23/03/2018

Produção das líderes do leite cresceu 10%

Produção das líderes do leite cresceu 10%

O ambiente de preços menos atraentes na maior parte de 2017 não impediu que as 100 maiores fazendas de leite do país ampliassem a produção no ano que passou, e de forma ainda mais expressiva que em 2016. Após a produção média diária das 100 maiores ter crescido 4,5% naquele ano, em 2017 o salto foi de 10,4%, segundo o Levantamento Top 100 MilkPoint. A produção média diária do conjunto das 100 maiores foi de 17.929 litros de leite por dia no ano passado contra 16.179 litros em 2016.

Para Marcelo Pereira de Carvalho, coordenador do levantamento da consultoria, o que explica o forte crescimento em 2017 é que, de fato, essas propriedades acabam tendo “uma situação de mercado diferente” da vivida pelo produtor médio.

Por terem escala e melhor estrutura de produção, afirma, elas obtêm preços de venda mais altos, ao redor de 30% acima da média de mercado. Assim, numa situação em que o volume é importante, o laticínio não pode prescindir do grande produtor e paga mais para garantir a matéria-prima, disse. “Isso explica por que esses produtores continuam com projetos de expansão”.

Além disso, são produtores com projetos de mais longo prazo, que investem em tecnologia para ampliar a produtividade dos animais, acrescenta, destacando a profissionalização pela qual passa o segmento.

Por isso o desempenho é bem superior ao registrado na produção brasileira de leite em geral. Conforme informou o IBGE ontem, a produção brasileira total cresceu 4,1% em 2017, para 24.12 bilhões de litros. Apesar de crescente, a produção somada dos 100 maiores representa apenas 2,7% do total nacional.

Para realizar o levantamento, a MilkPoint obteve informações dos 100 maiores produtores de leite do Brasil sobre o desempenho de 2017, comparando-as com as do ano anterior. A Fazenda Colorado, dona da marca Xandô, segue como a primeira no ranking. Depois de elevar a produção em 4,2% em 2016, para 63.133 litros por dia, a Colorado avançou mais 7,14%, para uma produção media diária de 67.640 litros de leite.

A pesquisa mostrou pequenas alterações nas colocações entre os 10 primeiros do ranking, como a entrada de Hans Jan Groenwold, que ficou em décimo, e não estava no levantamento anterior. Isso revela, segundo o coordenador, a constância dos projetos. A pesquisa destacou que o maior crescimento absoluto em 2017 foi registrado pela Fazenda Figueiredo, de Cristalina (GO), cuja produção cresceu 66%, para 25.584 litros de leite por dia. (ver texto abaixo)

O ranking Top 100 registrou algumas mudanças em 2017 em relação ao ano anterior: 10 produtores deixaram de participar, cinco ficaram abaixo dos 100 maiores e 12 entraram ou retornaram à listagem.

Segundo o levantamento, o rebanho do grupo Top 100 teve aumento relevante da produtividade em 2017. A produção média de leite por vaca em lactação nas 100 maiores subiu para 27,1 litros por dia, ante 24,5 litros no ano precedente. O número é muito superior ao rendimento médio estimado para o rebanho do Brasil como um todo. Com base em dados do IBGE relativos a 2016, a produção média estimada pela MilkPoint nesse caso é de cerca de 6,3 litros por vaca/dia.

A pesquisa mostrou ainda que o custo operacional médio entre os 100 maiores produtores de leite do país recuou no último ano, para R$ 1,02 por litro, abaixo dos R$ 1,05 de 2016 (dados já deflacionados pelo IPCA).

A despeito da menor pressão de custo, a queda dos preços do leite afetou a margem do produtor, indica o levantamento. Entre os produtores Top 100, 47% disseram que a rentabilidade ficou na média, 44% acima da média e 9%, abaixo da média. No levantamento anterior, 54% haviam relatado rentabilidade acima da média.

