18/12/2018

Pressão contra desmatamento na Amazônia transforma pecuária

Pressão contra desmatamento na Amazônia transforma pecuária

O gerente agropecuário Marcos Aurélio de Queiroz quer triplicar o número de cabeças de gado que sua empresa, a CSM Agropecuaria, manda para o abate todo ano. A parte complicada: fazer isso sem adicionar um único hectare de pastagem.

Durante décadas, pecuaristas no Pará expandiram suas propriedades com fogo e machado, desmatando enormes trechos da floresta amazônica. Agora as coisas estão mudando.

O desmatamento da Amazônia não é proibido por lei, mas é severamente limitado. Os maiores exportadores de carne bovina, incluindo a gigante JBS, têm um compromisso público de não comprar gado de áreas desmatadas nos últimos anos. Ao mesmo tempo, as pastagens mais antigas estão se esgotando e não fornecem mais a mesma quantidade de alimento de antes. Diante desse cenário, pecuaristas estão intensificando a produção, com a integração entre lavouras e pastagens, que torna o solo mais produtivo, e a engorda de animais em confinamentos.

Neste ano, a CSM plantou 3 mil hectares com grãos em suas quatro fazendas na região. O plano é chegar a 10 mil nos próximos anos. Além disso, cerca de 30 por cento do gado da empresa agora é alimentado em confinamento.

“É uma revolução”, disse Queiroz em entrevista. “Sempre tive em mente que a pecuária deveria ser integrada à agricultura.”

A mudança é lenta, mas tem ampliado a pressão sobre os fazendeiros tradicionais, que precisarão ganhar competitividade para sobreviver, de acordo com Maurício Nogueira, diretor da Athenagro, uma empresa de consultoria com sede em São Paulo. “Estamos caminhando para um cenário de preços que não tolerará mais um baixo nível tecnológico”, disse Nogueira em entrevista.

No Pará, onde fica a maioria das fazendas da CSM, a taxa média de cabeças de gado por hectare aumentou quase 70 por cento nos últimos dez anos, de acordo com a Athenagro. O número de animais engordados em confinamento mais que dobrou.

“Vamos ver um processo de intensificação no sistema produtivo”, disse Cleiton Luiz Custódio, CEO da Agro Santa Bárbara, em Xinguara, onde a empresa agora tem dezenas de confinamentos espalhados por uma fazenda do tamanho da cidade de Nova York. “Buscamos obter mais receita por hectare.”

A rotação de lavouras e pastagem ajuda a fertilizar o solo, aumentando a quantidade de capim disponível para o gado, que ganha peso muito mais rápido e pode ser enviado para abate em menos de 20 meses, ante 36 em um sistema tradicional, de acordo com Custódio.

Desde o início dos anos 2000, o rebanho bovino no Pará dobrou para mais de 20 milhões de cabeças — quase o dobro do Texas, nos EUA. A maior parte da expansão ocorreu através da queima de florestas em favor de novas pastagens, o que fez soar o alarme para o impacto da pecuária na região amazônica.

O Brasil tem cerca de 15 milhões de hectares que usam a rotação de culturas, em comparação com menos de 5 milhões de hectares há uma década, de acordo com a estatal Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária). O governo do Brasil incentivou a prática ao oferecer empréstimos subsidiados com o objetivo de reduzir as emissões de carbono no setor agrícola (Bloomberg, 17/12/18)