Preço da carne cai no pasto e continua alta no prato por pressão da China
Sai a carne bovina e entra a mensalidade escolar como a vilã do aumento de preços medido pelo Índice Geral de Preços de Mercado (IGP-M) de janeiro, avaliou o economista da Fundação Getúlio Vargas André Braz, que, no entanto, descartou impacto imediato para o consumidor no preço da carne no açougue.
Por enquanto, apenas a arroba do boi no pasto teve seu valor reduzido, por conta de menor custo com ração devido às chuvas que favorecem a alimentação natural (capim). Mas a pressão da exportação para a China continua, e a boa notícia é de que pelo menos a alta do preço para o consumidor está menor.
O boi que está no pasto apresentou queda na variação da arroba na primeira prévia do IGP-M de janeiro, de 5,63%, contra alta de 21,23% na primeira prévia de dezembro do ano passado. Já a carne bovina que está sendo preparada para ir ao mercado, mas ainda não chegou ao consumidor, saiu de uma alta de 19,95% para aumento de 11,5%.
“Pode ser que a carne fique estável no preço que ela está agora, mas não se sabe daqui para frente, porque a China pode começar a comprar de outros mercados e aumentar a oferta no mercado interno. Mas enquanto (a China) estiver comprando muito aqui, não vai sobrar para o consumidor brasileiro, e é difícil imaginar que haja espaço para um recuo significativo no preço da carne”, explicou o economista.
A FGV divulgou mais cedo a primeira prévia do IGP-M de janeiro, que subiu 0,67% após alta de 1,83% na primeira prévia de dezembro puxada pela alta da carne. No ano, o índice que reajusta os aluguéis acumula elevação de 0,67% no ano e 8,02% em 12 meses.
O Brasil passou a vender mais para o mercado chinês depois que uma peste atingiu a carne suína exportada da África para a China, no final do ano passado. De acordo com Braz, somente com a normalização do mercado africano e do australiano, que sofre com as queimadas, será possível esperar uma queda de preço no mercado brasileiro.
Além da redução da pressão do preço da carne, a inflação medida pelo IGP-M foi influenciada na primeira prévia por outros impactos negativos, principalmente da soja, minério de ferro e feijão, que registraram quedas de 1%, 0,51%, e 5,14% respectivamente. Na primeira prévia de dezembro, esses itens, que compõem o Índice de Preço ao Produtor Amplo (IPA) haviam subido 2,68%, 3,91% e 31,66%.
“Os alimentos in natura sempre apresentam pressão nessa época do ano, por causa do sol intenso e da chuva forte”, explicou.
Já para as próximas prévias, Braz prevê que a carne perderá o protagonismo de alta e a mensalidade escolar irá ocupar o lugar de vilã da inflação. Nesta primeira prévia ainda não foi detectado esse aumento porque a coleta é feita de 21 a 31 de dezembro.
“O consumidor vai ver um tipo de pressão inflacionária que o IPA não antecipa, que são as mensalidades escolares. Como as próximas coletas vão ser dentro de janeiro já terão as mensalidade com ajuste e vão fazer parte das próximas divulgações que devem favorecer a aceleração do IPC (Índice de Preço ao Consumidor)”, afirmou (Broadcast, 10/1/20)