23/01/2025

Preço de alimentos: Governo quer mágica em vez de ajuste na economia

Presidente do ILM, Rodrigo Marinho, afirma à Coluna que declaração do ministro Rui Costa (Casa Civil) de que não haverá intervenção artificial não é suficiente para afastar temor do mercado.

O presidente do Instituto Livre Mercado (ILM), Rodrigo Marinho, manifestou preocupação com o anúncio feito pelo ministro Rui Costa (Casa Civil) de que o governo federal fará intervenções para baratear os alimentos. “Por mais que o ministro diga que não haverá ação artificial (o que é lido como recado de que não ocorrerá tabelamento), qualquer intervenção governamental gera temor. Tentaram fazer isso no caso do arroz, por exemplo. Não deu certo. Eles não aprendem”, disse à Coluna do Estadão.

“Negociar preço é o mesmo que negociar oferta e procura. Parece piada”, complementou. Marinho lembrou que a inflação ocorre por problemas na economia, falta de ajuste fiscal e porque o real perdeu valor. “São questões de conjuntura, mas eles (integrantes do governo Lula) acham que há passe de mágica”, criticou.

O presidente do ILM disse que o instituto vai aguardar o anúncio das medidas, que ainda não foram detalhadas, e monitorar o Diário Oficial da União.

O Instituto Livre Mercado informa em sua descrição que é uma organização sem fins lucrativos, especializada em advocacia da concorrência, com a missão de defender a economia de mercado, a liberdade econômica e a liberdade de consumo em todos os poderes da República. O grupo orienta, por exemplo, a Frente Parlamentar do Livre Mercado no Congresso, sobre a negociação e votação de projetos com impacto na atividade econômica no País (Estadão, 23/1/25)

 



Governo quer baixar a inflação na marra – Editorial O Estado de S.Paulo 

Ministro Rui Costa avisa que haverá ‘intervenções’ para baratear os alimentos, confirmando o velho cacoete petista de acreditar que basta a vontade do Estado para definir preços.

O ministro da Casa Civil, Rui Costa, informou que o governo fará “um conjunto de intervenções” para baratear os preços dos alimentos ainda no primeiro bimestre. Ou seja, agora é oficial: o governo entendeu que a inflação pode custar a reeleição do presidente Lula da Silva. Em vez de atacar as causas do problema, sobretudo os gastos excessivos do governo, os petistas preferem, como sempre, concentrar-se nos sintomas, forçando uma queda artificial dos preços – como se estes fossem resultado da vontade arbitrária de quem os estabelece, e não expressão das relações básicas de mercado. E a história mostra que sempre que o governo se julgou capaz de intervir nessas relações, o resultado foi desastroso: desabastecimento e mais inflação.

Mas os petistas são teimosos. Segundo Costa, o governo fará reuniões com os ministros da Agricultura, do Desenvolvimento Agrário e da Fazenda para tratar do assunto. Lula da Silva ainda deve conversar com os produtores rurais, mas, de acordo com Costa, ele já tem em mãos uma lista de sugestões elaborada por representantes de supermercados.

Tudo foi dito em uma entrevista ao programa Bom Dia, Ministro, da própria Secretaria de Comunicação Social da Presidência da República, ambiente que talvez tenha dado conforto para que Costa dissesse o que realmente pensa. A declaração não foi tirada de contexto, o ministro não foi induzido ao erro e não se trata de fake news.

Costa não adiantou quais medidas serão anunciadas, mas isso pouco importa. O que interessa é a mensagem que o ministro passou. Ainda há muitos brasileiros com idade suficiente para lembrar como era o Brasil antes do Plano Real, que pôs fim à espiral inflacionária a partir de 1994. Naquelas décadas, experimentou-se de tudo, de estoques reguladores à retenção de exportações, passando por congelamento de preços e fiscais voluntários que davam voz de prisão a gerentes de supermercado. Mas os preços, indóceis, teimavam em subir.

Só isso deveria bastar para desestimular iniciativas como a anunciada pelo ministro Costa, mas o governo parece ter se dado conta de que não tem mais tempo: a eleição, segundo o próprio Lula, está logo aí, razão pela qual é preciso agir para conter os preços dos alimentos. E foi o presidente quem disse, durante a primeira reunião do ano com seus ministros, que a prioridade de seu governo será “comida barata na mesa do trabalhador”.