Diante disso, a produção por esse grupo deve aumentar num ritmo menor do que vinha crescendo, avalia Carvalho, com base nas respostas obtidas no levantamento. Questionados se pretendem expandir o rebanho nos próximos três anos, 18% disseram que não têm intenção de fazê-lo, eram 10% no levantamento anterior. Outros 41% pretendem ampliar em até 20% a produção, eram 38% um ano antes; 27% planejam ampliar de 20% a 50% (eram 35%) e 14% afirmam ter a intenção de elevar em mais de 50% (eram 17%).

Um fator que contribuirá para a expansão mais modesta é o custo de produção, que deve subir este ano em decorrência de preços mais altos de soja e milho.

Os produtores também foram questionados sobre o que consideram os três maiores desafios da atividade. O mais citado foi a mão de obra (14,2% do total), seguido pelo custo de produção (13,1%) e, em terceiro lugar, sanidade (9%). No levantamento, o preço do leite aparece em quarto como maior desafio (8,2% dos pesquisados). Na pesquisa anterior, ficara em terceiro, com 10,1% das citações.

O número de propriedades entre as 100 maiores que fazem o confinamento total do gado leiteiro cresceu em 2017 e alcançou 64%, eram 54% na pesquisa anterior. No confinamento total, não há uso de pastagem na alimentação do rebanho. Uma fatia de 14% informou utilizar sistemas de produção baseados em pastagens, enquanto 22% informaram usar sistemas mistos, isto é, com pastagem e ração.

A pesquisa mostrou ainda que a raça holandesa segue predominando nas 100 maiores propriedades de leite (em 78 delas). A raça girolando é a segunda mais utilizada (30 propriedades). Entre as 100 fazendas, 25 reportaram ter mais de uma raça no rebanho.

Um avanço de 66% e atenção ao custo

Pouco mais de dez anos depois de começar a produzir leite em Cristalina (GO), a 140 km de Brasília, o produtor Reinaldo Carlos Figueiredo já faz parte de um grupo seleto do país. No último levantamento da MilkPoint, a Fazenda Figueiredo, na qual é diretor administrativo, alcançou a 17 ª posição no ranking das 100 maiores fazendas de leite do Brasil e se destacou por ter registrado o maior crescimento absoluto da produção entre os participantes do levantamento.

A propriedade deu um salto de 16 posições entre 2016 e 2017 ao elevar a produção de leite em 66%, de acordo com o levantamento. A fazenda produziu, em média, 25.584 litros de leite por dia em 2017. No ano anterior, havia produzido 15.445 litros.

Esse crescimento expressivo se deveu à instalação de novos barracões para o confinamento dos animais no ano passado, segundo Figueiredo. Com isso, a fazenda pôde elevar o número de vacas em lactação, isto é, em produção, que subiu de 489 em 2016 para 799 no último ano.

O projeto para Cristalina prevê 2.000 vacas em lactação, mas Figueiredo diz que não há data para alcançar a meta. Ele conta que o projeto, já com essa ambição, começou a ser desenhado em 2006, quando os Figueiredo ainda eram produtores de leite em Mandaguari, no Paraná. “Sempre tive o sonho de produzir leite em Cristalina”, disse. Hoje, a propriedade paranaense não produz mais leite e tem criação de aves de postura.

Antes de tirar o projeto do plano dos sonhos, Reinaldo Figueiredo, que é veterinário, visitou 97 fazendas de leite no Brasil, Estados Unidos, Nova Zelândia, Argentina, Canadá e Chile para conhecer sistemas de produção. O objetivo era decidir qual seria o melhor modelo para Cristalina.

Na propriedade, os animais da raça holandesa são criados em sistema de confinamento. Em relação a 2017, já houve aumento do número de vacas em lactação. Hoje, são 903, com produção diária de 29.800 litros de leite, o que significa, 33 litros por vaca, em média.

Figueiredo diz que novos investimentos para ampliar a produção no curto prazo vão depender “de como será o mercado”. E o atual cenário não lhe parece muito animador. “Este ano o desafio é o custo de produção”, afirma. Ele acrescenta que o preço dos grãos usados na ração está subindo, o que eleva os custos. Ao mesmo tempo, o preço do leite está baixo, observa Figueiredo, que preside a Associação Brasileira de Criadores de Bovinos da Raça Holandesa (Assessoria de Comunicação, 23/3/18)