03/09/2020

Preço recorde no campo chega ao consumidor, mostra Fipe

Mercado na zona Sul de São Paulo, onde há bancadas com frutas e preços, gôndolas com produtos e uma placa em laranja indicando o açougue do mercado

Legenda: No mês passado, a valorização da alimentação foi de 1,3% em São Paulo - Adriano Vizoni - 05.jan.2012/Folhapress

 

Apesar da safra recorde de soja neste ano, preço do óleo sobe 13% no mês.

O campo nunca esteve com um cenário tão bom. Praticamente todos os produtos estão com preços recordes. Esse bom momento para os produtores, porém, traz custos para os consumidores.

Os dados desta quarta-feira (2) da Fipe (Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas) indicam os efeitos dessa aceleração no campo. Agosto foi mais um mês de alta nos alimentos.

No mês passado, a valorização da alimentação foi de 1,3% em São Paulo, acumulando 6,24% no ano e 10% em 12 meses. Já a inflação média, incluindo todos os gastos dos consumidores, foi de 1,37% no ano e de 3,19% em 12 meses.

E a pressão vinda do campo ainda não terminou, uma vez que os preços continuam subindo, principalmente os dos produtos básicos.

Demanda interna crescente no período de auxílio emergencial, exportações elevadas e, consequentemente, redução na oferta de alguns alimentos, puxaram os preços para cima.

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Um dos gargalos do momento, tanto para consumidores domésticos como para indústrias, é o óleo de soja. A saca da oleaginosa chega a R$ 130 na lavoura e caminha para R$ 140 no porto de Paranaguá. Para melhorar a oferta, o país aumenta as importações.

Devido à alta acentuada da matéria-prima, o consumidor pagou 13% mais pelo óleo de soja em agosto, conforme os dados desta quarta-feira da Fipe. O país obteve uma safra recorde, mas as exportações estão muito intensas.

O arroz também passa a ser uma preocupação. Apenas em agosto, o cereal teve aumento de 38% no campo, e a saca beira os R$ 100.

Boa parte dessa pressão no campo ainda deve ser incorporada aos preços que vão chegar às gôndolas dos supermercados. Demanda interna e exportações ajudam na manutenção do cereal em alta.

Após um período de retração, o país está produzindo mais açúcar, mas a demanda externa reduz a oferta no país. O resultado é uma alta de preço nas usinas, repassada para o varejo.

O leite está com preço recorde no campo, segundo o Cepea (Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada). Com isso, o produto subiu 5% nos supermercados no mês passado. Alguns derivados, como queijo, tiveram alta de até 8% no mês.

O valor do trigo pago ao produtor é de R$ 1.190 por tonelada, bem acima dos R$ 875 de há um ano. Dólar aquecido e necessidade de importações devem dar força aos preços no varejo.

As carnes já são pressão constante desde o final do ano passado. A demanda chinesa sustenta os preços dos bovinos e dos suínos em patamares recordes nas fazendas. A de frango, em baixa, começa a reagir.

A carne suína, a de maior pressão no bolso do consumidor no mês passado, registrou alta de 6%, segundo a Fipe.

O campo traz boas notícias para o agricultor e acumula receitas externas para o país. Para o consumidor, no entanto, o cenário não é tão bom, principalmente para aqueles de menor renda e que gastam boa parte do que ganham com alimentos (Folha de S.Paulo, 3/9/20)