O cacoete intervencionista do PT é conhecido. Não faz nem um ano que o Executivo cogitou adquirir arroz importado para vender o produto diretamente nos supermercados, a preços tabelados e subsidiados, em embalagem própria com a logomarca do governo federal. Foi logo após as enchentes no Rio Grande do Sul, e a iniciativa só foi abandonada por suspeitas de fraude no leilão.

Também é bom lembrar que os combustíveis estão defasados em relação aos preços internacionais. A gasolina não sobe desde julho, e o diesel está com o mesmo preço desde dezembro de 2023. E, apesar da disparada do dólar, a Petrobras, que tem mantido uma política de preços “abrasileirados” desde o início do governo Lula, diz que ainda aguarda o “momento adequado” para fazer eventuais reajustes.

O governo bem sabe que esse tipo de coisa pega mal. Tanto que, ao longo do dia, a palavra “intervenções”, expressamente mencionada por Rui Costa no programa, foi retirada do texto divulgado no site da Casa Civil – como se omitir a palavra resolvesse o problema.

Os próximos passos são previsíveis. O marqueteiro Sidônio Palmeira entrará em campo para resolver a “confusão” antes que ela se torne mais uma crise, enquanto, nos bastidores, não faltará quem diga que qualquer tipo de intervenção está fora de cogitação.

Os alimentos estão caros em razão da influência de fatores climáticos e da valorização do dólar, mas a demanda também contribui para manter os preços elevados. E é neste ponto que Rui Costa expôs o pensamento que guia o governo nessa discussão: a recusa em aceitar a lei da oferta e da procura e em reconhecer o quanto o Executivo colabora diretamente para a carestia (Estadão, 23/1/25)

 



Governo diz que não vai taxar exportações nem controlar preços agrícolas

“Está fora de cogitação qualquer intervenção nessa área', disse Paulo Teixeira. Foto Fernando Frazão - Agência Brasil

Iniciativas para atacar a inflação de alimentos passarão por incentivos à produção com crédito e assistência técnica, afirma Paulo Teixeira.


A explicação veio após o colega Rui Costa, ministro-chefe da Casa Civil, dizer nesta quarta-feira (22/1), no programa “Bom dia, ministro”, da EBC, que o governo prepara um “conjunto de intervenções” para buscar o barateamento dos preços dos alimentos. Mais tarde, o governo trocou a expressão por “um conjunto de ações que sinalizem para o barateamento dos alimentos”, em nota divulgada à imprensa.

O termo “intervenção” causa apreensão no agronegócio, que teme medidas estatais mais drásticas no mercado privado. “Está fora de cogitação qualquer intervenção nessa área, nem taxação nem impedimento de exportação. Isso nunca foi cogitado”, disse Teixeira à reportagem. “O governo não tem menor intenção de fazer isso, o presidente Lula falou que não quer fazer intervenções na economia nessa ordem”, completou.

Medidas em estudo pelo governo, como mostrou a reportagem ontem, são para reduzir custos operacionais nos supermercados, o que pode ter impacto no preço final dos alimentos.

O Ministério da Agricultura ainda não se manifestou sobre o assunto. Nos bastidores, o ministro Carlos Fávaro tem tentado se afastar de uma possível crise relacionada aos preços dos alimentos. Cobrado na reunião ministerial de segunda-feira (20/1) por medidas imediatas para ajudar reduzir os índices, ele disse ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva que essa é uma questão econômica, que envolve mercado e inflação, e não a produção, afirmou uma pessoa próxima ao chefe da Pasta.

Da parte agrícola, Fávaro teria ressaltado que os preços dos produtos são impactados pelos efeitos adversos do clima e pela alta do dólar e dito que a safra será recorde, o que pode ajudar a frear a escalada de alguns produtos, mas que não há controle sobre essas cotações.

Paulo Teixeira, do Desenvolvimento Agrário, disse que o que está pesando mais nas discussões governamentais são os preços da carne e café.

“O café foi uma questão mundial, teve quebra por conta de clima e o dólar interfere. No caso da carne, são dois fatores: o primeiro é amansar o dólar e o segundo é a superação do ciclo pecuário, deve ter aumento de abate, virada do ciclo pecuário e aumentar oferta de carne”, argumentou.

