22/01/2021

Preço da carne bovina deve seguir alto em 2021

Preço da carne bovina deve seguir alto em 2021

Por Pedro Serra

Legenda: Para o ano que vem, a expectativa dos especialistas é de que as exportações se mantenham no mesmo ritmo observado em 2020 (Imagem: Pixabay)

Em 2020, o Brasil bateu recordes na exportação de carne bovina, ultrapassando a marca de 2 milhões de toneladas exportadas e movimentando U$ 8 bilhões, de acordo com dados da Secex.

Entretanto, para entendermos o que levou a essa disparada no volume de exportações da commodity, precisamos avaliar o comportamento do mercado na China, principal comprador do nosso produto neste ano.

Em 2020, China e Hong Kong juntas responderam por cerca de 56% de todo o volume exportado, número significativamente superior aos 39% alcançados em 2019.

Para o ano que vem, a expectativa dos especialistas é de que as exportações se mantenham no mesmo ritmo observado em 2020.

Entretanto, quais são os principais fatores que levaram o país asiático a consumir mais da metade da carne bovina direciona à exportação?

Apesar de apresentar um baixo consumo per capita deste tipo de alimento, o incremento de renda, que levou à expansão da classe média chinesa, a urbanização e ocidentalização dos hábitos no país são fatores que impulsionaram a demanda por proteínas no geral, além de evidenciarem a boa aceitação da carne bovina entre os chineses.

Outro ponto fundamental, que deve ser levado em considerações nessa análise, são as consequências da febre suína africana, que levou à escassez de carne de porco no país, e favoreceu ainda mais o crescimento do consumo de carne bovina, que teve os preços domésticos pressionados em 2019, abrindo espaço para as importações de países com boa
competitividade na criação de bovinos, com destaque para o Brasil.

Com preços elevados, proteínas mais acessíveis devem entrar na dieta do consumidor. Diante deste cenário de aumento da demanda por exportações, favorecidas pela desvalorização do real ao longo do ano, os preços da arroba do boi gordo no Brasil atingiram recordes em 2020.

Em parte, este movimento pode ser explicado pela restrição de oferta de animais prontos para o abate, ocasionada pela estiagem prolongada no segundo semestre do ano passado.

Considerando que mais de 90% do rebanho no Brasil é criado em pastagens, o processo de engorda do gado atrasou, e a oferta de animais terminados, assim como a escala de abates dos frigoríficos, devem ser normalizados somente no final do primeiro trimestre deste ano.

Levando em conta este panorama, o repasse do aumento de custos ao preço da carne pode ser limitado pelo lado da demanda, haja vista que fatores como o fim do auxílio emergencial e despesas sazonais próprias do início do ano, como IPTU, IPVA e material escolar, devem pesar na renda disponível do consumidor médio, que passa a dar preferência a proteínas mais acessíveis, como, por exemplo, o frango.

Voltando para o lado da oferta, após atingir o menor volume da década em 2020, o número de abates em 2021 ainda deve ficar em patamares inferiores aos registrados em 2017 e 2018.

Um maior nível de oferta de gado no mercado doméstico só deve se materializar em 2022, já que a cadeia de bovinos tem um ciclo longo e o aumento de retenção das fêmeas começou a se intensificar no segundo semestre de 2019, período em que a China aumentou sua demanda pelo produto.

Sendo assim, levando em conta este cenário, acreditamos que o prognóstico para 2022 é que haja um descasamento entre uma maior oferta de gado pronto para o abate e uma menor demanda da China que, possivelmente, já terá recomposto seu plantel de suínos, já que esse movimento vem ocorrendo de maneira mais rápida do que se imaginou inicialmente.

Posição do Brasil entre os players globais

Considerando a alta dependência das exportações brasileiras em relação à China, é possível imaginar que esse descompasso entre oferta e demanda em 2022 tenha algum impacto na dinâmica global de preços da carne.

Entretanto, os resultados negativos desse movimento devem ser amenizados por fatores da própria geografia chinesa, como a falta de área e de relevo adequado para criação de bovinos; assim como conflitos comerciais do país com outros exportadores do produto – como é o caso da Austrália, que até 2019 era o terceiro fornecedor
da commodity ao país asiático-, aumentando assim a relevância do Brasil como player do segmento.

A perda de espaço da Austrália no comércio global, também ocasionada por fatores climáticos adversos que reduziram a oferta de rebanho no país ao menor nível desde 2001, beneficiará não apenas o Brasil, mas também os Estados Unidos, que devem se tornar o segundo maior exportador de carne bovina em 2021.

Com exportações mais robustas nos EUA, a atual dinâmica favorável de alta disponibilidade e baixas cotações do gado pronto para o abate tende a se ajustar. Sendo assim, espera-se uma retomada de preços do boi gordo no país.

Tal movimento no mercado americano, que possivelmente reduziria os spreads dos frigoríficos locais, e onde a JBS (JBSS3) é um player relevante, poderia ser compensado com a melhora esperada para dinâmica dos spreads no mercado brasileiro, que se encontram em patamares 8% inferiores aos níveis históricos, e tendem a melhorar com a perspectiva de queda da arroba do boi gordo a partir do ano que vem e com a retomada da demanda nos mercados doméstico e internacional.

Levando em conta esse cenário positivo para a pecuária bovina, e o fato de que a avicultura no Brasil enfrenta desafios diante de um quadro de excesso de oferta e alta dos preços de grãos, seria interessante para o investidor dar preferência a players com maior exposição à cadeia de bovinos, com diversificação geográfica e escala global, como é o caso de JBS, nossa ‘top pick’ no setor (Money Times, 21/1/21)