Eldorado e Fibria podem combinar seus negócios de celulose em Três Lagoas
O presidente da Fibria, Marcelo Castelli, negou nesta terça-feira que a maior produtora de celulose de eucalipto do mundo e seus controladores estejam envolvidos em negociações sobre uma possível consolidação do setor.
“Não existe qualquer negociação em andamento”, afirmou o executivo durante teleconferência com jornalistas, após a empresa divulgar na véspera lucro líquido de 280 milhões de reais no quarto trimestre de 2017, revertendo resultado negativo sofrido um ano antes.
Notícias na imprensa nos últimos dias apontam para uma possível oferta da Paper Excellence pela Fibria, após a empresa europeia ter adquirido da Eldorado Brasil no ano passado.
Castelli, porém, reafirmou que a Fibria segue considerando a consolidação como melhor opção para geração de valor do que uma ampliação de instalações produtivas, mas ressaltou que o valor de 15 bilhões de reais ofertado pela Paper Excellence pela Eldorado Brasil é um obstáculo.
“A visão da Fibria sobre consolidação não mudou com o evento da Eldorado, mas fomos disciplinados e não achamos na época que agregaria valor o preço que foi pago. Não pagamos 15 bilhões pela Eldorado mesmo tendo sinergias...isso para nos é um deal-breaker”, disse Castelli.
As ações da companhia subiam cerca de 2 por cento às 15h35, enquanto o Ibovespa tinha baixa de 0,95 por cento. A rival Suzano, também alvo de especulações na imprensa sobre uma aliança com a Fibria, tinha valorização de 0,93 por cento.
Durante a teleconferência, executivos da Fibria mantiveram a avaliação de que o mercado global de celulose como equilibrado, com reduções de capacidade na Europa e Ásia e alta demanda nestas regiões, incluindo a China. O cenário motivou a empresa a anunciar novo aumento de preços da celulose a partir de 1º de fevereiro em todos os mercados, reajuste que ainda não foi acompanhado por anúncios semelhantes por rivais como a Suzano.
O diretor comercial da Fibria, Henri Philippe Van Keer, afirmou que a tendência para os preços da celulose nos próximos meses é de alta, apesar da própria companhia ter adicionado capacidade no mercado no final do ano passado com a entrada em operação de expansão de fábrica no Mato Grosso do Sul.
“Não estamos enxergando queda de preço no primeiro trimestre. Vimos que a demanda na Europa está extremamente boa...Estamos vendo demanda até acima do normal na China. Não conseguimos entender os rumores sobre queda nos preços”, disse Van Keer (Reuters, 30/1/18)
Eldorado e Fibria podem combinar seus negócios de celulose em Três Lagoas
Em volume, a Fibria tem o dobro do tamanho da Eldorado, cujo controle - em processo gradual de transferência - foi vendido à PE pelos irmãos Batista em setembro por R$ 15 bilhões (incluindo dívidas).
A Eldorado Brasil, produtora de celulose de eucalipto da J&F Investimentos e da Paper Excellence (PE), e a Fibria, maior empresa do segmento no mundo, poderão combinar suas operações localizadas em Três Lagoas (MS), a partir da constituição de uma nova empresa, apurou o Valor. Segundo fontes com conhecimento do assunto, uma proposta para início de conversas já foi levada à Fibria pela PE, que pertence aos mesmos donos da Asia Pulp and Paper (APP) e ainda é acionista minoritária da Eldorado.
O que move uma associação entre as duas empresas é poder capturar por ambos os sócios as elevadas sinergias industriais, florestais, comerciais e de logística que resultariam da união dos seus ativos em Três Lagoas. O montante desses ganhos poderia superar R$ 4 bilhões.
Procurada, a Fibria informou que não comenta o assunto e a PE declarou que não procede a informação e que continua focada no processo de aquisição dos 53% restantes de ações da J&F na Eldorado Brasil. Um dos sócios da Fibria, o grupo Votorantim, segundo uma fonte, não recebeu, diretamente, proposta da PE, mas indicou que a quem caberia receber era a própria fabricante de celulose. Por isso, preferiu não comentar a informação. O grupo tem 30% das ações da empresa e o BNDES, com quem divide o controle, fatia semelhante.
