correção de menos de 10% nos países europeus, mas aumentou 70% na China, 58% na Índia e 53% no Brasil. Na França e na Alemanha, a evolução foi de 16% e 17%, respectivamente.
Os dados levam em consideração um conjunto amplo de insumos usados na produção. Para o órgão americano, esse indicador permite medir a evolução da produtividade de forma mais completa. A União Europeia, no entanto, não concorda com esse indicador de aferição.
Os analistas do bloco dizem que é necessária a criação de um índice mais sofisticado e que contenha elementos de qualidade, não apenas de produtividade.
Entre as sugestões europeias, estão a inclusão da produção biológica, a mensuração da poluição ambiental, o controle de efeitos de gases estufa, a biodiversidade, a preservação ambiental, a produção orgânica e a importância maior para mão de obra qualificada. Esses elementos são de difícil mensuração, mas proporcionariam uma melhor ligação da PTF com políticas e objetivos mais próximos dos da União Europeia, afirmam eles (Folha, 3/12/24)