Nesta quarta-feira (22/1), o ministro e dirigentes da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) vão participar de reunião com o secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda, Guilherme Mello, sobre o tema. O encontro é preparatório para uma conversa que os ministros das áreas terão em breve, disse uma fonte.

“Nós precisamos aumentar a produção agrícola voltada ao mercado interno: carne, frutas, legumes, verduras. Ao aumentar a oferta podemos incidir sobre a inflação mais fortemente”, acrescentou o ministro Paulo Teixeira.

“Precisamos fazer um esforço para aumentar o crédito agrícola e para aumentar a assistência técnica. Parte desses produtos são de produção intensiva de pequenas áreas. Queremos que o agricultor possa se apropriar de novas tecnologias e oferecer quantidade maior de produtos. Como estamos nas vésperas de debate orçamentário é um tema presente”, completou, sem citar valores pretendidos para a política de assistência técnica e extensão rural (Globo Rural, 22/1/25)

 



Alimentos: Casa Civil nega debate sobre intervenção para reduzir preço

Rui Costa. Foto Valter Campanato - Agência Brasil

Posicionamento vem após fala do chefe da pasta, Rui Costa, que afirmou ter conversas com outros ministérios para baratear produtos.

A Casa Civil negou que esteja em discussão uma “intervenção de forma artificial” para reduzir os preços dos alimentos. O posicionamento ocorreu após o chefe da pasta, Rui Costa, ter falado que terá conversas com ministérios “para buscar conjunto de intervenções que sinalizem para o barateamento dos alimentos”.

“A Casa Civil informa que não está em discussão intervenção de forma artificial para reduzir preço dos alimentos. O governo irá discutir com os ministérios e produtores de alimentos as medidas que poderão ser implementadas”, afirmou a assessoria.

De acordo com a pasta, ainda não é possível avançar no detalhamento de tais medidas antes da realização das reuniões que irão tratar do assunto.

Nesta quarta-feira (22), Costa participou de entrevista ao programa Bom Dia, Ministro, do CanalGov, veículo institucional do governo federal, e disse que teria conversas com os ministérios da Agricultura, do Desenvolvimento Agrário e da Fazenda “para buscar conjunto de intervenções que sinalizem para o barateamento dos alimentos”.

“A princípio, nós vamos fazer algumas reuniões com o ministro da Agricultura, ministro do Desenvolvimento Rural, que pega as pequenas propriedades, o MDA, e o Ministério da Fazenda para a gente buscar conjunto de intervenções que sinalizem para o barateamento dos alimentos”, disse Rui Costa na ocasião.

Repercussão negativa

A fala do ministro gerou repercussão e questionamentos sobre que tipo de intervenção deve ser tomada. Porém, o governo nega tal ação e admite que o ministro usou a palavra de forma inadequada.

Após a entrevista, a Casa Civil divulgou uma nota com os principais pontos da entrevista. Na publicação, porém, o ministério altera a fala do ministro, substituindo o termo “intervenções” por “ações”.

“Vamos fazer algumas reuniões, com os ministérios da Agricultura, do Desenvolvimento Agrário, da Fazenda, para buscar um conjunto de ações que sinalizem para o barateamento dos alimentos”, diz a publicação, em referência ao que o ministro teria falado.

Cobrança por redução de preço dos alimentos

Durante reunião ministerial de segunda-feira (20), o presidente Lula cobrou os ministros da Agricultura, Carlos Fávaro, e do Desenvolvimento Agrário, Paulo Teixeira, pela redução no preço dos alimentos.

Segundo integrantes que participaram do encontro, Teixeira respondeu à cobrança do chefe do Executivo dizendo que o Ministério da Agricultura, o MDA, o Ministério do Desenvolvimento Social e o Ministério da Fazenda têm um grupo para discutir a alta do preço dos alimentos.

De acordo com o ministro, até o fim do ano, deve ser feito um parecer sobre o tema e proposta uma solução. Lula, porém, não se contentou com a resposta e disse que o governo precisa pensar em uma resposta imediata e resolver logo a situação.

A cobrança do presidente ocorre em meio à inflação resistente dos alimentos, observada em 2024 e que deve persistir neste ano. Carnes, açúcar e café devem pressionar a inflação dos alimentos, enquanto a maior safra de grãos pode aliviar o movimento inflacionário (Canal Rural, 22/1/25)