Previsões de China, EUA e UE aumentam desafios para agro brasileiro
SOJA, MILHO E ALGODÃO MONTAGEM Foto Blog do Lúcio Sorge.jpg
Dados mostram que país precisa buscar alternativas além de soja, milho e algodão.
Quais os caminhos que China, Estados Unidos e União Europeia apontam para o Brasil? Os dados da evolução agropecuária desses países para os próximos dez anos mostram que o Brasil precisa buscar alternativas além da soja, do milho e do algodão.
A melhoria das práticas agrícolas, a eficiência da competitividade agrícola doméstica, a busca de produtos mais sustentáveis e alimentos de melhor qualidade fazem parte das metas desses grandes produtores, que são concorrentes e importadores importantes do Brasil.
As áreas de produção terão pouco crescimento, mas a produtividade estará no foco deles como fator de obtenção de uma escala maior de produtos.
Variedades de sementes, utilização intensa das terras aráveis já existentes e o aumento da produção interna para reduzir a exposição ao mercado global, muito perigosa em períodos de conflitos geopolíticos, vão elevar a produção. É o que prometem esses países e, se conseguirem, será mais um fator de concorrência para os brasileiros.
Os chineses, principais parceiros comerciais do Brasil no setor de agronegócio, terão pelo menos 11% da sua área de grãos com produção sustentável e orgânica. Os europeus elevam o percentual da área de orgânicos para 15%.
Além de uma concorrência maior no volume, esses produtores vão forçar o Brasil também a mostrar sustentabilidade e qualidade na produção. O grau de sustentabilidade atingido hoje é ofuscado pelas irregularidades constantes de poucos.
Como dizem representantes do agronegócio, enquanto houver conivência com essas infrações, inclusive do próprio setor, todo o agronegócio será punido.
As notícias vindas da China, apresentadas pelo governo em um relatório sobre as perspectivas de produção, consumo e importações para 2032 e denominado China Agricultural Outlook 2023-2032, indicam boas oportunidades para novos produtos, como frutas e lácteos, mas um cenário pouco confortável para soja e milho.
Os números, apresentados pela CNA (Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil), são uma tradução do documento chinês e mostram que a área de cultivo muda pouco, ficando em 120 milhões de hectares. A produtividade, porém, sobe 10%, elevando a produção chinesa de grãos para 767 milhões de toneladas.
As importações de grãos, atualmente em 147 milhões de toneladas, vão recuar para 122 milhões. Previsões dependem de evolução da economia, de renda e, mais do que nunca, de clima.
Se as estimativas do China Agricultural Outlook estiverem corretas, o Brasil será afetado nas exportações de soja e de milho. A produtividade da soja evoluirá 38% nos próximos dez anos, elevando a produção chinesa para 37 milhões de toneladas. As importações, acima de 90 milhões de toneladas nos anos recentes, deverão recuar para 83,6 milhões em 2032.
A área de milho cresce para 44 milhões de hectares em 2032, e a produção atingirá 329 milhões de toneladas, 97% do consumo do país. As importações, que somaram 21 milhões em 2022, cairão para 6,9 milhões em 2032.
Os americanos, sem grandes áreas de expansão, apostam na produtividade. A de milho deverá subir 15% nos próximos dez anos; a de soja, 14%, e a de trigo, 9%.
Esses dados, divulgados na semana passada, são do Usda (Departamento de Agricultura dos Estados Unidos) e mostram que a área de soja cresce 4%, mas a de milho e de trigo recuam 7% e 8%, respectivamente, comparando os dados atuais com os de 2033.
Os americanos não serão fortes competidores do Brasil na soja, uma vez que a safra dos Estados Unidos deverá ficar em 132 milhões de toneladas em dez anos. A de milho superará 400 milhões.
Os dados futuros da China, da União Europeia e dos Estados Unidos mostram que o Brasil tem boas chances em frutas, pescado e lácteos, segmentos, no entanto, em que o país ainda precisa evoluir muito para competir com o mercado externo.
A taxa de urbanização em 72% e uma evolução da renda farão com que as importações de lácteos pela China atinjam 23,2 milhões de toneladas em 2032.
Segundo a Direção-Geral de Agricultura e Desenvolvimento Rural da União Europeia, os países do bloco não terão como avançar muito mais na produção desse setor. A adoção de critérios de sustentabilidade inibe o crescimento anual, que será de 0,5% no período.
Já os Estados Unidos deverão elevar em 11% a produção de leite em dez anos, conforme os dados do Usda, o que abre margem para maiores exportações.
O cenário das proteínas animais não é tão favorável aos brasileiros nos próximos dez anos como foi nos anos recentes. Os chineses estão reestabelecendo a produção de carne suína e de frango, afetada por doenças como peste suína africana e gripe aviária.
Com relação à carne bovina, a China vai continuar dependendo de importações para a complementação da demanda interna.
A volta da produção de carne suína em 56 milhões de toneladas em 2032 permitirá à China importar apenas 1,3 milhão de toneladas dessa proteína.
As importações já vêm caindo. Em 2022, o país asiático comprou 1,75 milhão de toneladas, 53% a menos do que em 2021. Brasil e Espanha são os principais fornecedores para o mercado chinês.
A produção de carne de aves sobe para 29,3 milhões de toneladas em dez anos, diminuindo a necessidade de importações para 1,1 milhão, abaixo do volume deste ano, que deverá ser de 1,3 milhão.
Entre as proteínas, o melhor cenário fica para a carne bovina. A demanda vem crescendo, mas os chineses não têm mais espaço para elevar a produção.
Em 2032, as importações do país asiático atingirão 3,13 milhões de toneladas, e as produções dos Estados Unidos e da União Europeia não vão acompanhar essa demanda. Atualmente, o Brasil é responsável por 40% da carne bovina importada pelos chineses.
A produção americana de carne bovina sobe para 13 milhões de toneladas, 6% a mais; a de frango vai a 24 milhões, com aumento de 14%, e a suína deverá atingir 14,6 milhões, com elevação de 18%.
O mercado de açúcar também será favorável aos brasileiros. O consumo chinês subirá para 16,4 milhões de toneladas em dez anos, com a necessidade de importações de 5,9 milhões.
O setor de algodão brasileiro exportará menos, conforme as estimativas do governo chinês. As importações da China, que já caíram 10% em 2022, recuando para 1,93 milhão de toneladas, deverão ser de 1,7 milhão em 2032. O Brasil é um dos principais fornecedores da fibra para a China (Folha, 14/11/23)