Preço da carne bovina exportada sobe com oferta restrita e guerra comercial

Abiec não prevê uma disparada nos preços da carne bovina no mercado internacional — Foto Claudio BelliValor
Valor médio pago em abril ficou 11% maior do que no mesmo período de 2024.
Com a produção mundial de carne bovina em queda devido a problemas climáticos nos principais países produtores em um momento sazonal de escassez e animais prontos para a abate, as exportações brasileiras de carne bovina estão registrando aumento não só em volume, mas também em preço.
De acordo com dados da secretaria de comércio exterior do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (Mdic), o preço médio recebido pelos exportadores brasileiros de carne bovina em abril foi de US$ 5.030,30 por tonelada, valor 11% acima do registrado no mesmo período do ano passado. Em volume, o aumento das exportações foi de 16,3% na mesma comparação, com 241,6 mil toneladas embarcadas.
“Quando analisamos o mercado mundial, quem está produzindo carne em larga escala é o Brasil. Isso foi uma realidade no ano passado e é uma realidade este ano. O Brasil está sendo muito procurado por essa demanda global e tornou-se a alternativa da vez para fornecimento de carne bovina”, observa o coordenador de mercados da consultoria Safras & Mercado, Fernando Iglesias.
Como exemplo, ele cita as previsões do Departamento de Agricultura dos EUA (USDA), que aponta queda de 110 mil toneladas na produção mundial de carne bovina de 61,66 milhões de toneladas no ano passado para 61,5 milhões de toneladas este ano.
Dentre os países em que este declínio está mais acentuado, destacam-se os EUA – hoje segundo principal destino das exportações brasileiras de carne bovina. Com o menor rebanho desde 1951, o mercado americano dobrou as importações de carne bovina do Brasil este ano, passando de 44 mil toneladas nos três primeiros meses de 2024 para 88 mil toneladas em 2025.
Durante teleconferência de apresentação dos resultados da Minerva, o diretor de finanças e relações com investidores da companhia, Edison Ticle, também mencionou o cenário americano como ponto positivo para os preços da carne bovina brasileira no exterior, com altas de 5% a 10%. “A gente vê o mercado americano muito forte ainda e mercado chinês recuperando bastante em volume e preço, principalmente preço, a partir desse segundo trimestre”, comentou o executivo.
Outro destino importante das exportações brasileiras, com cerca de 50% de participação, a China também tem aumentado as compras de carne bovina este ano em meio à guerra comercial com os EUA. “Tem 390 frigoríficos americanos que não tiveram o credenciamento renovado em fevereiro e os demais enfrentam tarifas muito altas, o que inviabiliza negociações entre Estados Unidos e China” destaca o coordenador de mercados da Safras & Mercado.
Nesse cenário, a expectativa é de que o Brasil continue ampliando sua participação no mercado internacional nos próximos meses. “Mesmo com o valor cobrado pela tonelada de carne bovina crescendo, o Brasil continua com a arroba mais barata do mundo”, observa a diretora executiva da Agrifatto Consultoria, Lygia Pimentel. A avaliação dela é de que os preços continuarão em alta, refletindo não só a menor oferta global, mas também a disputa comercial entre os dois países.
“Esperamos que o próprio mercado brasileiro se valorize nos próximos meses com a virada do ciclo pecuário para fase de alta, fazendo com que talvez deixemos de ser a arroba mais barata do mundo. Mas, se o Real continuar se desvalorizando, pode ser que, mesmo aumentando o valor nominal, a carne bovina do Brasil continue competitiva lá fora”, avalia Pimentel.
Com isso, a previsão é de preços mais altos para o consumidor brasileiro também. “Realmente, o consumidor brasileiro não consegue competir com o mercado internacional”, reconhece o analista de commodities da Datagro, João Figueiredo. O resultado esperado, afirma, é uma queda e 3,5% no consumo nacional de carme bovina este ano, com o consumidor brasileiro migrando para proteínas mais baratas como frango e suíno.
“As taxas de desemprego estão em patamares baixos, mas a inflação de alimentos já começa a virar o centro da discussão de novo, com taxas de juros mais altas e maior endividamento da população. Por isso, o mercado interno não deve ter a mesma performance de consumo que teve no passado”, completa Figueiredo.
Guerra comercial
Apesar da guerra comercial estabelecida entre os dois maiores clientes da carne brasileira, China e EUA, Roberto Perosa, presidente da Abiec, associação que representa as indústrias de carnes, não prevê uma disparada nos preços do produto no mercado internacional.
“Acho que o preço vai subir, mas não algo muito significativo. Podem vir aumentos acompanhados de processos naturais, inflacionários”, afirmou. “Isso porque não há desabastecimento no mercado global, não há uma corrida pela carne no mundo”, acrescentou.
Até mesmo em termos de volume, Perosa tem uma perspectiva moderada sobre eventuais aumentos de demanda da China em substituição ao produto americano.
“O Brasil já exportou quase sete vezes mais carne que os EUA para a China ano passado, é um mercado consolidado. O canal que os EUA vendiam é diferente do Brasil”, explicou o dirigente, citando que há distinção entre os tipos de cortes fornecidos por cada país aos chineses.
Neste contexto, a Abiec mantém a expectativa de crescimento de 10% a 12% para as exportações de carne bovina neste ano.
No acumulado de janeiro a abril, o Brasil exportou 949,9 mil toneladas de carne bovina, crescimento de 13,5% frente ao mesmo período de 2024. A receita somou US$ 4,55 bilhões, avanço de 23,7% (Globo Rural, 10/5/25)