Segundo as fontes ouvidas pelo Valor, Fibria e PE teriam participações diferentes na joint venture, que agruparia as duas linhas de produção da controlada de Votorantim e BNDES no município sul-mato-grossense e a linha única da Eldorado, que entrou em operação em 2012. A união geraria uma fabricante apta a produzir quase 5 milhões de toneladas de celulose de eucalipto por ano - à capacidade instalada de 3,25 milhões de toneladas da unidade da Fibria, em Três Lagoas, se somaria o 1,7 milhão de toneladas da Eldorado.
Em volume, a Fibria tem o dobro do tamanho da Eldorado, cujo controle - em processo gradual de transferência - foi vendido à PE pelos irmãos Batista em setembro por R$ 15 bilhões (incluindo dívidas). Com base nos números financeiros da Eldorado até setembro, somando a produção das duas empresas, seria criada uma companhia com receitas anuais acima de R$ 10 bilhões.
Na avaliação de uma fonte do setor, um potencial acordo societário com a Fibria dependerá, sobretudo, do valor atribuído aos ativos, especialmente à Eldorado. A Fibria foi uma das empresas que demonstraram publicamente interesse na concorrente quando a J&F sinalizou ao mercado a intenção de vender o negócio. Mas não se dispôs a pagar o valor oferecido pela PE, por considerar o prêmio excessivo - analistas e outros produtores de celulose concordaram que o múltiplo Ebitda (lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização) de 11 a 12 vezes foi caro. A Fibria a avaliava em aproximadamente 8 vezes.
Segundo fontes da indústria papeleira, a abertura da PE a um diálogo para unir as operações teria sido indicada à Fibria, via assessores financeiros, nas últimas semanas, após uma última tentativa de acordo de fusão por parte dos acionistas da Fibria e da Suzano Papel e Celulose. A consolidação entre as duas principais companhias de celulose e papel do país é vista no setor como um fato certo - e tende a ocorrer mais cedo ou mais tarde.
Neste momento, alega a PE, a meta é concluir a aquisição das ações da Eldorado ainda em poder dos irmãos Joesley e Wesley Batista. A PE, que oficialmente tem sede na Holanda, detém 47,4% do capital. Tem até setembro para adquirir a fatia remanescente, mas o fechamento da operação pode ocorrer bem antes desse prazo. O Valor apurou que a PE já tem disponíveis linhas de financiamento dadas por bancos chineses e que a transferência do controle da empresa pode ser sacramentada já em março.
A companhia também já esteve em conversas com a diretoria do BNDES, principal credor da Eldorado, para renegociar a dívida.
Os 53% de ações, que ainda pertencem à J&F e ao ex-presidente da Eldorado José Carlos Grubisich, foram dados em garantia de empréstimos tomados pela fabricante de celulose da J&F. O processo de substituição dessas garantias seria, hoje, o principal entrave à conclusão da compra dessa fatia restante.
Fonte próxima à Fibria disse que a consolidação de ativos no setor segue nos planos da companhia e de seus acionistas e uma combinação com Suzano, a princípio, devido às dimensões das duas empresas, tenderia a trazer mais ganhos do que uma fusão com a Eldorado. Mas, negociar com a PE não estaria descartado, porém as bases teriam de partir de valores considerados realistas, conforme a situação financeira dos dois ativos em questão.
As conversas de Fibria-Votorantim com Suzano, da família Feffer, voltaram à mesa após o acordo de aquisição do controle da Eldorado pela PE, em setembro. Avançaram consideravelmente até novembro. Mas diferenças relacionadas ao futuro dos ativos de papel da Suzano, questões de governança corporativa e da valorização de cada empresa esfriaram as tratativas entre os dois lados. O plano, todavia, continua vivo e no interesse de ambos. No entanto, no curto prazo, não há data para retomada e o processo levaria um bom tempo.
Ontem, a ação da Fibria chegou a registrar alta de 7,50% na B3 - liderando com folga os ganhos no Ibovespa - a R$ 56,55. O papel encerrou o pregão com valorização de 5,23%, negociado a R$ 55,35. Na bolsa de Nova York, o ADR da companhia subiu 5,06%, a US$ 17,43 (Assessoria de Comunicação, 30/1/18)