24/09/2021

Preço do potássio dispara junto com atraso na entrega aos sojicultores

Preço do potássio dispara junto com atraso na entrega aos sojicultores

SOJA CAMPO Epitácio Pessoa Estadão

Atrasos nas entregas de potássio aos agricultores na “boca” da safra 2021/22 no Brasil preocupam o setor, em meio à forte demanda por fertilizantes e problemas relacionados à oferta, diante de sanções ocidentais à grande produtora Belarus, que levaram os preços a disparar mais de 200% no acumulado do ano.

Esses atrasos, embora não atinjam os grandes e médios produtores que se anteciparam nas compras, segundo especialistas, preocupam uma parte dos sojicultores, especialmente nos estados do Mato Grosso e na região do Matopiba.

Eles temem não receber o potássio a tempo de aplicar o produto –se a aplicação não puder ser feita, as produtividades seriam afetadas. O plantio de soja está em fase inicial em Mato Grosso, com as atividades concentradas naqueles produtores que farão a segunda safra de algodão. No Matopiba (Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia), a semeadura é mais tardia.

“Existe preocupação de quem não recebeu, de quem tem a promessa de receber, de que não consiga trazer… aí vai ter problema sério, a adubação vai ficar mais baixa, a tendência de produzir menos é grande, caso eles acabem não entregando [o fertilizante] a tempo”, disse o presidente da Aprosoja(Associação Brasileira dos Produtores de Soja), Antonio Galvan.

A aplicação do potássio varia de acordo com o solo argiloso ou arenoso e pode ser realizada até 30 dias após o plantio, disse ele. No primeiro caso, alguns aplicam antes da semeadura, para otimizar os trabalhos.

“Esperamos que não comprometa [a safra] pelo atraso. Agora, se atrasar muito, pode comprometer a produtividade dessas lavouras que não receberam esse fertilizante”, acrescentou Galvan à Reuters, revelando que ele mesmo ainda não recebeu uma parte do potássio que comprou. O agricultor tem promessa de chegada do produto em meados de outubro.

Um operador de uma grande companhia do setor de fertilizantes no Brasil confirmou à Reuters os atrasos, citando a forte demanda, os problemas decorrentes das sanções à Belarus, além da baixa produção local de potássio –o Brasil importa quase a totalidade do consumo desse insumo.

“Esse fatores estão impactando fortemente o mercado, não tenho um número [do setor], mas eu estou com 27% de atraso nesse momento”, disse o negociante, na condição de anonimato para poder falar livremente sobre o assunto.

Com as sanções ocidentais a Belarus, segundo maior produtor mundial de potássio atrás do Canadá, a demanda global por potássio está forte enquanto não entra em vigor, em dezembro, um anunciado embargo dos estados Unidos a empresas do país do leste europeu, disse o diretor da mesa de fertilizantes da StoneX, Marcelo Mello.

“Como tem o prazo, os importadores de várias regiões do mundo estão tentando garantir a oferta que puderem, e por isso dá essa sensação de que está faltando potássio“, disse ele, avaliando que no Brasil, neste momento, o problema não é tão expressivo porque os agricultores maiores já receberam.

“É um problema que se avizinha, é um problema no mundo, todo mundo que faz comércio internacional é obrigado a cumprir a sanção econômica americana”, disse ele.

Mello também destacou que as importações de potássio, de janeiro a agosto, estão 6% acima do mesmo período do ano passado, mas o consumo cresceu 15% no Brasil. “Então estamos 10% abaixo, ou seja, está apertado o mercado.”

A consequência disso tudo é que os preços do potássio importado estão em US$ 750 por tonelada no porto, mais que o dobro do final de março e uma alta de mais de 200% na comparação com janeiro, disse o especialista.

Apesar disso, Mello avalia que, uma vez que a maior parte dos produtores do Brasil já comprou potássio para a próxima safra de soja, os preços mais altos no mercado global poderão prejudicar os próprios norte-americanos em 2022, caso não haja uma resolução relacionada às sanções de Belarus.

A analista Daniele Siqueira, da consultoria AgRural, também citou casos de atrasos nas entregas, mas ressalvou que eles estão concentrados em estados que plantam mais tarde, como o Matopiba. “Nos estados que começam a plantar antes, não devem ocorrer problemas. Se ocorrerem, serão pontuais”, avaliou.

Procuradas, a Anda (Associação Nacional para Difusão de Adubos) e a AMA (Associação dos Misturadores de Adubos do Brasil) não comentaram o assunto imediatamente. (Reuters, 23/9/21)