25/11/2020

Preço alto dos animais tornará cenário mais desafiador em 2021 e 2022

Preço alto dos animais tornará cenário mais desafiador em 2021 e 2022

Embora o ano de 2020 tenha sido muito positivo para a carne bovina, deve haver mais incertezas nos próximos anos, de acordo com analistas do Itaú BBA. O consultor de agronegócios do banco, César de Castro Alves, diz que há pontos positivos para 2021, como a oferta menor de animais para abate - já que o bezerro está valorizado e produtores têm segurado fêmeas - e a demanda forte da China pela proteína. No entanto, diz ele, "como o preço do bezerro subiu muito, o desafio será fazer com que esse bezerro caro de agora não encontre um boi gordo menos valorizado do que o de hoje. Se encontrar, pode haver problemas, já que o bezerro caro demanda um boi gordo valorizado".

As declarações foram dadas na 5ª edição do evento Agro em Pauta. Ele lembrou que esse cenário vale para o ano que vem e para o seguinte, já que os bezerros entrando no sistema agora devem ser terminados em 2022.

O diretor do agronegócio do Itaú BBA, Pedro Fernandes, disse que, embora a atividade deste ano deva garantir muito dinheiro para investimentos em 2021, a decisão de como usar esses recursos deve ter muita incerteza. "Há os altos preços dos grãos. E também a possibilidade de a arroba do boi gordo ceder. Essa equação dá muita incerteza, especialmente para quem faz as etapas finais do ciclo (de engorda)."

Alves disse que, nos cálculos do Itaú BBA, a margem de lucro para confinamento de animais alojados hoje já não é positiva. "Diria que é negativa, com os preços que temos de milho e de farelo e com a curva do boi gordo levemente inclinada para baixo", afirmou. "É um quadro totalmente diferente do que tivemos com animais alojados em julho e agosto e que estão sendo entregues agora."

Os analistas afirmaram também que os preços da carne no mercado interno preocupam. Em 2020, eles subiram e ajudaram a margem dos frigoríficos, que havia sido prejudicada com o avanço do boi gordo. "Ano passado, houve uma puxada na arroba, mas a carne estava valorizada em relação ao boi. Hoje, a situação do frigorífico no mercado interno está mais difícil", complementou Alves. "Há dificuldade para o preço da carne acompanhar o preço do boi." Ele lembrou ainda da incerteza da economia, já que o auxílio emergencial pode acabar e o desemprego segue alto, reduzindo a possibilidade de o frigorífico transferir preços.

As exportações, diz ele, também não devem ser tão rentáveis em 2021 quanto foram em 2020. "O spread do frigorífico já é menor, então, apesar de podermos ter volume bom no ano que vem, o resultado pode não ser tão positivo." (Broadcast, 24/1/20)

 


Preço recorde do boi pressiona margem de frigorífico no Brasil

Legenda: Embora a forte demanda externa por carne bovina brasileira tenha ajudado a impulsionar os lucros de empresas como JBS e Marfrig neste ano, os custos recordes do gado já significam margens mais estreitas do que há um ano (Imagem: Facebook/Marfrig)

O boom da carne bovina no Brasil já atingiu o pico, pelo menos em termos de rentabilidade.

As exportações estão fortes, lideradas pela China, enquanto o real desvalorizado favorece os embarques brasileiros. Mas a alta demanda também ajudou a reduzir a oferta de gado e a elevar os preços do boi gordo em 50% este ano, para níveis recordes. Após ter aumentado preços, a indústria deve encontrar dificuldades para continuar repassando esses custos mais elevados aos consumidores brasileiros, pressionando as margens.

A oferta de animais para abate deve continuar baixa no próximo ano, mantendo os preços do gado em alta, segundo Cesar de Castro Alves, consultor de agronegócios do Itaú BBA.

Embora a forte demanda externa por carne bovina brasileira tenha ajudado a impulsionar os lucros de empresas como JBS e Marfrig neste ano, os custos recordes do gado já significam margens mais estreitas do que há um ano, disse Alves.

“O quadro é menos confortável, apesar da boa perspectiva para as exportações para a China”, disse ele em webinar na terça-feira. As margens nas vendas internas já estão negativas, o que significa que as empresas que dependem mais do mercado local estão pior do que os frigoríficos mais voltados para a exportação, segundo Alves.

A análise está em linha com comentários de Wesley Batista Filho, presidente das operações da JBS na América do Sul, que disse no início deste mês que o cenário para o negócio de carne bovina no Brasil é “desafiador” devido à oferta de gado restrita. No terceiro trimestre, as margens da JBS Brasil, que inclui a divisão de bovinos no país, caíram para 7,5% em comparação com 13,8% no trimestre anterior e 8,5% um ano antes. A empresa conseguiu compensar parcialmente os custos mais altos com aumentos de preços no Brasil e nos mercados de exportação.

Nos próximos meses, as empresas de carne bovina podem enfrentar dificuldades para aumentar os preços domésticos devido ao ambiente econômico difícil no país. Este ano, o auxílio emergencial do governo segurou as vendas de alimentos em meio à crise do coronavírus, mas a ajuda pode ser reduzida ou terminar no próximo ano (Bloomberg, 24/11/20)