Preço da cana despenca 17% desde início da safra
Produtores de cana-de- açúcar de São Paulo começaram o ano recebendo 17% a menos pelo matéria-prima. A baixa remuneração deve desestimular ainda mais os investimentos na lavoura neste ano, fazendo a produtividade cair.
O setor sucroenergético entrou em 2018 mantendo as margens reduzidas do ano anterior. A situação preocupa José Rodolfo Penatti, que nesta safra manteve 160 hectares de cana em Piracicaba (SP). Ele conta que, em 2016, alcançou média de produção de 88 toneladas por hectare, recebendo cerca de R$ 92 por tonelada. “Em 2017, minha produção foi parecida, mas o preço da tonelada ficou em R$ 80”, compara.
Entre março de 2017 e fevereiro deste ano, o valor do açúcar total recuperável (ATR), matéria prima da cana, caiu 17%. Segundo o presidente da Cooperativa dos Plantadores de Cana de São Paulo (Coplacana), Arnaldo Bortoleto – Foto -, os valores atuais não cobrem os custos. No início da safra, em abril de 2017, lembra ele, o quilo do ATR estava cotado a R$ 0,68. Neste mês de fevereiro, a cotação é de R$ 0,58 o quilo. “Isso dificulta muito (investir) nos tratos culturais do produtor”, afirma Bortoleto.
Renovação de canaviais
Com a queda nos preços, o investimento na lavoura tende a ser menor em 2018. Em Piracicaba, a média de renovação dos canaviais entre uma safra e outra é de 20%, mas nesta temporada o percentual pode chegar a 13%, o que pode prejudicar a produtividade dos próximos ciclos.
Por conta disso, segundo o presidente da Coplacana, a produção desta safra deve ser similar ou um pouco menor do que a da temporada passada. “O produtor só vai investir quando ele voltar a receber o preço normal pela cana-de-açúcar, pois hoje ele traz prejuízo”, diz.
José Rodolfo Penatti afirma que sempre renova 18% dos canaviais na entressafra. Mas agora quer baixar o índice para 12% da área. “Quem tem área própria consegue se manter, mas quem tem área arrendada já está no vermelho. Espero que neste ano o preço melhore e, assim, a gente consiga melhorar os tratos culturais e tudo mais”, afirma o produtor rural.
O envelhecimento dos canaviais deve limitar a produtividade da cultura na região Centro-Sul. Para a safra 2018/2019, que começa em março, a consultoria FC Stone projeta um total de 592 milhões de toneladas de cana, resultado parecido com o registrado na temporada passada.
Safra alcooleira
A safra brasileira será mais alcooleira, de acordo com a projeção da consultoria. A produção de combustível está estimada em 27 bilhões de litros, sendo 16,5 bilhões de etanol hidratado e 10,5 bilhões de anidro. Já a produção de açúcar deve ser de 32,5 milhões de toneladas, volume 10% menor do que na temporada anterior.
O aumento do consumo de etanol, em razão das altas do preço da gasolina, e a expectativa de retomada da economia devem recuperar os preços da cana.
Bortoleto, da Coplacana, afirma que o açúcar está com baixa remuneração, graças à elevação dos estoques internacionais. Assim, as usinas estariam projetando um mix de produção com maior quantidade de etanol. “Isso dá expectativa de menor oferta de açúcar do mior da safra para frente, com ligeiro aumento de preço. Nossa esperança é que volte ao menos a R$ 0,68 pelo quilo de ATR, fazendo com que o produtor receba melhor remuneração pela cana” (Assessoria de Comunicação, 19/2/18)
ATR SP: acumulado subiu 0,79% em janeiro e valor mensal 1,06%
O Conselho dos Produtores de Cana-de-açúcar, Açúcar e Álcool do Estado de São Paulo (Consecana-SP) liberou os dados do ATR - Açúcares Totais Recuperáveis referentes ao mês de janeiro de 2018. Os preços no acumulado fecharam o mês em R$ 0,5815, contra os R$ 0,5769 praticados em dezembro, registrando uma valorização de 0,79%.
Já o valor mensal em janeiro fechou contratos a R$ 0,6176, contra R$ 0,6111 do mês de dezembro, apresentando uma valorização de 1,06%. Os contratos de parceria baseados no índice de cana campo também subiram, ficando cotados em R$ 63,49 no último mês. O preço da cana esteira também fechou o mês de janeiro em alta, cotada em R$ 70,93 (Udop, 19/2/18)