Prepare-se para não ser 100%, porque tal coisa não existe no século 21
Por Nizan Guanaes
Medo dos ataques nas redes sociais não deve tolher o pensamento e a criatividade.
As grandes marcas são como jornais e revistas, precisam de editor-chefe. Elas têm que ter significado e profundidade para se comunicar com mais eficiência.
As marcas saudáveis têm lovers e haters. Se uma marca só tiver haters, ela está fazendo algo de errado. Se ela só tiver lovers... —isso é impossível nos dias de hoje. Então prepare-se para não ser 100%, porque tal coisa não existe no século 21. E foca os lovers.
O medo dos ataques nas redes não deve tolher o pensamento e a criatividade. O medo vai contra a criatividade, que requer coragem para pensar diferente. Criar é criar algo diferente. Há uma espécie de loucura no meio dessa agressividade toda. Mas temos que ouvir. Comunicar é ouvir.
Vivemos um processo de alfabetização de costumes. Piadas de mau gosto, por exemplo, perderam a graça. Revendo esses programas antigos da TV, aparece cada coisa que seria impensável hoje. Isso mostra evolução. Mas essa exacerbação toda precisa ser moderada um pouco para a humanidade seguir progredindo.
Eu acredito que isso será superado, ou pelo menos melhorado, com os aprendizados em curso. Estamos sempre no processo de aprender. Antes havia uma determinada etiqueta, agora nós temos outra. As vozes se multiplicaram, as vozes se intensificaram. E, quando as vozes mudam, a fala muda. A fala já mudou, e o ouvir precisa mudar também.
[ x ]
Aproveite os seus aprendizados. A aceleração digital vinda com a pandemia levou empresas e organizações a estágios mais avançados no uso das novas tecnologias. Ganhos de produtividade estão acontecendo por toda parte, às vezes ainda imperceptíveis. Fique atento.
Não será “business as usual” quando o mundo voltar ao normal. Nem tem mais aquele tal normal. Normal, aliás, sempre foi um termo muito vago.
Normal agora é o digital. Aquilo que as pessoas antes, por medo do novo, chamavam de virtual. E há mais oportunidades entre o real e o virtual do que a vã filosofia pode imaginar.
As marcas estão se comunicando nessa nova lógica. Antigamente a mídia era binária: conteúdo e público.
Não existe mais essa divisão. A comunicação se tornou mais complexa, mais rica. E mais arriscada. Mais do que nunca, a estratégia é que faz a diferença. Diante de tantos caminhos, é preciso planejar a caminhada. O grande desenho é o desenho do estrategista. As melhores marcas do mundo tiveram uma estratégia inteligente por trás.
Os grandes publicitários sempre foram grandes estrategistas, mas o ápice daquela visão era a criatividade aplicada ao comercial de 30 segundos. Vivemos agora a era da estratégia criativa. E do conteúdo.
Mas sem complexo de higlander. Não precisa sair cortando cabeças para seguir em frente. A mídia social não vai matar a TV, como a TV não matou o cinema, que não matou o teatro...
Como num big bang, a comunicação explodiu, fragmentou-se. E segue se expandindo. É um grande desafio, e os CMOs estão exaustos. São pessoas que precisam trabalhar a criatividade, mas estão sem tempo para alimentar a cabeça. Esse modelo de negócios não fecha. Criatividade precisa de liberdade. Liberdade inclusive para errar.
Não tenha medo de errar. Não tenha medo de criar. Mas tenha uma estratégia. Uma estratégia que obviamente busque o acerto, mas que sobreviva ao erro e melhore com ele.
Diante de tantos caminhos, a estratégia é o Waze. Ela mostra o melhor caminho para onde você pretende chegar (Nizan Guanaes, empreendedor, criador da N Ideias; Folha de S.Paulo, 7/9/20)